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O Julgamento de Roku: Bandos de Dobradores de Ar saqueadores

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Na manhã seguinte, Malaya voltou e encontrou Gyatso sentado nas fontes termais à luz de tochas, com alguns macacos-porco selvagens deitados ao seu lado. Todos estavam soprando bolhas na água enquanto o vapor subia da superfície das piscinas, nebulando o ar com cheiro de enxofre. Mas, ao verem a jovem, os macacos-porco se espalharam e Gyatso se sentou.

— Eu estava certa — disse Malaya.

— Roku está vivo? — perguntou o Nômade do Ar, visivelmente aliviado.

Malaya assentiu, com a mão esquerda repousando no cabo de sua adaga embainhada por hábito. Eles haviam passado tempo suficiente juntos nos últimos dias para ela saber que não precisava de sua arma perto dele.

— Ulo estava mostrando seu amigo pela vila ontem. Mas ele está ferido. Precisou se apoiar em Ulo para caminhar.

A preocupação substituiu o alívio de Gyatso.

— O que aconteceu?

— Não tenho certeza. Além disso, ainda não sei como ele chegou lá sem passar por mim na trilha. — Malaya ergueu a saia de tolgè e se sentou na beira das fontes termais ao lado de Gyatso, baixando as pernas na água aquecida por ventilação vulcânica. — Mas, como eu suspeitava, ele estava trancado na cabana de Ulo.

— Como um prisioneiro?

— A princípio pensei que sim. Mas ninguém ficou de guarda, e quando finalmente saíram, pareciam amigáveis. Ulo levou Roku pela vila, e depois voltaram para a cabana.

— Sobre o que conversaram?

— Não consegui me aproximar o suficiente para ouvir sem a neblina.

Malaya se inclinou para a frente, encheu as mãos em concha com a água quente e a jogou no rosto.

— Mas parecia que Ulo estava apenas mostrando a vila para Roku.

Gyatso se levantou da piscina para ficar no mesmo nível de Malaya. Vapor subia de sua pele avermelhada, e ele puxou as pernas para se sentar com elas cruzadas. Seu joelho pressionou a pele da coxa dela, passando calor entre os dois. Ela não se mexeu.

Gyatso pigarreou.

— Por que Ulo o manteria vivo se está tão decidido a matar forasteiros? Será que Ulo sabe que ele é o Avatar?

— Não acho. Aa menos que Roku tenha contado a ele.

Gyatso acariciou o queixo.

— Isso soa como algo que Roku faria… Ele pensa que é um cara de dragões.

— O que quer dizer?

— Ah, muito difícil de explicar. De qualquer forma, você acha que ele precisa ser resgatado? Se for assim, ele teve sorte de eu não ter deixado a ilha. Acontece que isso é meio que a minha especialidade.

— Talvez? Eu não confio em Ulo. Mesmo que ele esteja mantendo seu amigo vivo, eu acho que não é por uma boa razão. Mas não podemos simplesmente entrar lá. Ulo raramente o deixa sozinho.

— Farei o que for necessário para manter Roku seguro — disse Gyatso. — Exceto machucar, torturar, matar… todas essas coisas, é claro.

Malaya olhou para o Dobrador de Ar, maravilhada. Como ele era diferente de Amihan, ou de qualquer outra pessoa em seu clã, na verdade.

Na primeira noite juntos, ele recusou o espeto de frango-komodo que ela assou para ele. Ele explicou que, embora os Nômades do Ar pudessem comer carne quando era oferecida, ele preferia não comer. Isso fez Malaya rir pela primeira vez em dias. Sua própria convicção de que seu clã não deveria matar os Dobradores de Terra não era baseada em algum grande princípio espiritual ou moral, mas em um sentimento vago, ainda que certo, de que eles não mereciam morrer. Além dos humanos, ela não conseguia sequer começar a compreender como alguém que se recusava até mesmo a machucar animais ainda não havia morrido de desnutrição.

Gyatso esperou pacientemente que o riso de Malaya diminuísse, então continuou explicando que era um princípio central de toda a nação dos Nômades do Ar, o que era exatamente o oposto do retrato ameaçador que Ulo pintou ao contar histórias sobre bandos de Dobradores de Ar saqueadores. Ela enxugou as lágrimas que se formaram nos cantos dos olhos e, então, interrogou Gyatso por mais uma hora sobre como um povo assim conseguia sobreviver ao lado de outras nações mais ávidas por guerra. No final da conversa, Malaya estava longe de se converter. No entanto, quando se deitou para dormir naquela noite — depois de ter bombardeado Gyatso com perguntas sobre os Nômades do Ar até que suas pálpebras ficassem caindo de sono —, pensou na carne assada que enchia seu estômago com uma culpa nascente.

Gyatso de repente se esticou na direção da cabeça de Malaya, sorriu e pegou algo do cabelo curto dela. Uma flor de sampaguita. Ele a segurou para ela pegar, mas ela a soprou para longe. Sem perder o ritmo, ele usou sua dobra de ar para fazer o vapor girar de um jeito que fez a pequena flor flutuar e dançar ao redor da cabeça dela.

— Descobriu alguma coisa sobre os Dobradores de Terra? — perguntou ele enquanto continuava a guiar o ar com movimentos graciosos das mãos.

Malaya observava os movimentos hipnóticos da sampaguita. Apesar de ele ter compartilhado que tinha dificuldade em usar sua dobra de ar, exceto quando a vida de Roku estava em perigo, parecia sempre funcionar ao redor dela.

— Nenhum sinal de Yuming, Qixia, ou os outros Dobradores de Terra — disse. — E ainda não vi Amihan em lugar nenhum dentro ou ao redor da vila.

— E Kilat?

Malaya balançou a cabeça, tentando não se deter no que isso poderia significar.

Um momento depois, um dos macacos-porco saltou, agarrou a flor flutuante no ar, enfiou-a na boca e saiu correndo. Malaya riu. Gyatso se apoiou nas mãos e suspirou.

— Eu nunca deveria ter deixado Roku sozinho — disse Gyatso. — Se algo acontecer com ele, será toda minha culpa.

— Vamos salvá-lo. Então encontraremos os Dobradores de Terra e os mandaremos embora. Depois, vamos impedir Ulo e Amihan de tirarem mais vidas inocentes.

— Vamos precisar de um bom plano.

Malaya sorriu de lado, olhando para os macacos-porco selvagens reunidos na outra ponta das fontes termais.

— Você acha que eu já não tenho um?

Ele seguiu o olhar dela.

— Mal posso esperar para ouvir. — Então ele se voltou para ela, com as sobrancelhas inclinadas em preocupação. — Mas você realmente acha que vai funcionar?

Malaya pegou a mão mais próxima de Gyatso e entrelaçou os dedos nos dele.

— Vamos manter seu amigo seguro.

Gyatso apertou a mão dela e sorriu.

Ela apertou a mão dele de volta.

— Quando você me falou pela primeira vez sobre a filosofia de harmonias do seu povo, você disse que você e Roku tinham cada um perdido alguém importante…

— Minha irmã mais velha — disse Gyatso antes que ela pudesse fazer a pergunta. — Yama.

— Como ela era?

Gyatso olhou para baixo e puxou a mão.

Por dentro, Malaya amaldiçoou a si mesma. Eles se conheciam há apenas alguns dias. Nesse breve tempo, ela se sentiu mais próxima dele do que de qualquer pessoa em seu clã. Ela lhe ensinou tudo sobre a ilha e sobre seu povo. Ela compartilhou como aprendeu a nunca questionar certas coisas para sobreviver. Descreveu como lamentava essa ignorância voluntária e estava determinada a nunca voltar a ela, mesmo que isso significasse que seria exilada da vila e tivesse que viver o resto de sua vida sozinha do outro lado da ilha. Ela até contou a ele por que seu relacionamento com seus pais era tão rompido, uma ferida que nunca havia revelado a outra alma.

Mas quem disse que ele se sentia remotamente próximo dela? Malaya era muito melhor em rastrear animais selvagens do que em perceber sinais sociais. Ela foi tola ao convidá-lo a compartilhar sua dor mais profunda tão cedo.

— Tudo bem — acrescentou ela —, você não precisa me contar.

Então, inesperadamente, o Nômade do Ar soltou uma risada alegre.

— O quê? — perguntou Malaya, confusa.

Gyatso olhou para cima, sorrindo amplamente enquanto passava a mão sobre o couro cabeludo.

— Desculpe, é que acho que entendo algo que Roku me disse uma vez.

— Ah, é?

— Ele disse que eu talvez precisasse aprender a amar Yama de uma nova maneira agora que ela não está mais comigo. E agora acho que entendo o que ele quis dizer.

Malaya retribuiu o sorriso dele, aliviada por não afastar o Nômade do Ar.

E então Gyatso começou a contar tudo sobre sua irmã.

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Capítulo 29