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O Legado de Yangchen: Adoração

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— Você só ganha no fica-longe porque é maior, — disse Yangchen. Ela continuou estática, sem pegar a bola de ar que estava a seu alcance.

 

Jetsun esticou a esfera de vime perto da cara de Yangchen.

 

— Realmente. Boa desculpa para nunca aprender.

 

— Não tem como aprender a ser maior! E não é justo se você sempre começa com a bola! A gente nunca troca de posição!

 

A bola de ar cresceu e a lua ameaçou mergulhar no oceano. 

 

— Vamos lá —  disse Jetsun. — Faça alguma coisa.

 

No momento em que Yangchen se mexesse, ela faria um movimento qualquer e Jetsun iria reagir mais rápido que as asas de um beija-flor libélula, ver suas intenções e recuar o suficiente para fazê-la achar que ainda tinha uma chance.

 

— Não. Não desta vez. Jing neutro.

 

Bwomp —  disse Jetsun, esticando a bola levemente contra a ponta do nariz de Yangchen.

 

Isso foi a gota d’água. Yangchen fechou os olhos. Jetsun não saberia para qual lado ela iria se ela mesma também não soubesse. Investiu cegamente, debatendo seus braços aleatoriamente, e só abriu os olhos de novo quando envolveu suas mãos em volta do prêmio e o tirou do aperto de sua irmã com sucesso.

 

— Há! Come poeira-

 

Ao invés da bola de ar, Yangchen estava segurando uma luz pulsante, suas mãos perdidas nas bordas indefinidas. Jetsun estava a alguns passos de distância, parada como um cadáver. Os olhos da acólita estavam vazios e sem reflexos, ancorados na distância atrás de Yangchen. Seus lábios estavam azuis. Ela havia rasgado o espírito de Jetsun de seu corpo. Sem acusações, nenhuma voz lhe disse, mas ela sabia sem sombras de dúvidas.

 

Tentou devolver. O primeiro instinto de uma criança que matou um besouro por diversão mas depois se arrependeu. Ela empurrou a luz na direção de Jetsun. Aqui. Sua vez. Queimei a largada. Me desculpe. Não foi minha intenção.

 

Mas machucados não podiam ser desfeitos. Nenhuma cura voltava no tempo. Ao mesmo tempo que Yangchen avançava, Jetsun se afastava, flutuando sempre fora de seu alcance, sem se mover mais que o necessário para confirmar o crime cometido por Yangchen. 

 

Pegue de volta. Por favor, pegue de volta. Yangchen não estava mais implorando a Jetsun, mas também aos espíritos, as Quatro Nações, ao universo. Por favor. Faço qualquer coisa.

 

Enquanto Yangchen a perseguia, seus pés batendo contra o vazio, molas de névoa cercaram Jetsun, como se sua irmã estivesse sendo tecida por uma mosca-aranha, um corpo revestido de neblina. Somente quando a boca de Jetsun estava quase sendo coberta, ela separou os lábios e disse:

 

Aagh!

 

Yangchen acordou com um pulo, sua cabeça se levantou apressadamente da mesa. Um papel subiu com ela, já que a saliva havia grudado o documento à sua bochecha. Ela passou a mão em seu rosto, pensando brevemente que estava sendo atacada, vítima de algum tipo de tática de controle, até recuperar sua base. 

 

O frio foi o primeiro sinal e o painel de madeira apertado e ventilado, o segundo. Ela estava no pequeno cômodo no primeiro andar do salão de reuniões de Bin-Er, que havia comandado como gabinete. Yangchen esfregou os olhos. Esse lugar se tornaria seu túmulo.

 

Jetsun. Presente, mas não aqui. De todas as vidas que poderiam assombrar os sonhos de Yangchen, tinha que ser ela. A sua presença deve ter sido um sonho, não uma memória, já que nele elas tinham a mesma idade. Estou chegando lá, Yangchen pensou.

 

O sonho foi suficientemente preciso. De um jeito ou de outro, ela foi responsável pela morte de Jetsun e o rompimento de seu espírito. A versão mais nova dela, a versão atual dela, não importava. A morte de Jetsun era sua culpa. 

 

Ouviu uma batida na porta. 

 

— Antes você estava atrasada. — Boma disse do outro lado. — Agora você está muito atrasada.

 

— Como assim antes? — Seu guardião geralmente a amenizava nas manhãs.

 

Ela ouviu Boma grunhir, o som de um suspiro começando.

 

— Você pediu mais alguns minutos. Eu saí e voltei. Os shangs estão esperando. — Ele abaixou a voz. — O inspetor também.

 

Yangchen não se lembrava dessa conversa. Ela deveria estar sonâmbula. Ela trabalhou durante a noite acima do cômodo onde seria a reunião, tirou um cochilo em cima dos documentos e mesmo assim estava atrasada. 

 

— Onde está meu cajado?

 

— Você deixou perto da sua cadeira lá embaixo.

 

Uma herança importante, parada e esquecida lá, para todos verem. Ela se xingou. Você é uma bagunça. Se ajeite.

 

Ela se embaralhou para se arrumar da melhor forma que conseguiu, juntando seu cabelo e se olhando em um espelho, para ter certeza que não tinha tinta no rosto. Relutantemente, ela tirou o cobertor de seus ombros. Não podia ser vista se apegando a comodidades.

 

Força, ela disse a si mesma. Controle. Não se preocupe com o fato de estar deixando sua irmã para trás.

 

Yangchen se juntou a Boma do lado de fora de seu gabinete, ele a seguiu pelas escadas em espiral para o térreo. O cômodo principal estava bloqueado por portas duplas, então ela as empurrou com pressão do ar. O gesto foi mais dramático do que ela queria, fazendo sua chegada ser anunciada por um vendaval. Papéis soltos voaram pelos corredores. Arquejos surgiram das cadeiras.

 

Antes que Boma pudesse dizer alguma coisa, as pessoas esperando por ela no grande salão se levantaram.

 

— A Avatar. — Ele declarou, tentando anunciá-la.

 

Os shangs de Bin-Er. O seleto grupo de comerciantes que controlavam o fluxo de negócios internacionais da, e para, a cidade. 

 

— Desculpe pelo atraso. — Yangchen disse para a assembleia.

 

— Não precisa pedir desculpa, senhora Avatar. — respondeu Shang Teiin, um dos representantes mais veteranos. — Sua presença é uma dádiva, não importa as circunstâncias. 

 

Ao seu lado, uma mulher com brincos feitos de pérolas do tamanho de uvas abaixou sua cabeça. As jóias balançantes apontaram para o chão enquanto ela se curvava.

 

— Estamos prontos… estamos entusiasmados para discutir a próxima fase de suas propostas. — Disse Noehi, que antigamente se divertia zombando de Yangchen, quando achava que não seria punida.

 

Metade de um ano gerou uma mudança visível na atitude entre os homens e mulheres poderosos que originalmente lutaram contra seus esforços de ajudar Bin-Er empobrecida. Com medo de ser envolvida no desastre que incentivou três Dobradores de Fogo incrivelmente poderosos a causarem danos na cidade, eles perceberam a sabedoria de se aliar com Yangchen. Se eles não conseguissem dançar em sintonia, os comerciantes perderiam suas cabeças por traição contra o Rei da Terra. E Yangchen se tornaria um dos maiores fracassos na história de Avatares – uma história que ela lembrava com detalhes excruciantes.

 

— Podemos começar? — Noehi perguntou. Seu olhar apontou para a cadeira vazia de Yangchen, no topo do estrado central, e depois para o homem atrás dele, na mesa do tabelião que estava ligeiramente ao lado. Ele era um funcionário atarracado de Ba Sing Se e seu pincel se movia mais rápido que os dedos de um  exímio músico. Os lábios de Noehi se contraíram de medo quando ele desviou o olhar de seu bloco de papéis e fez contato visual com ela. 

 

Pelo amor dos espíritos, não olhe para ele assim, Yangchen pensou. Você já está sendo suspeita.

 

O inspetor Gu observou silenciosamente enquanto Yangchen se sentava em sua cadeira-trono. Ela conseguia sentir sua presença ao seu lado, uma criatura faminta, sugando informações para levar ao Rei da Terra. 

 

— Sim, vamos. — Ela disse. Percebeu seu cajado planador apoiado contra os braços da cadeira, exatamente onde Boma disse, como um talo de trigo solitário. — Eu adoraria um chá também.

 

Um dos assistentes dos shangs saiu apressado para pegar refrescos. A reunião começou de verdade. Além de precisar manter o segredo dos Dobradores de Fogo demolidores de equilíbrio longe dos ouvidos do Rei da Terra, Yangchen e os comerciantes também estavam sendo observados, para manter o negócio habitual fluindo pela cidade.

 

Até agora, eles tiveram sucesso. Já que a Avatar estava presente para verificar as piores operações dos shangs, Bin-Er estava melhorando sua reputação e se tornando um lugar conhecido por ter um negócio justo. A população estava crescendo mais rápido do que o antecipado. 

 

Yangchen segurou os números que ela passou a noite preparando. 

 

— Baseada nas minhas contas recentes, a cidade precisa de, pelo menos, quatro fontes novas ou então a doença vai se tornar um perigo iminente… — Ela parou, levando em conta Gu atrás de si. — para a prosperidade. Uma praga, acelerada pela falta de água potável, com certeza danificaria os fluxos de rendimento. 

 

Ela repudiava a forma como precisava dizer as coisas, em termos de perda e ganho de riqueza, para recorrer a seu público. Mas a eficiência no estilo Szeto foi o que prometera. Ela precisava cumprir. 

 

Shang Teiin se levantou para responder. Ele ajustou o gorro pesado em sua cabeça, um reflexo de sua idade e do frio. O ponto de ouro costurado em seu topo o fazia parecer uma vela. Yangchen engoliu a pontada de inveja pelo casaco de pêlos grosso que o abraçava. O buraco que ela havia aberto na parte lateral do edifício fora fechado com tijolos, mas uma brisa ainda passava por entre as rachaduras. 

 

 — Essas medidas são sensatas, realmente. — Teiin disse. — Mas são uma despesa não planejada. Dobradores especialistas que conseguem alcançar o lençol freático sem prejudicar a cidade acima não vão ser baratos. 

Essa cidade é feita de dinheiro, seu pão-duro. Apesar de se desdobrarem para trabalhar lado a lado com a Avatar, os shangs ainda achavam meios de procrastinar.

 

Se está recusando, pode dizer logo. — disse Yangchen.

 

Noehi assumiu por Teiin. 

 

— Não é que estamos recusando. — ela disse. — É só que estamos um pouco… sobrecarregados. — A vergonha estampada em seu rosto mostrou a Yangchen que ela não estava mentindo. — Uma grande porção de nossos fundos ficaram presos em acordos e empréstimos com Zongdu Henshe. Ele ainda não apareceu.

 

Isso porque Zongdu Henshe estava, atualmente, preso na cadeia improvisada do Templo do Ar do Norte, sequestrado de seu mundo por ordens de Yangchen. Se Henshe fosse libertado, ele venderia o segredo dos Dobradores de Fogo a melhor proposta, assim que pudesse. 

 

— Henshe era o centro de uma rede de promessas. — Noehi continuou. — Em sua ausência, as linhas colapsaram. Nossas dívidas pendentes com Taku, Port Tuugaq e Jonduri são bastante substanciais. Nós realmente não temos dinheiro para custear outro projeto.

 

Yangchen apertou seu nariz  para que não rolasse de tanto rir. Os shangs de Bin-Er deviam dinheiro a seus colegas, como um viciado em apostas. Por que não? Eles fizeram negócios além de seus recursos, pensando que estavam protegidos. E agora, as pessoas não teriam água.

 

Os assistentes voltaram com chá. Foi servido no estilo Yunoi, na mesma tigela de cerâmica grande que o pó foi batido. Yangchen começou a beber, mexendo o líquido verde de novo e de novo. 

 

Teiin ficou desconfortável com seu silêncio. 

 

— Avatar, talvez possamos adiar as fontes. Esse problema pode se resolver sozinho, ou então vamos ter um…

 

— Me deu seu gorro. — Yangchen disse. 

 

— Como é?

 

Ela tirou os olhos de sua tigela.

 

— Eu disse, me dê seu gorro.

 

O pincel do inspetor Gu parou de se mexer, um acontecimento surpreendente. Teiin olhou sobre seus ombros, para alguma outra versão de si que ela poderia estar falando. 

 

— Você está com frio Avatar? Podemos acender um braseiro.

 

Os shangs atrás dele não fizeram nenhum barulho. Mantiveram suas bocas fechadas, confusos e com medo.

 

— Senhor Teiin, — Yangchen disse, falando alto o suficiente para ser ouvida por todo o salão. — venha aqui, tire seu gorro e me dê ele.

 

Faça ou vou trazer uma ruína mútua a todos nós. Essa era a declaração silenciosa que estava no final de todas as frases hoje em dia. A Avatar era louca a ponto de abalar a performance delicada que eles criaram por um item tão trivial, para provar um ponto?

 

Ele não poderia se arriscar. Teiin tirou seu gorro e o empurrou a frente, devagar, como se estivesse preso em uma saudação. 

 

— Não quis desrespeitá-la cobrindo minha cabeça em sua presença-

 

— Shh. — Yangchen pegou o gorro dele e o colocou em seu colo antes que ele o torcesse entre suas mãos ossudas e arruinasse o formato. Para completar seu plano, ela virou para Noehi. — Senhora. Tire seus brincos. Me dê eles. Agora. 

 

As mãos de Noehi subiram para suas orelhas. Na pressa, ela machucou a si mesma e se encolheu. Quando a jóia foi removida, ela a levou ao estrado. Por impulso, Yangchen terminou seu chá em um gole e ofereceu sua tigela, que ainda estava com borras úmidas. Noehi exitou antes de colocar suas pérolas no recipiente. Elas fizeram um ruído oco contra a superfície esmaltada, como o barulho dos dados de um apostador.

 

Yangchen balançou as pérolas, as esferas gêmeas pareciam estar se perseguindo como as carpas do Oásis Espiritual do Norte. De alguma forma, ela estava sentada para um retrato agora. Inspetor Gu, o Rei da Terra e, portanto, as Quatro Nações estavam observando. 

 

Até agora, a mensagem era clara.

 

— Você… faria nós vendermos nossos pertences para cobrir os custos das fontes, — disse Teiin. Você está nos chantageando ainda mais.

 

Estou. Yangchen poderia deixar por isso mesmo, exercitando seu poder com outra palavra. Dentro de quartos vazios e janelas fechadas, ela falava a si mesma que odiava chegar nesse ponto. Mas até quando ela poderia declarar que repudiava as regras do jogo se ela continuava a jogar?

 

Ela balançou as pérolas. Pareciam os conteúdos de uma tigela de pedinte, usados para coletar esmolas para sobreviver. Um equipamento útil e poético. 

 

— Riqueza. — ela disse, começando lentamente. — Patrimônios. Bagagem, fardos, sentimentos, expectativas. Nos apoiamos em pesos, com medo de sermos livres. — Yangchen balançou a tigela de chá da mesma forma que seus irmãos e irmãs fariam nas ruas de uma cidade que eles nunca visitaram, onde eles não tinham nenhum amigo local para recorrer e nenhum anfitrião voluntário estaria disponível. Alguns shangs riram hesitantemente. 

 

— Recuar e presumir que problemas vão se resolver sozinhos sempre é tentador. — Yangchen disse. — Mas eu te digo agora, não há mais ninguém para esperar. Somos nós que devemos agir.

 

Uma investida não solicitada de altruísmo dos shangs, na magnitude que ela precisava para pagar as fontes, poderia alertar Gu de que um acordo suspeito estava acontecendo. Ela precisava criar uma história que cobriria seus rastros e encaixaria a imagem de uma líder que recorria somente para a integridade das pessoas.

 

Yangchen esticou seu braço e pegou seu cajado, que a esperava pacientemente na cadeira. Dobradores de Ar faziam seus próprios planadores ou então os ganhavam de presente amigos íntimos. Jetsun havia feito este para ela. Yangchen havia reclamado que ele era muito grande e difícil de empunhar no começo, mas ela cresceu junto de seu comprimento perfeitamente, como se sua irmã tivesse previsto o futuro. 

 

Ela jogou seu cajado a seus pés, deixando-o bater no chão propositalmente, um barulho bruto e grosseiro.

 

— Vou vender meu cajado para ajudar a obter o dinheiro que precisamos. — ela disse. — Com certeza ele tem valor, por ser uma relíquia.

 

Outro arquejo ecoou pelo cômodo. Os pertences do Avatar deveriam ficar em templos e santuários das Quatro Nações, ou pelos menos nos quartos de tesouro de oficiais. Penhorar suas regalias não era algo que Yangchen poderia fazer.

 

Ela viu o horror nos olhos de Boma do outro lado da ala.

 

— Senhor Teiin, Senhora Noehi, — Yangchen disse. — Vocês podem pegar suas coisas de volta. Não posso obrigá-los a participar.

 

É claro que eu posso obrigá-los a participar. Não só a ameaça dos Dobradores de Fogo continuava pairando, mas, assim como em Pai Sho, começar um jogo liderando fazia diferença. Recusar algo para o Avatar exige ações, arrancando de volta as recompensas de onde estavam. Que monstro tiraria algo da tigela de uma Nômade do Ar suplicante?

 

As demandas indelicadas de Yangchen aconteceram a alguns minutos atrás, uma história antiga e esquecida. Teiin entendeu rapidamente a dinâmica.

 

— Há um problema, Avatar. — ele disse. Deixou sua carranca perdurar por tempo suficiente para que se transformasse em um sorriso bondoso e enrugado, e  que pudesse ser notado por Gu. — Você precisará de mais coisas, além do meu gorro.

 

O idoso era um bom ator quando precisava ser. Ele tirou seu casaco de pêlos e os colocou em um montinho, ao lado do cajado de Yangchen. Noehi prosseguiu, colocando as mãos na nuca para desfazer o fecho do pingente, mas seu cotovelo foi empurrado por outro shang apressando-se a frente com uma bolsa pesada o bastante para deixar um cavalo-avestruz inconsciente. 

 

Uma onda de objetos de valor se amontoou na frente do estrado enquanto sua plateia encontrava bondade no coração. Alguns dos mercadores nem entenderam o significado do plano, mas estavam imitando o grupo. Alguns estavam genuinamente motivados. Yangchen observou a assistente que havia trazido seu chá, parada na parte de trás, seus olhos brilhando enquanto ela era testemunha da proeza da Avatar. 

 

Yangchen desviou os olhos antes que se sentisse pior do que já estava.

 


 

— Grande comoção lá no salão. — disse o inspetor Gu. 

 

O homem rechonchudo e de rosto suave andava ao seu lado no corredor, confidencialmente, assim como Zongdu Henshe havia feito. Dessa vez, ela quem estava ligada a cidade, quase como uma especialista, e Gu era seu visitante. 

 

— Não acho que você sofrerá essa perda por muito tempo. — ele disse. — Tenho certeza de que quem comprar seu cajado o presenteará de volta a você. Esse ato lhe daria muito mérito espiritual.

 

— Não. Eu disse que faria isso, e vou fazer. — Toda sua moral quando chegou em Bin-Er era de que a nobreza poderia viver com menos. Se ela escapasse por uma brecha, os shangs com certeza fariam a mesma coisa.

 

Além do mais, a assistente viu sua promessa. Ela contaria a história a seus amigos, da Avatar que abaixou suas asas pelo bem da população, e daí para frente a história se espalharia. Yangchen não poderia manchar suas próprias ações voando sobre os habitantes da cidade como se sua palavra não significasse nada. 

 

Gu parecia surpreso que ela não estava escolhendo a saída mais fácil. 

 

— Não vai ser inconveniente?

 

— O propósito da vida não é a conveniência!

 

Sua voz ecoou no corredor como a bronca de um professor que foi forçado a repetir a mesma aula de novo e de novo. Mas ela nunca havia falado isso à Gu antes. A última vez que ela repreendeu alguém com a vida regida por conveniência, foi uma pessoa que ela considerava amigo. Um verdadeiro companheiro do Avatar.

 

Yangchen esfregou sua testa com as costas da mão. Quanto menos ela pensasse em Kavik e seu papel na criação dessa bagunça, melhor.

 

— Desculpe. — ela disse ao inspetor quando chegaram na saída do lado do salão de reuniões ao invés do gramado principal. Ela tentou fazer suas entradas e saídas serem as mais discretas possíveis. — São muitas demandas da cidade.

 

Ela não tinha certeza o quanto Gu e o Rei da Terra acreditavam em suas mentiras, de disfarçar a destruição de Bin-Er como o trabalho de espíritos bravos e, portanto, problemas de Avatar. Recordações recentes ajudavam suas mentiras. Ela não imaginava que o desastre de Tienhaishi teria um lado positivo.

 

Gu disse algo enquanto ela abria caminho com suas mãos, dessa vez, mas sua resposta foi afogada por uma onda de barulho, como uma tensão repentinamente dispensada como uma corda de arco se soltando. As vozes aglomeradas os atingiu de forma forte o suficiente, fazendo o inspetor e Yangchen recuarem.

 

— AVATAR! AVATAR!

 

Alguém deve ter informado que ela estava na cidade. Porque a maior multidão que ela já viu em Bin-Er a esperava do lado de fora do edifício, por um vislumbre da ponte entre humanos e espíritos. Recém chegados da cidade misturados com seguidores leais, de todas as Quatro Nações. Um plantio de cabeças descobertas, crescendo ao longo da rua, até onde ela conseguia enxergar.

 

Yangchen piscou para as ovações estrondosas. Há quanto tempo ela estava ali? Ela estava presa por seus deveres no salão de reuniões pela maior parte do dia anterior. Os cidadãos resistiram à noite fria só para vê-la saindo?

 

Ela levantou sua mão, devagar e fraca. Por favor. Já chega. Preciso passar.

 

A multidão entendeu seu gesto como uma benção. Eles surtaram, aumentando suas vozes pela mulher que havia silenciado os terrores no céu, alguns meses atrás. Eles choraram de alegria pela Nômade do Ar que ficou na cidade e trouxe com ela os benefícios da alimentação, cura e cuidado. Avatar. Avatar. Avatar.

 

— A cidade te adora demasiadamente. — gritou o inspetor Gu.

 

Era tarde demais para correr para dentro e sair pelo outro lado. 

 

— Isso é… só uma demonstração de respeito.

 

Gu não parecia convencido, já que eles mal conseguiam se ouvir.

 

— Sou velho o suficiente para lembrar do Avatar Szeto, e ele era bem respeitado. Isso é outra coisa. Devoção, talvez. Crença na Avatar Yangchen, que pode curar qualquer mal.

 

— Injustificado.

 

Como um informante formal do Rei da Terra, observações eram as jóias que Gu fornecia para seu senhor. Para conseguir o melhor produto, ele cutucou seu desconforto.

 

— Talvez não tanto quanto você pensa. Você reprimiu a agitação espiritual  dos céus, melhorou o destino dos cidadãos comuns e triplicou os negócios de Bin-Er. — ele disse, como se duas dessas façanhas não tivessem sido reações desenfreadas a uma circunstância. — Não sei como você mantém tantas vitórias.

 

Os rugidos aumentaram. Yangchen poderia ter confessado em voz alta e ele não teria ouvido. Não posso, inspetor, ela queria dizer. Meu segredo é que não posso.

 

O dinheiro, a paz, os Dobradores de Fogo escondidos no fundo das montanhas. Seu sucesso era baseado em mentiras. Bin-Er estava crescendo mais do que ela conseguia controlar, com seus problemas prorrogados mas não resolvidos. Cedo ou tarde, ela seria descoberta como uma fraude, e tudo isso cairia por terra. 

 

Gu gritou alguma coisa sobre ficar e voltar para dentro. Yangchen tentou seguir em frente, esperando furar as linhas da frente e que o exército concedesse espaço o suficiente para que ela passasse. Mas a multidão não mostrou sinais de separação e só aumentou seu frenesi enquanto ela se aproximava. Eles teriam seu momento com a Avatar.

 

Yangchen fez o melhor para forçar um sorriso e não parecer que estava presa.

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Capítulo 2