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O Julgamento de Roku: Uma dor tão profunda

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Quando Roku e Gyatso desceram a colina que abraçava a costa, encontraram-se em uma ampla enseada com uma vasta extensão de praia e água calma. E não demorou muito para que os restos de um acampamento aparecessem à frente, emergindo da névoa.

Vários conjuntos de pegadas cruzavam a areia. Havia alguns abrigos de pedra que só poderiam ter sido feitos com dobra de terra, além dos restos carbonizados de uma grande fogueira. Roku se perguntou se os Dobradores de Terra já haviam partido, mas encontrou um barco de desembarque que havia sido arrastado para a praia e amarrado a uma árvore.

Roku procurou um navio maior ancorado em águas mais profundas de onde o pequeno barco deveria ter saído, mas não conseguiu ver nada através da névoa cinza-branca.

Gyatso alinhou seu pé ao lado de uma das pegadas melhor preservadas na areia.

— Uau, esse cara deve ser um gigante! Você acha que pode enfrentá-lo?

Roku se virou. Era realmente uma grande pegada.

— Não estou aqui para lutar com ninguém.

— Você não disse que iria “fazê-los sair”? Roku ignorou o Dobrador de Ar irritante e examinou o restante das pegadas, comparando os diferentes tamanhos.

— Devem ser sete ou oito ao todo — ele estimou.

— E, julgando pelo estado daquela fogueira, eles devem ter mudado o acampamento há alguns dias.

— Para onde?

Roku seguiu a linha mais recente de pegadas através da névoa. Elas levavam até a linha das árvores, onde ele encontrou o início de um caminho pisoteado pela vegetação.

— Por aqui.

Gyatso se aproximou e observou a trilha estreita que, como tudo ali, desaparecia na névoa.

— Do jeito que sua namorada descreveu a situação, eu pensei que encontraríamos um verdadeiro posto militar do Reino da Terra. Você sabe, uma fortaleza feita de rochas, muralhas, grandes bandeiras verdes do Reino da Terra tremulando ao vento, caras robustos usando aqueles capacetes pontudos. Coisas assim. Não, tipo, meia dúzia de pessoas acampando na praia e depois fazendo uma caminhada.

Roku vinha pensando o mesmo, mesmo sem dizer.

— Provavelmente desembarcaram aqui e depois estabeleceram seu posto em um terreno mais elevado. Talvez perto de uma fonte de água potável. Tenho certeza de que, se seguirmos o caminho deles, os encontraremos. E Ta Min não é minha namorada.

Gyatso olhou para Roku, cético.

— Você está me dizendo que eles deixaram a costa de uma ilha roubada completamente desguarnecida?

— O Reino da Terra não é conhecido por suas táticas astutas.

— Isso é uma generalização exagerada — disse Gyatso. — O que não me surpreende vindo de um Cidadão do Fogo. Mesmo assim, não é estratégia militar. É lógica básica. Algo não está se encaixando aqui.

O comentário irritou Roku.

— Tenho certeza de que há uma explicação.

— Sim, como eu disse antes, talvez seu amigo esteja escondendo algo de você.

Roku começou a descer o caminho.

— Por que ele faria isso?

Gyatso o seguiu.

— Sei lá, você é quem o conhece bem.

Roku cerrava os dentes e considerava, e rapidamente descartava, a possibilidade. Se ele não pudesse confiar em seu amigo mais próximo no mundo, então em quem poderia confiar?

No entanto, a sugestão de Gyatso continuava a incomodá-lo enquanto eles se aprofundavam mais na ilha. Se a Irmã Disha estivesse lá, ela perguntaria por que isso o incomodava tanto se Roku estava tão confiante de que Sozin havia sido honesto com ele. Mas, como ela não estava, era uma pergunta que Roku não precisava responder.

 


 

Graças ao caminho que os Dobradores de Terra já tinham aberto através da vegetação densa, Roku e Gyatso se moveram consideravelmente mais rápido do que teriam de outra forma. Cipós e galhos baixos já haviam sido cortados. Rochas foram removidas ou deslocadas para proporcionar degraus úteis em inclinações íngremes. E, julgando pelo número de antigos acampamentos de Dobradores de Terra que Roku e Gyatso passaram, a dupla estava viajando pelo menos cinco ou seis vezes mais rápido.

O caminho seguia quase diretamente para oeste por uma floresta principalmente plana, densa com árvores altas que tinham raízes de sustentação extensas e galhos que pendiam em algum lugar alto na névoa acima.

Chamados de pássaros desconhecidos e sons de insetos enchiam o ar, ficando quietos à medida que Roku e Gyatso se aproximavam, e depois recomeçando após eles passarem. O tempo todo, criaturas invisíveis se mexiam e se agitavam fora de vista.

Quando o brilho fraco do sol se aproximou do horizonte, a floresta deu lugar a um manguezal. Eles debateram sobre montar acampamento na borda do mangue, mas Roku insistiu que continuassem e encontrassem um lugar para descansar do outro lado. Gyatso concordou relutantemente, já que os Dobradores de Terra haviam deixado convenientemente um caminho de degraus de pedra elevados que atravessavam o mangue.

— Então, você realmente nunca jogou Pai Sho? — Roku perguntou enquanto pulava cautelosamente de um pilar para outro, continuando uma conversa que estavam tendo antes.

— Não — disse Gyatso. Ele estava mais adiante, dançando graciosamente e voltando periodicamente para deixar Roku alcançá-lo. — Alguns dos monges jogam, mas sempre que tento assistir, adormeço antes de acabar.

— Sozin e eu costumávamos jogar o tempo todo — Roku disse.

— Deixe-me adivinhar, você geralmente perdia?

— Eu conseguia me defender.

— Claro.

— Conseguia sim. De qualquer forma, eu te ensino um dia se você me ensinar bola-de-ar quando eu puder dobrar ar.

— Eu realmente não tenho vontade de aprender. — Gyatso fez uma pausa e se virou a tempo de ver Roku pular de uma pedra para outra, esbarrar em um galho de árvore e agitar os braços para não perder o equilíbrio. — E talvez você devesse ficar com o Pai Sho.

Roku sorriu.

— Você está com medo que eu te vença no seu próprio esporte.

Gyatso se virou sem dizer nada e pulou à frente.

— Espere, você está realmente com medo? — Roku disse, tentando alcançá-lo.

— Não. Pelo menos, não de você me vencer.

— Então, do quê?

Gyatso parou. Ele olhou para seu reflexo na água.

— Que eu nunca vou dobrar ar bem o suficiente para jogar bola-de-ar de novo.

— Ah — disse Roku, alcançando o pilar de pedra ao lado do Nômade do Ar, que agora exibia uma expressão triste. Ele queria dizer algo mais, saber mais sobre a irmã de Gyatso, mas não tinha certeza se deveria. Roku entendia como era ter uma dor tão profunda que pensar ou falar demais sobre ela renovava a dor.

— Agora você quer falar sobre isso? — ele finalmente decidiu perguntar.

Gyatso ficou em pé e agitou a água turva com seu cajado para que seu reflexo se quebrasse. Roku achou que o jovem Dobrador de Ar ia ignorar a pergunta, então ele falou.

— Eu era o mais jovem Nômade do Ar a dominar o décimo oitavo nível em décadas. Eu estava até no caminho para ganhar minhas setas quando chegasse à sua idade — se é que dá para acreditar.

— Eu acredito — disse Roku.

Gyatso suspirou.

— Mas depois que Yama morreu, tudo mudou. Eu não consigo canalizar a paz e a calma que preciso para focar minha energia como antes. Agora meu espírito se sente tão… Descentrado? Quebrado? Irritado? Não tenho certeza da palavra certa para descrever.

— Sei o que você quer dizer — disse Roku, lembrando da sensação de vazio que o seguiu por tanto tempo após a morte de seu próprio irmão e que ainda voltava sem aviso de tempos em tempos, quando ele menos esperava.

Gyatso enxugou os olhos.

— Você sentiu algo assim depois que perdeu Yasu?

Roku assentiu.

— Mas passou? — Gyatso perguntou.

— Não completamente — disse Roku. — Mas se tornou menos constante.

Gyatso ficou quieto por alguns momentos.

— Há uma grande parte de mim que não quer isso, sabe? Que sente que, se eu parar de lamentar por minha irmã, mesmo que por um momento, isso significa que estou me esquecendo dela.

Roku assentiu, familiarizado intimamente com a pesada culpa que acompanhava seguir em frente e encontrar uma maneira de sorrir e rir e viver novamente.

— Isso não é o jeito dos Nômades do Ar, claro — Gyatso continuou. — Os monges continuam me lembrando de como tudo é temporário. Mas se me reconectar com minha dobra de ar significa que preciso parar de amar Yama, talvez não valha a pena.

— Seu povo ama realmente o princípio do desapego — Roku disse.

— Eles realmente amam. E eu entendo com quase tudo. Só não com isso.

Roku queria dizer a coisa certa para tranquilizar Gyatso, mas depois da morte de Yasu, quantas vezes alguma pessoa bem-intencionada ofereceu algum clichê superficial que só fez Roku se sentir pior? Em vez disso, ele se lembrou da forma de seu luto e de como ele evoluiu ao longo dos anos.

— Talvez você não precise parar de amá-la para encontrar seu equilíbrio novamente — ele sugeriu. — Talvez você precise descobrir o que significa amá-la quando ela não está mais aqui.

Gyatso olhou para cima com as sobrancelhas levantadas.

— Você não é tão tolo quanto todos dizem, Avatar Roku.

— Obrigado, Dobrador de Ar Gyatso. — Roku sorriu. E já que Gyatso havia se aberto para ele, achou que deveria fazer o mesmo. — Enfim, quer saber por que a Irmã Disha ainda nem começou a me ensinar a dobrar ar?

— Não realmente — disse Gyatso. — É bem óbvio.

— Não, não é.

Gyatso balançou seu cajado logo acima da cabeça de Roku, derrubando seu adorno dourado com um estrondo. Roku se lançou para pegar o adorno com duas chamas e o agarrou enquanto caía no pântano. Roku se sentou na água lamacenta e rasa, afastou o cabelo molhado do rosto e olhou para Gyatso. Em vez de raiva, no entanto, risos subiram do peito dele. E quando Gyatso estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar, Roku puxou o Dobrador de Ar para o lodo ao seu lado.

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