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O Legado de Yangchen: Baixas

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Kavik sabia que se caísse, não se levantaria. Ele encontrou a medida de equilíbrio sobre seus pés e assim ficou. 

 

Atrás dele, os gritos de Tael de repente silenciaram. 

 

— Muito alto. — Ele ouviu Kalyaan murmurar — O que você está fazendo parado aí como um idiota? Nós temos que sair daqui. Agora. 

 

Kavik tentou falar, mas a ferida em sua lateral se abriu mais. Já não doía mais como um soco. Ele se virou lentamente, segurando seu corpo, piscando com a dor lancinante. O lado de fora de sua perna estava molhado de sangue. 

 

Seu irmão xingou como se eles fossem crianças de novo. Kalyaan correu para frente e o arrastou de volta para o canto escuro do beco. Seus pais estariam muito desapontados com eles. Dois garotos com um mau julgamento. 

 

E ainda assim foi o Avatar a quem Kalyaan amaldiçoou. 

 

— Espíritos levem-na. — ele rosnou — Eu sabia que algo assim aconteceria. Aguente firme. Eu preciso mover você. Isto vai doer. — ele grunhiu enquanto levantava Kavik em seus ombros.

 

— Me desculpe. — disse Kalyaan — Nós temos que… Eu preciso achar um lugar para te tratar. Algum lugar seguro e limpo. — Mas não em público, foi a parte não dita. 

 

Ele correu, empurrando a ferida, e Kavik mordeu a própria mão para abafar seu grito. Seu sangue escorria pelas costas de seu irmão. 

 

Eles viajaram assim através de uma nevasca uma vez, ligados um ao outro pela fraqueza de Kavik. Isso foi há muito tempo atrás e ele era muito maior agora, a força de Kalyaan ainda prevalecia. O chão voou sob os pés de seu irmão mais velho. 

 

Uma das casas perto do parque devia ser um local adequado, pois Kalyaan logo parou. Ele chutou a porta até o trinco quebrar e forçou passagem, tomando cuidado para não bater a cabeça de Kavik contra o batente. O ar lá dentro era pungente e amargo, e através de olhos lacrimejantes, Kavik viu frascos de medicamentos empilhados contra a parede. Uma cortina de contas separava o pequeno quarto dos fundos. Kalyaan encontrou a área de espera de um boticário. 

 

Ele deitou Kavik em um banco. 

 

— Você vai ficar bem. — disse Kalyaan, acariciando seu cabelo com a mão ensanguentada, fazendo o possível para soar totalmente no controle. Esse era o problema de irmãos mais velhos. Eles estavam cheios disso e inventavam tudo à medida que avançavam, como pessoas normais. — Eu vou achar curativos e água limpa, e vou te curar. 

 

— Nós temos bastante de ambos. — disse uma voz familiar.

 

Akuudan veio de fora e fechou a porta atrás de si.  Ele plantou os pés na saída, uma barreira humana intransponível. Tayagum passou pelas contas penduradas. O cruel sorriso apertado era tudo menos um sorriso de vitória. 

 

— Olá — ele disse a Kalyaan — Me disseram que você sabe quem nós somos. 

 


 

Kavik queria gritar um aviso. Seu irmão era perigoso. Tayagum e Akuudan também eram, sim, mas eles eram mais velhos do que Kalyaan e seus dias de luta haviam acabado. Eles eram suporte, suprimento. Estalajadeiros. Antes que ele pudesse falar, os braços de Kalyaan chicotearam, um afiado brilho aquoso apontava para suas gargantas. 

 

Akuudan e Tayagum reagiram mais rápido do que suas idades, mas rápido do que seus tamanhos, mais rápido do que qualquer um que Kavik já tenha visto, fora o Avatar. E de repente suas histórias se alinharam com o presente. Eles eram antigos contramestres da Tribo da Água, escolhidos para proteger um baú de platina em meio ao exército estrangeiro. Eles teriam que ter sido alguns dos melhores lutadores corpo-a-corpo de toda a Tribo da Água.

 

Tayagum não apenas desviou da água que Kalyaan enviou para ele, mas aumentou sua velocidade, arremessando-a no teto atrás dele com tanta força que um buraco se abriu na madeira. Ele queria que a arma desaparecesse, recusou-se a cair no padrão de combate vaivém entre Dominadores de Água. Akuudan jogou Kalyaan na parede com um escudo claro de gelo que se estendia de seu ombro vazio.

 

Akuudan também é um Dominador de Água. Vivendo com eles, todos os seus comportamentos fizeram parecer que apenas Tayagum podia dobrar. Eles mantiveram esta surpresa escondida o tempo todo de Kavik, para caso eles precisassem de uma vantagem. Eles nunca confiaram totalmente nele. Desde o dia em que se conheceram. 

 

Akuudan transformou seu escudo em um casulo líquido em torno de Kalyaan antes de Tayagum arrancar a água, revelando uma série de amarrações de couro cru enroladas em Kalyaan como bolas. As restrições devem ter sido escondidas no gelo. 

 

Quando o couro cru perdeu a umidade, ele encolheu e se tornou rígido como madeira.  Tayagum secou as amarras com uma proeza que teria deixado a Lótus Branca orgulhosa. Os membros de Kalyaan estavam amarrados com força. Ele tombou de costas contra a parede para não cair como um verme. Ele não conseguia mais dobrar. 

 

Akuudan se afastou dele e arrastou-se para checar Kavik. O braço rodopiante de água que se estendia de seu corpo voltou para sua fonte oculta.

 

— Pegamos ele? — ele perguntou ao seu marido. 

 

Tayagum agachou-se sobre a forma caída de Kalyaan e confirmou.

 

— Nós o pegamos. 

 

Kavik engoliu a mancha fresca de dor em seu abdômen.

 

— Eu preciso de ajuda. — ele sussurrou. As paredes cruas de seus músculos abrasavam uma contra a outra — Junjinta… Ele saiu do plano. 

 

— Não, ele não saiu. — disse Akuudan — Por que você acha que estávamos aqui esperando por você? 

 

Por um breve momento Kalyaan se debateu, testando suas amarras. Ele entendeu algo sombrio. 

 

— Vamos lá, companheiros — disse ele, esforçando-se para manter a compostura — Nós realmente estamos fazendo isto? Meu irmão está ferido. Ele está sangrando. 

 

— Shh. — disse Akuudam.

 

Sua mão pairou sobre Kavik, uma criatura ameaçadora emergiu de sua manga comprida. Havia pouca luz no cômodo. Kavik mal podia ver seu irmão. 

 

— Você sabe o que queremos.  — Tayagum disse a Kalyaan.

 

Kalyaan balançou o pescoço como se nenhum pedido pudesse ser mais irracional agora.

 

— Vocês não precisam fazer isso. — disse ele — Vocês venceram. Vocês me pegaram.

 

— Nós não vencemos. — disse Tayagum — Existe uma grande diferença entre manter um prisioneiro e fazê-lo falar. Você ensinou ao Avatar essa lição muito bem, e nós dois, bem, nós sabemos disso há muito tempo. Fez uma passagem pelas piores celas do Rei Feishan e os interrogatórios pelos quais passamos? A história por si só deixaria seu cabelo branco. — Sua carranca continha uma pitada de orgulho.  — Ainda assim, nenhum de nós jamais rachou. Eu estou esperando que você não seja tão difícil. Esta é sua última chance de falar. Localização de Thapa. O plano de ataque de Chaisee. Nos dê as boas.

 

Nenhuma resposta.

 

— Nem uma migalha, hein? — Akuudan suspirou — Tudo bem. Se é assim que você quer jogar. — Ele fez questão de examinar Kavik de um ângulo, então de outro. Sua testa franzida em diagnóstico. — Me deixe ver quão ruim essa ferida é. —Ele apertou a mão, sólida como um nó de árvore, sobre a lateral de Kavik.

 

A explosão em seu núcleo tirou o fôlego de Kavik. Um carmesim profundo brotou entre os dedos de Akuudan. O gemido choroso que escapou dos lábios de Kavik não fez jus à agonia.

 

— Hmm, o sangue está escuro — meditou Akuudan — Não é um bom sinal.

 

— O que você está fazendo? — gritou Kalyaan — Ele é seu companheiro de equipe!

 

— Ele é? — disse Tayagum calmamente — Pela nossa perspectiva, ele já nos traiu uma vez. O pequeno arminho-doninha está sempre correndo por aí, fugindo para se encontrar com pessoas que não conhecemos. Parece-me que vocês dois poderiam estar planejando escapar de Taku juntos.

 

— Não! — implorou Kavik — Eu não estava tentando escaaAGHHHH!

 

Akuudan espremeu novamente. Desta vez, Kavik teve bastante ar, o suficiente para uivar e lamentar de uma maneira que ele achava que nunca mais faria depois de uma certa idade, como se a dor fosse uma trilha a ser superada. Seu kuspuk tornou-se vermelho.

 

Kalyaan tentou levantar-se, mas o homem mais velho o pegou e o jogou de volta a parede. 

 

— O Avatar! — Kavik ofegou, agarrando-se a qualquer palavra que pudesse salvá-lo. — Ela nunca deixaria vocês fazerem isso!

 

— Quem disse que ela sabe o que está acontecendo agora?  — disse Tayagum — Coisas loucas acontecem durante as missões. Coisas do calor da batalha.

 

— Ah, aposto que ela pode adivinhar. —disse Akuudan. — Você viu o olhar que ela nos deu, quando nos ordenou que conseguíssemos a informação a qualquer custo. Ela sabe no que isso implica. E se ela é como eu, ela está cansada… desta miserável…  podre… família. A cada pausa, ele torcia a mão para frente e para trás, cravando-se mais fundo no flanco de Kavik.

 

Kavik convulsionou e bateu a parte de trás do crânio contra o banco, quase com força suficiente para nocautear-se.

 

— Eu não sei onde Thapa está! — ele ouviu seu irmão gritar —Chaisee manteve a localização dele em segredo! Ela não me confiou as etapas finais do plano! 

 

Então, de que vocês nos servem?  — Tayagum rugiu em seu rosto. 

 

O colapso de Kalyaan foi final.

 

— Por favor — ele implorou — Eu sei o sinal para Thapa atacar o salão de convocação. Ele se movimenta com um comando específico. Três batidas de gongo na hora errada.

 

— Vamos lá, isso parece valer a vida do seu irmão? Quanto tempo entre o sinal e o ataque? Qual é a rota de fuga dele? Nos dê mais.

 

— Eu não tenho mais nada! — gritou Kalyaan — Eu juro!

 

— Nada bom. — disse Tayagum. — Mas isso vai ter que servir. — Ele olhou por cima do ombro e gritou. — Você ouviu?

 

— Eu ouvi. — A voz de Junjita era inconfundível por trás da cortina de contas. — Vou entregar a mensagem a ela. — Seus passos foram ficaram distantes conforme Junjita ia embora. 

 

Akuudan enfiou a mão embaixo do banco e começou a transpassar rolos de bandagem no peito de Kavik, a vermelhidão já se infiltrava nas bordas do tecido. 

 

— Estou com inveja, — disse ele. — Seu irmão escolheu você em vez da missão. Acho que realmente não há vínculo mais forte do que a família.

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Capítulo 31