Roku acordou de um sonho em que caminhava pelo Jardim Flutuante com Ta Min, sentindo-se como os restos carbonizados de um prédio queimado. Ele estava tão exausto e sem forças que não conseguia nem abrir os olhos, muito menos mover um músculo. Mas ele não precisava fazer nenhum dos dois para perceber que, onde quer que estivesse, não era a caverna. O ar era quente e úmido demais, e a energia esmagadora que ardia dentro dele naquele lugar havia desaparecido.
E Roku não conseguia decidir se estava mais aliviado ou arrependido.
Uma mão deslizou por baixo de sua cabeça e a inclinou suavemente para frente.
— Beba isso, Avatar — disse a voz suave e profunda de um homem idoso. — Isso ajudará você a recuperar sua energia mais rapidamente e de forma mais suave.
Deve ser o Abade Rabten, pensou Roku, reunindo forças para abrir os lábios. Um chá floral calmante, aquecido na temperatura perfeita, passou por seus lábios e desceu pela garganta, assentando-se calorosamente em seu estômago. De alguma forma, ele estava de volta ao Templo do Ar do Sul. Mas como?
Ele se lembrava de encontrar os Dobradores de Água. Ele se lembrava de tentar se defender e de não conseguir controlar a força de sua dobra de fogo. Ele se lembrava de elevar tanto a temperatura da caverna que derreteu os fragmentos de gelo que voavam em sua direção e o fez desmaiar.
E os Dobradores de Água, ele se lembrava dos corpos deles no chão.
Roku forçou suas pálpebras pesadas a se abrirem e olhou para o Abade Rabten. Ele estava pronto para argumentar que precisava voltar à ilha, verificar os Dobradores de Água, proteger os Dobradores de Terra dos nativos e garantir que o Rei da Terra não roubasse a ilha, pois quem sabia o que ele faria com seu poder misterioso.
Exceto que não era o Abade Rabten.
O homem idoso ajoelhado ao lado de Roku e despejando chá em sua boca tinha uma grande barba grisalha e longos cabelos grisalhos amarrados no estilo antigo das Ilhas do Fogo. Ele vestia o mesmo tipo de tanga preta, vermelha e dourada feita à mão que o Dobrador de Água masculino na caverna, mas, além disso, usava um manto bayaung drapeado sobre um ombro e um cinto de conchas cortadas em volta da cintura. Apesar de sua idade, ele era magro e musculoso, e seu olhar era afiado e avaliador.
Ali não era o Templo do Ar do Sul.
Roku olhou ao redor. Ele estava em uma cabana com um teto de folhas secas de nipa e paredes de ripas de bambu nas quais pendiam crânios e armas. Calor e fumaça subiam pelo chão, e ele podia ouvir os sons suaves de pessoas e animais se movendo do lado de fora. Pelas pequenas portas cortadas em cada lado da cabana, ele viu a luz do sol pela primeira vez em dias.
— Calma — disse o velho quando Roku tentou (e não conseguiu) se sentar. — O chá age rapidamente, mas não tão rapidamente.
Perguntas queimavam na ponta da língua de Roku, mas ele ainda não conseguia reunir forças para encontrar sua voz. Mas o velho não deixou passar despercebida a confusão em seus olhos.
— Estamos na minha cabana — ele explicou. — Eu sou Ulo, Ancião Chefe do Clã Lambak, o último clã sobrevivente nesta ilha, que você de alguma forma encontrou. Você também encontrou de alguma forma o caminho para a Caverna Sagrada.
Então, Roku estava certo sobre os nativos.
— Como você mesmo experimentou — continuou o velho chamado Ulo —, o local transborda energia espiritual que, sem o treinamento adequado, é quase impossível para um dobrador controlar. Portanto, vou lhe dar o benefício da dúvida e assumir que você não estava tentando matar nossos Dobradores de Água intencionalmente.
Roku conseguiu oferecer o menor dos acenos.
— Eles estão vivos — disse Ulo, antecipando a próxima pergunta que Roku não conseguia expressar —, mas feridos. Eles conseguiram dobrar umidade suficiente ao redor para esfriar seus corpos, então você não os assou vivos. Claro, quando as últimas gotas de água evaporaram, a proteção deles também desapareceu. Felizmente, sabíamos que algo estava errado porque o nevoeiro havia se dissipado, e chegamos a tempo de levá-los, e a você, para o nosso curandeiro antes que fosse tarde demais.
Roku tentou processar tudo. Ele nunca havia tirado uma vida antes, e aparentemente quase tirou três porque não conseguia controlar sua dobra de fogo. Mas o que o velho lhe disse confirmou tanto que os Dobradores de Água eram parte do clã nativo da ilha quanto que a caverna permitia que os dobradores acessassem um poder formidável. Mas se eles estavam tão empenhados em manter o lugar escondido do mundo exterior como ele esperava, por que ele ainda estava vivo?
— Temos muito mais para discutir — disse Ulo —, e é uma honra para nós hospedar o Avatar.
Roku se perguntou como o chefe sabia que ele era o Avatar.
— Mas primeiro você precisa descansar.
Ulo inclinou o resto do chá nos lábios de Roku, depois se levantou e foi embora, desaparecendo por uma escada.
Roku tentou se mover para segui-lo, mas uma sonolência se instalou em seu cérebro, e ele se sentiu tão pesado quanto Amra. Suas pálpebras se fecharam e sua consciência escureceu como brasas ficando cinza.
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