Pelo menos eu saí do Estado Avatar, Yangchen pensou enquanto separava as mãos. A sucção entre as palmas era um modelo para o vácuo maior que ela queria criar. Se ela morresse aqui, teria um sucessor, uma garantia melhor do que aquela que Chaisee tentou assegurar. O Avatar desfrutava de uma permanência que seres humanos normais, como a Zongdu de Jonduri, só poderiam invejar de longe.
Ela sabia o que procurar, pela prática com Yingsu. A fina faixa de vapor, os pequenos anéis que indicavam a que distância a flor seria plantada. A chave era não se distrair com o som.
Rasgue o pano. Despedace a roupa. Yangchen abriu os braços, os músculos das costas tensos. Criar uma falta, uma ausência já era bastante difícil quando ela tinha tempo. Dominadores com apenas uma compreensão básica de jing negativo pensavam que o ar não resistia. Não é verdade. O ar lutaria bastante com você.
Havia uma pulsação entre ela e Thapa, quase imperceptível. A batida de um coração invisível.
E então nada.
Os únicos sinais de um resultado eram a sujeira e os detritos formando uma pilha perfeitamente circular no meio do piso do porão, uma brisa soprando em direção a um ponto central para preencher o vazio. Yangchen e Thapa piscaram um para o outro, igualmente surpresos. A colisão entre dois dos dominadores vivos mais poderosos das Quatro Nações resultou em um gemido.
A calma de Yangchen se foi. Ela engoliu um vômito de medo, forçando a acidez da bile de volta pela garganta. Sua mente vagou incontrolavelmente por tudo o que poderia ter dado errado. Como ela não seria capaz de fazer isso de novo. Não é confiável. Não para sempre. Seus reflexos estavam no auge, eles declinariam conforme ela envelhecesse.
Mas ela teve sucesso. Ela conseguiu cercar a explosão nascente da mais pura energia positiva de Thapa com seu vazio. Ela abraçou o vazio, só que o colocou fora de si. Os ensinamentos de Laghima modificados para atender às suas necessidades.
O vazio que parecia envolver Thapa desapareceu dos seus olhos e ombros. Ele olhou para Yangchen, incrédulo e mais irritado a cada segundo que passava, como se só agora ele compreendesse sua situação. Ela conseguiu sorrir. Os pontos vão para mim.
Com um bufo furioso, Thapa respirou fundo e jogou a cabeça para a frente novamente. Desta vez sem acúmulo.
Ele não deveria ser capaz disso.
Yangchen foi salva apenas por sua tendência ao excesso de preparo. Ela fez Yingsu levar sua velocidade ao limite quando elas praticaram, porque sim. Apenas no caso de. Seu mantra. Ela esvaziou o ar novamente, uma reação instintiva nascida de surpresa e medo.
Outro relincho, o suave sopro de uma vela apagada. Yangchen e Thapa cambalearam com o esforço de usar suas técnicas mais poderosas com um estalar de dedos. O custo de travar uma guerra por nada.
Thapa balançou a cabeça e levou sua mão ao nariz. Voltou brilhando em vermelho. Com alarde, Yangchen notou que ele estava sangrando pelas orelhas também. Não foi um feito seu desta vez, não como quando ela feriu Mingyur. Thapa não era capaz de atirar de novo tão rapidamente. Não sem se destruir por dentro.
— Pare! — Yangchen gritou. — Você precisa de ajuda!
Thapa inspirou novamente, transformando o sangue em uma espuma escarlate em volta de suas narinas. Mas desta vez seu peito não conseguiu atingir o tamanho que alcançou durante as outras tentativas. Em vez de se lançar para frente, ele se virou para o lado, agarrando o pescoço como se seus caminhos não pudessem lidar com as energias que entravam ou saíam.
Uma pequena faísca incandescente explodiu sobre sua cabeça. Pop. Depois outra, e outra, como uma nuvem de vaga-lumes atacando. Pop-pop-pop-pop-pop.
Sinto muito. Ela fincou o pé no chão. O círculo do piso do porão ao redor de Thapa desapareceu, mergulhando profundamente na terra, levando-o consigo. Ela não sabia até que ponto o havia baixado antes que a terra trêmula a derrubasse, e um brilho vermelho estrondoso saísse do túnel que ela havia criado.
Pedras e torrões de terra caíram como chuva. Ela não tinha mais forças para afastá-los. Ela simplesmente fechou os olhos e deixou que a terra a atingisse. O mínimo que ela merecia.
Ela ficou lá até o bombardeio cessar, e depois por mais algum tempo. Momentos de descanso tinham que ser aproveitados quando podiam.
Eventualmente, Yangchen rolou e ficou de pé. Ela tinha um dever a cumprir. Ela se endireitou. Juntou as mãos e sussurrou uma bênção fúnebre para Thapa. A vida era sagrada. Sua perda tinha que ser reconhecida. Ela nunca deixaria de acreditar nisso.
Quando terminou, ela deu uma volta lenta, procurando uma saída. Encontrou a escada atrás dela. Com todo o salão de convocação destruído, os degraus pareciam não levar a lugar nenhum. Ela subiu pelas tábuas de madeira rangentes até chegar à rua.
Uma pequena multidão se reuniu. Os cidadãos de Taku ficaram boquiabertos com ela. Ela não sabia o quanto eles tinham testemunhado. Certamente a maioria deles teria se distraído com a mudança do salão de convocação ou permanecido afastado da área por questão de bom senso. No mínimo, os eventos não aconteceram da mesma maneira que em Bin-Er. Ela poderia culpar um espírito diferente pelo espetáculo. Seus pulmões se contraíram em uma péssima imitação de risada.
Yangchen cambaleou passando por membros da confusa multidão. Ela não se importava com o que pensavam do Avatar emergindo de um buraco coberto de terra. Eles poderiam pensar o que lhes cabia.
E isso incluía o Rei da Terra Feishan, que estava no meio de seus súditos, disfarçado em roupas de plebeu.
Sua Majestade estava furiosa. Congelado em uma raiva silenciosa. Ele veio a Taku para obter evidências em primeira mão de uma conspiração, um negócio secreto pelas suas costas que poderia ameaçar seu controle do poder.
Bem, hoje ele reuniu bastante. Nunca faltou inteligência a Feishan, e Yangchen podia afirmar que ele estava encaixando as peças em sua mente de maneira mais ou menos correta, desde os primeiros relatos de explosões no céu sobre Bin-Er. Não seria mais possível enganá-lo.
Yangchen passou pelo Rei da Terra sem reconhecimento. Eu poderia dormir, ela pensou.
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