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O Legado de Yangchen: A Proposta

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Yangchen encontrou Chaisee no quarto onde haviam jogado sua fatídica partida de Sparrowbones. A Zongdu de Jonduri circulava preguiçosamente pelas paredes, aproximando o nariz do trabalho em pergaminho, examinando os selos dos artistas. —Estou tentando determinar os falsos dos autênticos — explicou, antes que Yangchen pudesse perguntar o que ela estava fazendo. —Estes agora são meus, ou em breve se tornarão.

 

— Houve um acordo feito às minhas costas?

 

— Sim. Eu assumi um pedaço das dívidas pessoais de Iwashi, extraoficialmente. Acontece que ele não tem muita liquidez, e só se pode roubar até certo ponto dos cofres de Taku.

 

De alguma forma, Yangchen não ficou surpresa que Iwashi acabou da mesma forma que os shangs de Bin-Er. Exatamente tão rico quanto outros estavam dispostos a tratá-lo.

 

— Tenho a você e ao Mestre Lio a agradecer — disse Chaisee. —Você dois não precisavam ter sido tão duros com ele. Sua habilidade e impiedade o empurraram direto para os meus braços.

 

— Você sempre parece sair por cima, não importa o cenário. — Se Yangchen se lembrava corretamente, a linha de pontuação de Chaisee após o jogo havia sido de equilíbrio. Oficialmente, ela não devia nada e nada lhe deviam. Mas, em vez de perseguir ganhos no papel, ela explorou o buraco que Iwashi cavou para si mesmo e fechou o acordo pelos bastidores. —Admito, você é melhor do que eu.

 

Chaisee franziu os lábios.

 

— Não entendo. Melhor em quê? Nos negócios? Somos parceiras nos negócios, amigas e iguais.

 

Yangchen queria mais do que tudo falar claramente, pelo menos uma vez, parar de fingir e cortar a cortina de mentiras. Conseguir que Chaisee admitisse que o jogo estava acontecendo poderia ter sido a única vitória restante para ela, patética como era.

 

— Em manipular pessoas. Informações. Podemos parar com a atuação? Ou vamos nos rodear para sempre?

 

Mas Chaisee e sua disciplina de ferro não cederiam nem um centímetro sequer.

 

— Você parece acreditar que estamos em desacordo. E pior, imaginou que seu orgulho está em jogo. Avatar, se há uma coisa que aprendi ao longo dos anos, é que você nunca deve trazer seu orgulho para a mesa. Engula seu orgulho a cada turno. — Chaisee inclinou a cabeça de um lado para o outro.

 

— Alguns conselhos úteis para uma jovem a quem respeito muito e vejo — perdoe a presunção — quase como uma irmãzinha.

 

Yangchen estendeu o braço. Uma lufada de vento estalou as portas para a varanda abertas, quebrando o trinco. As molduras de madeira bateram contra as paredes.

 

Chaisee não se assustou nem um pouco.

 

— Eu disse que queria ar fresco. — Ela caminhou até a grade e apoiou as mãos nela, respirando fundo o suficiente para ser ouvida dentro do quarto. Yangchen levou a lição a sério, engoliu seu orgulho e juntou-se a ela.

 

O tempo, e mais importante, quanto dele se tinha, poderia mudar o formato de uma cidade. A vista de Taku se impunha como uma ameaça, cada bloco de apartamentos uma parte hostil, cada janela aberta um portal pelo qual Thapa poderia entregar aniquilação. E essa era apenas a vista deste lado. Yangchen virou-se de costas para a grade e olhou para cima. A torre do salão de convocações bloqueava grande parte do céu, e através dos arcos ela podia ver o grande gongo da cidade, o bronze capturando o fogo do sol.

 

—Não acho justo — disse Chaisee, do nada. — A Avataridade. Nunca me pareceu justa.

 

Yangchen já havia ouvido essa reclamação inúmeras vezes em todas as vidas que conseguia lembrar. Sussurros de alunos invejosos em escolas de dobra, as reações atônitas de sábios que nunca haviam entrado no Mundo Espiritual. O Avatar era adorado pelas Quatro Nações, assim dizia o refrão. O Avatar era especial. —Você está certa; o privilégio de dobrar mais de um elemento é indescritível — disse Yangchen secamente. —Fui uma ingrata.

 

Mas Chaisee a surpreendeu mais uma vez.

 

— Ah não, você me entendeu mal. Não é justo na outra direção. Para você e seus predecessores. A injustiça que você enfrenta é simplesmente horrível.

 

A mulher mais velha franzia o nariz.

 

— Algum espetáculo carnavalesco de política como o Caso Platinum acontece, e a história declara que é culpa de uma criança que não teve escolha em sua unção? Tosh, se você me perguntar. As pessoas das Quatro Nações se sentem no direito de pensar que você é responsável por cada dedo do pé batido e má colheita em suas vidas. Como se você controlasse pessoalmente a cadeia de eventos que compõem a história.

 

Yangchen sabia exatamente o que Chaisee estava fazendo. A ameaça velada em uma mão, os comentários simpáticos na outra. Ela estava tentando virá-la. Ela estava tentando transformar o Avatar em um de seus ativos. Sua ousadia não conhecia limites.

 

Havia pouca diferença entre esta conversa e a que ela teve com Kavik em seu quarto. Como se amolece o alvo? Contando-lhes uma história que eles querem desesperadamente acreditar.

 

— Talvez a humanidade devesse assumir maior responsabilidade pelo seu próprio destino — disse Chaisee. — Sempre acreditei em melhorar minha posição, e que o ônus de fazê-lo é meu sozinho. Aposto que, se o Avatar não existisse, nós, meros mortais, agiríamos menos tolos.

 

— E ainda assim eu existo.

 

— Você existe. E deve ser levada em conta. — Chaisee deu outra respiração profunda. — Avatar, em nossa última sessão de trabalho desta tarde, vou propor uma mudança no sistema shang que vai causar bastante alvoroço. Gostaria de contar com seu apoio completo e inabalável na questão.

 

— Quais são suas exigências?

 

Até o fim amargo, na beira do precipício e além, a disciplina de Chaisee se manteve.

 

— Não uma exigência — disse ela, calmamente. —Um caminho para um futuro melhor. Desejo que o cargo de zongdu se torne vitalício e hereditário.

 

Yangchen pôde ouvir o último ladrilho clicar. Ela finalmente viu a combinação completada. Sua oponente mirou alto, optou pela mão maior.

 

— Sob tal regime, eu permaneceria no controle de Jonduri e de todo o comércio que por ele passa — disse Chaisee. —Após minha morte, o título e as responsabilidades passariam para meu herdeiro.

 

— E quanto a Taku, Bin-Er, Port Tuugaq?

 

— Não é da minha conta. — Chaisee deu-lhe um sorriso matreiro. —Eu poderia administrar todas essas cidades igualmente bem. Mas não sou gananciosa. Controlar todos os pontos de contato sancionados entre as Quatro Nações parece um exagero.

 

Yangchen entendeu o sentimento. Chaisee conseguiu dominar tanto Henshe quanto Iwashi por meios não oficiais; não havia razão para ela ter seu nome estampado em todo o mapa.

 

— Acho que você vai achar este arranjo mais atraente quanto mais o considerar — disse ela. — Sou a oficial mais competente para ocupar esta posição na história do sistema shang. Tenho um interesse pessoal em ensinar minha própria carne e sangue a ser igualmente diligente. Eu proporcionaria um alicerce de estabilidade em tempos incertos.

 

Yangchen considerou o cenário. Não apenas da sua própria perspectiva, mas das memórias que podia sondar também. Tentar esculpir uma terra para si mesmo a partir das Quatro Nações estabelecidas no dia e idade atuais seria a maior das tolices, exceto… era assim que você faria.

 

Infiltrar-se em um lugar intermediário para colocar sua fundação. Concentrar-se em acumular não território, mas riqueza. Provar sua utilidade no palco mundial para os poderes que existem.

 

E, acima de tudo, proteger seu pequeno feudo com a ameaça de retribuição desproporcional.

 

— Os termos precisariam ser ratificados pelo Rei da Terra, Senhor do Fogo e Chefe da Tribo da Água — disse Chaisee. — Seu endosso apaixonado com os chefes de estado será novamente necessário. Mas prevejo poucas objeções no final. Simplesmente faço dinheiro demais para não conseguir o que quero.

 

A Zongdu de Jonduri, em seu momento de triunfo, levantou o dedo e bocejou no cotovelo.

 

— Desculpas; não se dorme muito como um novo pai. Mesmo com o tempo longe de casa, não consegui recuperar. — Yangchen esperou enquanto ela piscava e esfregava a pele sob os ductos lacrimais.

 

Chaisee exalou, recolheu-se e retomou de onde parou.

 

— Não pediria para você ir contra seus próprios objetivos, Avatar — disse ela. — Nenhuma tragédia fresca brotaria da sua aquiescência. As Quatro Nações não mudariam para pior; na verdade, há vantagens em nossa relação continuar.

 

— Você quer dizer que é uma quantidade conhecida. Um ator racional.

 

— Exatamente. Melhor eu permanecer uma figura na sua era do que uma safra rotativa de tolos. Há muitos favores que podemos fazer um pelo outro.

 

Um bom ativo entregue consistentemente ao longo do tempo. Com Unanimidade em sua posse, Chaisee poderia extorquir o Avatar para sempre. Ela poderia escrever uma história pessoal e secreta a seu próprio gosto, fora da vista do mundo maior. Chaisee estendeu a mão e deu um tapinha na mão de Yangchen.

— Aceite o presente que lhe dei. Permita-me garantir meu legado. E então, quem sabe? Juntas podemos trabalhar no seu.

 

Todos poderiam ganhar.

 

— Eu só teria que ignorar os passos que você tomou para chegar aqui — murmurou Yangchen.

 

— O que está feito está feito e não pode ser desfeito — disse Chaisee, erguendo os ombros. — Vamos não atribuir demasiado peso ao passado quando o futuro é tudo o que importa.

 

Ninguém saberia se Yangchen aceitasse a oferta apresentada, exceto ela e qualquer um de seus sucessores azarados o suficiente para ter uma memória forte. E essa culpa, esse sacrifício nunca havia sido um impedimento antes. Carregar o peso do conhecimento silenciosamente neste caso salvaria mais vidas. Ajudaria mais pessoas.

 

Yangchen colocou sua outra mão sobre a de Chaisee.

 

— Acho que podemos, em última análise, chegar a uma solução.

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Capítulo 29