Pelos espíritos, ela não estava de brincadeira. O grito do Avatar potencializado com dominação de ar machucou as orelhas de Kavik através das palmas de sua mão e apagou o pavio da lamparina. A força dos pulmões dela atingiu ele em ondas como o rugido de um tigredilo.
Um par de guardas veio correndo pelo corredor e bloqueou a saída. — Intruso! — Eles gritaram assim que viram Kavik. — Intruso no quarto do Avatar!
Um deles ergueu o punho. Dominador de fogo. Kavik não pensou. Por instinto, ele agarrou a coisa mais próxima que lhe pudesse dar algum tipo de proteção e se escondeu atrás dele. Para grande choque de todos, incluindo o seu próprio, o escudo era o próprio Avatar.
— Porco! — O dominador de fogo estava rouco de fúria. — Como você ousa!
Ei, ninguém se sentia pior sobre isso do que ele. Usar a figura mais sagrada do mundo como um escudo de madeira não foi seu momento de maior orgulho. Ele a virou para que ela ficasse de frente para os guardas e ficasse abaixada, agarrando-se à cintura dela como um sobrevivente de um naufrágio a um destroço.
Através da lateral de seu rosto pressionando as costas dela, ele sentiu um tremor. Ela estava rindo? — Tenham cuidado — ela disse para seus guardas. — Ele é um dominador de água.
Isso mesmo, ele era um dominador de água. E eles estavam dentro de uma casa de gelo. Um movimento errado e ele poderia arremessar fragmentos mortais vindos de todas as direções no corpo dela. Se ele fosse um monstro terrível.
Os guardas hesitaram, e isso foi o suficiente. O aviso do Avatar ajudou Kavik mais do que qualquer coisa. Ele a soltou e deu um passo para trás para ter espaço, empurrando a mesa que estava atrás dele. Uma pilha de envelopes se espalham como folhas caídas.
— Quais são as chances de esquecermos que isso aconteceu? — Kavik disse para o quarto. — Pergunto sem segundas intenções.
Silêncio mortal. — Não? Tudo bem, então. — Com um floreio, ele se inclinou para trás e mergulhou através do chão.
O plano era ignorar o frio por enquanto, e amortecer sua queda com uma seção liquefeita da Mansão Azul. Cair no nível do solo e, em seguida, correr pela porta da frente.
Por meio segundo ele foi um gênio. Um esquadrão de guardas subindo as escadas para proteger o Avatar não percebeu o garoto caindo atrás deles. Ele alcançou o gelo que compunha o teto do primeiro andar e o derreteu o suficiente para evitar um impacto desagradável, espremendo-se pelo portal improvisado e então…
Ele ficou preso. A água tinha solidificado em torno de um de seus tornozelos, quase arrancando o quadril de seu encaixe, e agora ele estava pendurado de cabeça para baixo em uma área de recepção, cheia de mesas cheias de comida refinada.
A festa foi abandonada, os convidados muito importantes fugiram quando o Avatar gritou, sem dúvidas. As únicas pessoas que permaneceram foram dois guardas da Tribo da Água que se aproximaram de Kavik cautelosamente, um deles usando um odre sobre o ombro para não ter que arruinar a arquitetura como o intruso havia feito. Ele deve ter sido o dominador de água que prendeu Kavik como um pedaço de carne pendurado em um defumadouro.
— Irmãos? — arriscou Kavik.
O que não era dominador ergueu uma clava com uma bola em sua extremidade. Seu parceiro tirou a tampa do odre.
Ok, justo. Kavik moveu os braços ao seu redor, congelando a água dentro da bolsa. O ato lhe daria um momento extra enquanto o homem lutava em confusão para tirar seu elemento de seu recipiente. Fogo sempre foi fogo e rochas eram rochas, mas dominar água tinha o problema extra de gerenciar a mudança de sólido para líquido e vice-versa.
Enquanto o dominador estava distraído, Kavik puxou-se em direção ao tornozelo e liberou a perna, bem a tempo de desviar da maçã e cair sobre o homem desequilibrado que o balançou. Agarrou-se firmemente à jaqueta do guarda, plantou os pés nos quadris do homem e os rolou para colocar seu oponente em cima para que ele pudesse aparar o impacto da explosão de água que o dominador finalmente conseguiu realizar.
O golpe foi forte o suficiente para deixar o homem inconsciente. Esses caras estavam atrás de sangue. Kavik arremessou o guarda desacordado de cima de si mesmo e girou em suas costas, sem se incomodar em se levantar, e chutou um filete de água da parede, conectando seu pé ao do outro dominador. Um puxão derrubou o segundo homem.
Quanto mais perto do chão eles ficavam, quanto mais eles caíssem, melhor. Kavik era apenas mediano no puxa-e-empurra do combate elemental tradicional, mas ninguém o havia vencido em uma luta há anos. A dominação lhe dava mais membros do corpo para trabalhar.
Kavik desviou do chicote de água que passou por sua cabeça e o congelou no chão, transformando o líquido em gelo até o braço do outro dominador, prendendo-o naquele ponto. Agora era sua chance de fugir. Ele ficou de pé e saltou para fora da porta.
Mas antes que seu pé tocasse o chão, ele foi sugado de volta para as mandíbulas da Mansão Azul por uma força invisível puxando sua camisa por trás, sorvida como um macarrão na sopa. Ele demorou demais. O dominador de água deve ter se libertado mais rápido do que tinha previsto e os reconectou. Kavik pousou no abraço acolhedor de mais quatro guardas. Era o fim.
Eles o empilharam, torcendo seus braços atrás das costas. Através do abafamento causado pelas peles que estavam usando, Kavik ouviu a voz do Avatar. “Não machuque o menino,” ela ordenou. “Leve-o para o porão e verifique se ele está ileso. Desejo falar com ele em alguns minutos.”
Todo o peso de seus crimes caiu sobre ele enquanto eles arrastavam Kavik para longe. Esta não foi apenas uma corrida ruim. Ele não estava apenas indo para as celas do magistrado. Este era o Avatar que ele enfureceu. Que tipo de punição se receberia por isso?
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