O Dobrador de Terra soltou um longo gemido de dor enquanto começava a se mexer alguns minutos depois. Lentamente, os olhos do homem se abriram. Ele piscou, depois se sobressaltou como se fosse lutar ou fugir, mas imediatamente caiu de novo, fazendo uma careta.
— Meu ombro…
— Provavelmente deslocado — disse Gyatso. — Quer que a gente ajeite ele?
— Para ele tentar nos matar de novo? — Roku perguntou.
Gyatso apontou com seu cajado para o outro braço do homem, que já estava em uma tipoia improvisada.
— Ele não tem nenhum braço utilizável.
— Vamos manter assim.
— Vocês vão me matar? — o Dobrador de Terra perguntou entre dentes cerrados.
— Vamos consertar seu braço — disse Gyatso. — Se você nos deixar.
Roku deu um passo à frente.
— E se responder a algumas perguntas.
Gyatso olhou fixamente para Roku.
— Braço primeiro. Depois perguntas.
— Perguntas primeiro. Depois braço. Talvez.
— Braço.
— Perguntas.
— Braço.
— Perguntas.
— Braço — o Dobrador de Terra se intrometeu. — Depois conversamos.
Roku soltou um suspiro exasperado.
— Tudo bem.
Mas Gyatso não se moveu. Em vez disso, ele se virou para Roku.
— Você sabe fazer isso, certo?
Roku balançou a cabeça.
— Pensei que você soubesse.
— Hum. — Gyatso entregou seu cajado para Roku e estalou os dedos. — Vou tentar.
O rosto do Dobrador de Terra ficou pálido.
— Tentar?
O jovem Dobrador de Ar se aproximou do ombro com tipoia do homem.
— O outro — o Dobrador de Terra disse, parecendo duplamente preocupado.
— Certo. — Gyatso se moveu para o outro lado. Segurando o pulso do homem com uma mão, ele usou a outra para sentir a parte de trás do ombro por baixo da armadura. — Ok. Acho que posso fazer isso.
— Acha? — o Dobrador de Terra perguntou.
— Sente-se ereto. — Enfrentando o homem, Gyatso colocou a mão do braço ferido em seu próprio ombro. Em seguida, colocou sua mão interna no cotovelo. Com a mão externa, Gyatso começou a massagear o ombro machucado do Dobrador de Terra.
— Continue respirando — ele lembrou ao Dobrador de Terra enquanto continuava a amassar os músculos e tendões ao redor da articulação.
Depois de alguns minutos, Gyatso parou e mudou sua mão externa para o cotovelo enquanto sua mão interna segurava a mão do homem. Lentamente, ele guiou o antebraço para fora, mantendo o cotovelo a noventa graus. Então ele se levantou, endireitou o braço do homem e o girou para frente até que o ombro estalasse.
O rosto do Dobrador de Terra relaxou instantaneamente enquanto ele exalava com alívio.
— Você deve conseguir movê-lo livremente em alguns minutos — Gyatso lhe disse. — Mas vai ficar dolorido por um tempo.
O homem resmungou.
— Obrigado.
— Impressionante para sua primeira vez — Roku disse a Gyatso.
Gyatso limpou as mãos, pegou seu cajado de Roku e deu um passo para trás.
— Na verdade, foi por volta da décima segunda vez. Dobradores de Ar caem muito no início do treinamento, então deslocamentos são uma lesão comum que todos aprendemos a corrigir.
Roku reprimiu uma risada, colocou uma expressão séria e então se voltou para o Dobrador de Terra.
— Agora, quem é você?
O Dobrador de Terra cuspiu.
— Quem é você?
— Você disse que falaria depois que meu amigo consertasse seu braço.
Gyatso sorriu.
— Amigo?
Roku o ignorou.
O homem parecia enojado consigo mesmo, como se não pudesse acreditar que havia sido derrotado por aqueles dois garotos.
— Eu poderia ter feito isso sozinho — disse ele, então cerrou a mandíbula como se quisesse manter o silêncio.
— Certo. Quer saber quem eu sou? — Roku pigarreou e se ergueu em toda sua altura. — Eu sou o Avatar.
A risada do homem saiu como um latido.
— E eu sou o Rei da Terra!
Roku estreitou os olhos.
— É verdade. Eu sou o Avatar Roku.
— Prove isso. — O homem olhou ao redor, pegou uma pedrinha e a segurou na palma da mão. — Dobre a terra disso, oh, grande Avatar.
Roku coçou a nuca.
— Continuo treinando para…
— Ele realmente é o Avatar — disse Gyatso, poupando Roku do teste que ele certamente falharia. Roku estava prestes a agradecê-lo quando o Dobrador de Ar acrescentou: — Infelizmente.
O Dobrador de Terra considerou os dois.
— Talvez você seja, talvez não seja. Fogo e Ar, isso faria sentido. Mas eu nem ouvi que o novo havia sido encontrado ainda. — Ele olhou para Roku. — O que você tem… dezesseis anos, suponho? Você tem um pouco de altura. Um pouco de músculo. Mas se você realmente é o Avatar, não há muito o que se temer ainda. Sem dúvida, não é uma Kyoshi.
— Você a conhecia? — Roku perguntou, fingindo ignorar o insulto.
— Claro que não — disse o homem. — Você sabe quantas pessoas vivem no Reino da Terra? Mas eu certamente sei o suficiente sobre ela para saber que não gostaria de ficar do lado oposto ao dela. — Ele avaliou Gyatso em seguida. — E se ele é o Avatar, isso faz de você… seu mestre de dobra de ar?
— Eu não sou seu mestre de dobra de ar — disse Gyatso.
— Ele não é meu mestre de dobra de ar — disse Roku ao mesmo tempo.
— Então um dos seus pequenos companheiros? — o homem perguntou enquanto testava a amplitude de movimento do ombro.
Eles balançaram a cabeça simultaneamente.
O homem levantou as sobrancelhas.
— É complicado — disse Roku.
— Mas meu nome é Gyatso. Isso é direto.
— Digamos que você esteja dizendo a verdade — disse o Dobrador de Terra, — por que o Avatar e um Dobrador de Ar, que não é seu mestre de dobra de ar, viriam até este pedaço de ilha enevoada?
Roku pigarreou e tentou falar com alguma gravidade.
— Recebi a notícia de que o Exército do Reino da Terra havia reivindicado uma das ilhas da Nação do Fogo, então viemos resolver a questão pacificamente.
— Pacificamente? — o homem zombou. — Vocês assassinaram dois dos meus companheiros na última lua. Encontramos seus corpos queimados na floresta. E você — ele lançou um olhar para Gyatso, — tentou tirar minha vida nas cachoeiras alguns dias atrás. Ou você já esqueceu?
Roku e Gyatso trocaram olhares confusos.
— Eu não matei ninguém — disse Roku.
— E eu nunca te ataquei — disse Gyatso.
— Temos seguido seu rastro — explicou Roku, — tentando alcançá-lo para que pudéssemos conversar sobre o que estou começando a achar que é um grande mal-entendido.
O Dobrador de Terra olhou para Roku e Gyatso com um olhar cético, tentando avaliar se estavam dizendo a verdade. Roku se lembrou de Sozin uma vez dizendo haver lendas de Dobradores de Terra tão habilidosos em sentir vibrações sísmicas que podiam dizer se alguém estava mentindo pelo jeito como a frequência cardíaca ou a respiração mudavam. Infelizmente, a dobra de terra deste homem — todos deslizamentos de rochas, pedregulhos e paredes de pedra… parecia muito dependente de força bruta para uma aplicação tão refinada.
— Se não foram vocês — o Dobrador de Terra disse, ainda desconfiado, — então quem foi?
Ta Min havia dito que a patrulha da Nação do Fogo havia encontrado o exército do Reino da Terra na ilha. Sozin não havia dado mais detalhes a ela, mas era possível que tivesse havido uma luta que levou à morte dos dois companheiros do homem. Mas Roku não estava disposto a dizer isso agora, especialmente porque não sabia o suficiente sobre o que havia acontecido. Esse mal-entendido não precisava de camadas adicionais. Em vez disso, ele ofereceu outro detalhe da mensagem de Sozin.
— Um pequeno clã não contatado vive na ilha — disse Roku. — Talvez tenham sido eles.
— E você está enganado sobre um Dobrador de Ar ter tentado te matar — acrescentou Gyatso. — Nenhum de nós faria isso. Somos pacifistas.
O homem apontou para o lado ensanguentado de sua cabeça.
— Eu imaginei a corrente de ar que cortou a névoa e decepou minha orelha? — Ele então gesticulou vagamente para suas outras lacerações. — Ou os outros que vieram depois como uma dúzia de facas invisíveis, rasgando minha armadura e cortando meu rosto? — Ele tocou a tipoia esfarrapada. — E suponho que foi um espírito que então me lançou no ar tão alto que quebrei um braço e fiquei inconsciente quando caí?
— Talvez? — arriscou Gyatso. Então ele se virou e cutucou Roku no peito com a ponta do cajado. — Você não é muito bom nisso… nós deveríamos estar fazendo as perguntas.
— Não fomos nós — disse Roku ao Dobrador de Terra, afastando o cajado. — Contamos quem somos e por que estamos aqui. Agora é sua vez de falar.
O Dobrador de Terra se mexeu, grunhindo de dor.
— Eu sou Oh Wen. Guarda de segurança particular da Companhia Comercial do Reino do Oeste.
Roku notou Gyatso se enrijecer.
— O quê?
Gyatso parecia querer dizer algo, mas simplesmente balançou a cabeça.
Roku voltou sua atenção para o Dobrador de Terra supostamente chamado Oh Wen.
— Então, a Companhia Comercial do Reino do Oeste? — Ele estava familiarizado com a organização, que fazia negócios por todo o Mar do Sul, inclusive com o clã de Roku. Esses negócios, no entanto, não deveriam incluir desembarques não autorizados.
— Por que uma companhia do Reino da Terra está invadindo território da Nação do Fogo?
— Ah, então vocês estão aqui em nome da Nação do Fogo — disse Oh Wen.
— Não — disse Gyatso, enquanto Roku dizia: — Sim.
— Qual é a resposta?
Gyatso gesticulou para que Roku esclarecesse.
— Apenas responda à pergunta — disse o Avatar.
Oh Wen suspirou.
— Para ser honesto, eu realmente não me importo. Fomos enviados aqui para encontrar algo. E a empresa nos disse que a ilha estava desabitada e sem reivindicações.
— O que vocês foram enviados para encontrar?
— Algum tipo de pedra.
— Algum tipo de pedra?
Oh Wen assentiu.
— Carvão? Minério de ferro? — Roku perguntou, à beira de se sentir justificado. Afinal, quando Ta Min primeiro compartilhou o pedido de Sozin, ele havia imaginado que era mais provável que o Reino da Terra tivesse vindo para roubar recursos do que território. E isso faria ainda mais sentido se o Dobrador de Terra estivesse dizendo a verdade sobre quem ele trabalhava. Mesmo se a empresa tivesse sido enviada pelo Rei da Terra, se fossem pegos, o monarca teria uma negação plausível ao poder alegar que suas atividades não eram autorizadas.
Mas Oh Wen balançou a cabeça.
— Algum tipo raro de pedra ou mineral, ou cristal; eu não sei muito sobre isso. Apenas que é especial e só encontrado nesta ilha.
Gyatso tentou chamar a atenção de Roku, mas Roku manteve seu olhar focado no Dobrador de Terra, procurando por qualquer sinal de que ele poderia estar mentindo.
— O que é tão especial nisso?
— Vale duas vezes seu peso em platina.
— Certo. Mas por que vale tanto?
— Eu não sei — Oh Wen disse. — Sou um guarda. Você acha que eles me contam alguma coisa? Os dois Dobradores de Terra que fomos designados para proteger, uma mãe e uma filha, são os especialistas.
Gyatso puxou as vestes de Roku.
— Podemos conversar ali por um momento, Roku? — Gyatso perguntou.
Novamente, Roku o ignorou.
— E onde estão eles agora?
— Quer dizer que vocês não mataram o resto do meu grupo?
Roku levantou as mãos.
— Pela última vez, não matamos ninguém!
Gyatso apontou para si mesmo.
— Pacifista.
— Então eu não sei. Eles já haviam partido quando acordei depois que aquele Dobrador de Ar me lançou como um boneco de pano. Eles provavelmente acharam que eu estava morto e continuaram com a expedição, e eu não estava em condições de persegui-los.
— Quanto tempo atrás foi isso?
— Anteontem.
Roku se voltou para Gyatso.
— Então provavelmente podemos alcançá-los até o anoitecer no ritmo que estamos indo.
— Graças ao caminho que limpamos para vocês — disse Oh Wen.
— Roku — interveio Gyatso, mais firmemente desta vez. — Precisamos conversar.
— Estamos conversando.
— Em particular.
Roku estava prestes a dispensar Gyatso novamente, mas viu finalmente a urgência nos olhos do jovem Dobrador de Ar.
— Tudo bem. — Ele apontou para Oh Wen. — Fique aí.
— Como desejar o Avatar. — Oh Wen riu e ofereceu uma reverência zombeteira enquanto ainda estava sentado. — Ha. O garoto pensa que é o Avatar…
Gyatso e Roku caminharam até que Oh Wen estivesse na beira da névoa, então viraram seus corpos para longe.
— Você acha que ele está dizendo a verdade? — Roku perguntou.
— Eu acho — sussurrou Gyatso. — Mas lembra quando eu disse que talvez Sozin não estivesse te contando tudo?
Roku assentiu, tenso.
— E se ele soubesse sobre esse recurso especial?
Roku não disse nada.
— Talvez essa seja a verdadeira razão pela qual Sozin pediu sua ajuda; ele queria que você discretamente expulsasse o Reino da Terra para que ele pudesse ficar com isso para si mesmo.
— Se houver tal recurso nesta ilha, então ele pertence à Nação do Fogo, e ele tem o dever de protegê-lo — disse Roku e começou a se virar.
Gyatso segurou-o pelo ombro.
— Então por que mentir para o Avatar?
Roku tirou a mão de Gyatso.
— Sozin não mentiria para mim — ele disse, escolhendo acreditar nisso.
— Claro. Mas já considerou a possibilidade de que… ele totalmente mentiria para você?
Roku cerrou os punhos, sua irritação cristalizando-se em raiva.
— Talvez ele estivesse enganado sobre o motivo pelo qual o Reino da Terra veio aqui — ele se permitiu dizer, esperando que isso calasse o Dobrador de Ar. Mas Gyatso não deixaria passar.
— Vamos lá. Sozin te pede para se livrar do Reino da Terra, e então descobrimos que há uma pedra ou mineral super raro na ilha? Se me perguntar, isso não pode ser uma coincidência.
— Eu não te perguntei — disse Roku mais asperamente do que pretendia.
Dor cruzou o rosto de Gyatso. Então frustração.
— Eu não queria dizer nada sobre isso, mas deixe-me adivinhar: não passou pela sua cabeça que o Dobrador de Terra que te atacou e a Ta Min pode não ter sido realmente enviado pelo Rei da Terra?
Roku soltou uma risada desdenhosa.
— Suponho que você pensa que o malvado Príncipe Sozin o enviou.
— Faz sentido — disse Gyatso. — Você já havia dito que não o ajudaria, e aquele ataque mudou sua mente.
Isso poderia ser verdade? Sozin e Ta Min o enganaram?
Não.
— Não faz sentido — disse Roku. — Aquele cara quase nos matou. Se ele tivesse conseguido, então não haveria Avatar para ajudar o Príncipe Sozin a realizar seu esquema nefasto. — Roku balançou a cabeça e repetiu: — Sozin não mentiria para mim. E ele definitivamente nunca tentaria me matar. Somos…
—…Amigos — Gyatso completou. — Eu sei. Mas a questão é, vocês eram amigos. Você é o Avatar agora. Não vê como isso muda as coisas?
— Não muda nada.
— Pelos espíritos — Gyatso murmurou para si.
Roku procurou em sua mente um argumento mais forte.
— Se você estiver certo, então ele não saberia que eu eventualmente descobriria sobre o recurso quando falasse com o Reino da Terra?
— Ele provavelmente não achou que eles te contariam sobre isso.
Roku apontou com o polegar para Oh Wen.
— Bem, aquele cara acabou de me contar sobre isso.
— Se eu não estivesse aqui para ajudar com o braço dele, ele não teria te contado nada. Na verdade, se eu não estivesse aqui, ele teria te reduzido a pó.
Roku cutucou Gyatso no centro do peito.
— Talvez você devesse ser o Avatar, então.
— Definitivamente não deveria ter sido você. — Gyatso retribuiu o cutucão no peito. — A Irmã Disha estava certa.
Roku abriu a boca para retrucar, mas sua raiva vacilou, tremulou. Ele sempre suspeitou que sua mestre de dobra de ar achava que ele não era bom o suficiente para ser o Avatar, mas ouvir isso confirmado era como perder um Agni Kai na frente de todos que amava e respeitava.
— Esqueça — disse Gyatso após uma pausa. — Vamos ajudar esse cara a voltar para o navio dele, sair da névoa e encontrar Lola.
— Por que faríamos isso?
Gyatso bateu com o cajado na cabeça de Roku.
— Essa queda descolou algo aí dentro? Precisamos voltar para o Templo do Ar do Sul.
— E o recurso? — Roku perguntou.
— O que tem ele?
— Se realmente estiver aqui e for tão valioso assim, não podemos simplesmente abdicar e deixar o Reino da Terra levá-lo.
Gyatso zombou. — Porque pertence à Nação do Fogo?
— Porque quem sabe para que o Reino da Terra usaria.
Gyatso balançou a cabeça.
— Isso não é da nossa conta. Nada disso deveria ter sido nossa preocupação—foi um erro vir. Quando voltarmos, podemos contar ao Abade Rabten e à Irmã Disha o que Oh Wen nos contou, e eles podem decidir o que fazer.
— E quanto à sua dobra de ar? — Roku tentou mais uma vez.
— Não adianta.
— Você não está falando sério…
Gyatso não respondeu.
— E quanto ao resto do grupo dele? — Roku interrompeu, tentando usar um argumento moral que convencesse o Nômade do Ar. — Se realmente há nativos assassinos perseguindo-os pela floresta, você quer simplesmente deixá-los morrer?
Mas Roku calculou mal.
— A ganância sempre tem seu preço — disse Gyatso e se afastou.
A resposta fria como pedra deixou Roku atordoado.
— Isso não é muito Nômade do Ar da sua parte.
Gyatso girou de volta.
— Difícil de ouvir, já que você é igual a eles, né? Nação diferente, mesma história.
— O que isso quer dizer?
— Você é apenas outro nobre que não se importa com todos os plebeus que cultivaram as colheitas ou mineraram o minério, ou navegaram os navios, ou cortaram as árvores, ou trabalharam nos moinhos que enriqueceram seu clã. Todo aquele sofrimento não significa nada para você. Você toma seu chá, frequenta sua Academia e seus festivais, relaxa em seus spas reais e reclama do preço da seda. Se outros tiverem que passar sem para que você possa ter mais mais mais, então que seja, certo?
A raiva repentina do Nômade do Ar deixou Roku atordoado. Era como se Gyatso o tivesse apunhalado com uma lâmina que há muito vinha afiando em segredo.
Mas Gyatso não havia terminado.
— Antes de Kyoshi ser identificada como o Avatar — continuou ele, — ela era uma órfã, uma serva. Ela lutou por justiça porque podia reconhecer a injustiça. Ela a viveu. Sobreviveu a ela. O coração dela sempre esteve com os pobres, os quebrados, os oprimidos. É por isso que ela foi uma grande Avatar. Você? Você, sua família, seu clã, sua nação, são os opressores. O que você pode oferecer como Avatar quando não consegue nem entender isso?
Roku ainda não sabia o que dizer.
— Faça o que quiser — Gyatso jogou por cima do ombro enquanto se afastava.
— Tudo bem — disse Roku, sentindo-se como uma árvore que sobreviveu a um tufão, mas foi despojada de todos os galhos. Ele cruzou os braços. — Não preciso de mais ajuda de um Dobrador de Ar fracassado, de qualquer maneira.
— E eu não preciso desperdiçar minha energia ajudando um Dobrador de Fogo doutrinado que vai acabar se tornando outro Falso Avatar.
Magoado e querendo magoar, Roku também se virou. Gyatso realmente era muito diferente de Sozin, que nunca desistiria assim, nunca se afastaria de Roku desse jeito.
Não importa o quê.
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