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A Aurora de Yangchen: Um Lugar Para Deitar a Cabeça

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Eles andaram pelas ruas de Jonduri, Tayagum liderando o caminho. Os olhos de Kavik estavam muito turvos para perceber qualquer coisa, mas ele conseguia ouvir os gritos dos vendedores ambulantes da cidade vendendo comida pronta ali mesmo, nas bancas abertas, o clamor dos ferreiros demonstrando a durabilidade dos seus artigos de ferro, fundindo os metais.

 

Quando eles passaram por uma praça cheia de gritos indistintos, ele pensou que eles tinham tropeçado em um motim do tipo Bin-Er. Mas Tayagum disse que era a troca de compensações, onde os comerciantes gritavam ordens uns aos outros em uma grande multidão, usando contato visual e gestos de mão para mover somas iguais a libras de ouro de cada vez. Kavik estava perdendo a visão, mas ele não se importava muito. Ele não estava em Jonduri para ser turista.

 

Eles subiram degraus de bambu saltitantes para dentro de uma casa em palafitas. Tayagum deu a ele um lugar para sentar-se. Quando o fluxo de seu nariz estancou ao ponto em que ele pode ver novamente, ele descobriu que estava na sala comum de uma pousada.

 

Uma pousada de propriedade da Tribo da Água. Havia um grande Kudlik[1] de pedra no meio do chão fornecendo uma luz sem fumaça. Enquanto a sala era grande demais para ser completamente forrada com peles, havia alguns bons exemplos ao redor das paredes e do chão. Era igual à sua casa em Bin-Er.

 

[1] Kudlik: tradicional lâmpada a óleo usada pelos povos do Ártico, incluindo os povos inuítes, chukchis e iúpiques. Este tipo característico de lamparina fornecia calor e luz no ambiente Ártico, onde não havia madeira e os poucos habitantes dependiam quase inteiramente de óleo de foca ou de gordura de baleia.

 

— Vou deixá-lo aos cuidados de Akuudan por enquanto — disse Tayagum. — Eu tenho que resolver as coisas no cais. Eu voltarei.

 

Ele partiu antes que Kavik pudesse perguntar quem era Akuudan. Presumivelmente, foi o gigante que desceu as escadas. Kavik ficou surpreso que o segundo andar não cedeu com ele em cima.

 

— Mas que –Tayagum! — o enorme homem do sul rugia. — Volte aqui!

 

— Ele se foi — disse Kavik. — Você é Akuudan?

 

— Eu sou. — Akuudan, ele suspirou. — E você está horrível. — Eu vou me preparar. Fique sentado.

 

Akuudan foi atrás de um balcão. Enquanto ele vasculhava suas prateleiras, Kavik viu que ele tinha apenas um braço, mas era maior do que as pernas de algumas pessoas.

 

Ele trouxe um rolo de couro e desfez o nó com os dentes, abrindo uma série de bolsas, cada uma com um instrumento diferente de madeira polida e lisa. Ele selecionou uma tala em forma de fúrcula e duas hastes do tamanho de cabos de vassoura.

 

— Segure isto contra seu rosto — disse ele a Kavik. — Isto vai doer.

 

Sem mais avisos, Akuudan enfiou as hastes profundamente no interior das narinas para realinhar as suas vias respiratórias.

 

Ah, dor ofuscante. Ah, dor cegante. Seu velho amigo.

 

— Foi uma longa manhã — disse Kavik, procurando o chão para se deitar enquanto os implementos permaneciam presos ao seu rosto. — Você se importa se eu fechar meus olhos? Só por um minuto.

 

— Fique à vontade.

 


 

Quando Kavik acordou do seu cochilo, encontrou peles debaixo dele e uma máscara protetora amarrada à sua cabeça, protegendo o seu nariz de mais ferimentos. E Tayagum estava de volta. Ele conversava calmamente com Akuudan junto à luz. Os dois homens mais velhos da Tribo da Água ocasionalmente olhavam seu convidado.

 

Kavik lutava contra si. O inchaço diminuiu em seu rosto, que agora estava limpo e um pouco frio. Tayagum deve tê-lo lavado e aplicado gelo com dobra de água enquanto ele estava desmaiado. Talvez alguma cura básica de campo também, mas nada no nível do toque milagroso do Avatar. Ele podia respirar bem o suficiente para sentir o cheiro de algo delicioso.

 

— Sopa de sangue — disse Akuudan a Kavik. — Para substituir o que você perdeu. Eu também cozinhei macarrão de algas marinhas, e Tayagum pegou um pedaço de foca-tartaruga. Ainda fresco. Tomado corretamente, agradecido pelo caçador e dado uma bebida.

 

Kavik engoliu a sua saliva.

 

— Como se tem carne de foca fresca até aqui longe dos polos?

 

— Jonduri gosta de duas coisas acima de tudo — disse Tayagum. — Ordem e comida. Muitos dos comerciantes são de Tribos que estão dispostos a pagar por um gostinho de casa.

 

A única coisa sobre os territórios Shang era que eles eram cosmopolitas. Kavik achou a sopa tão saborosa como qualquer outra que ele tinha comido em casa. O macarrão era tão bom quanto o de sua mãe, ele relutava em admitir. A carne foi cortada da espinha dorsal, um pedaço especial geralmente escolhido após uma caça bem sucedida. Por causa de quão deliciosa era a refeição, Kavik levou um tempo para perceber que eles estavam comendo em completo silêncio.

 

— Os negócios parecem um pouco lentos — ele disse. Uma piada. A pousada estava vazia, embora a rua lá fora estivesse bem ocupada. — Este assistente que eu substituí. Ele não mora aqui?

 

Eles grunhiram, mas não responderam nada além disso. A simpatia inicial de Tayagum no barco havia desaparecido. O distanciamento machucou Kavik mais do que ele queria deixar transparecer. Esses foram os primeiros membros da Tribo da Água que ele conheceu desde que se mudou para Bin-Er que não estavam chateados com ele por causa dos negócios de seu irmão.

 

Ele levou um minuto para observar seus anfitriões. Uma série de pequenos discos azuis pendurados em uma faixa ao redor do braço de Akuudan. Tayagum tinha um pedaço de tecido semelhante enrolado em seu bíceps, mas com apenas um amuleto esculpido pendurado nele.

— Então vocês dois são ex-Guarda do Norte? — perguntou Kavik. — Garras Finas talvez, pra estarem tão longe de casa? — Ele estava se referindo aos guerreiros de elite retentores de Agna Qel’a, concedeu o status de irmãos ao próprio chefe. Quando não estavam estacionados nos polos, serviam como escolta e guardas florestais que patrulhavam mais longe das terras da Tribo da Água.

 

Tayagum bufou.

— O que? — disse Kavik. — Vocês dois parecem despedaçados. Pelo menos um de vocês esteve no continente há muito tempo. — Pode-se ter justificado a preocupação de Kavik por causa da segurança, mas ele também deixou escapar fatos sobre si mesmo.

 

Akuudan balançou a cabeça.

 

— Não faça isso — disse ele.

 

O que, caramba? Aprender? Qual você acha que é meu trabalho?

 

— Só estou especulando — Kavik disse, voltando sua atenção para o grande homem. — Por exemplo. A menos que você tenha perdido seu membro em um acidente, acho que você pode estar relacionado à realeza. Um ramo do clã, talvez. A linhagem do Chefe do Norte tinha pelo menos um ancestral notável nascido com um braço, um baleeiro lendário, na verdade.

 

— Você é irritante, é isso que você é — disse Tayagum. — Nenhum de nós gosta de ter que suportar um andante problemático.

 

Então ia ser assim. Kavik ainda não os informou sobre a missão.

 

— Eu sou a pessoa que o Avatar escolheu.

 

— Eu sei — disse Akuudan. — E eu estou dizendo que ela pode ter cometido um erro. Ela procura o que há de bom nas pessoas em primeiro lugar. Ela quer encontrar isto nelas com todo o seu coração. Ela é muito confiante.

 

Kavik balançou a cabeça em descrença.

 

— Estamos falando do mesmo Avatar aqui? Yangchen? Que espia as pessoas? Possui disfarces e está realmente confortável em usá-los? O Nômade do Ar mais anti-nômade que já existiu?

 

As narinas de Kayagum abriram e os lábios de Akuudan se apertaram em linhas finas. Claramente eles não gostaram de Kavik falando sobre seu chefe em um tom nada reverente.

 

— Olha, ela e eu fizemos um acordo — disse ele. — Eu preciso que ela venha ao meu lado, e ela precisa de mim em troca. Não vejo por que vocês dois me desprezam por isso.

 

Akuudan examinou Kavik como um joalheiro determinado a rejeitar uma pedra.

 

— As crianças de hoje em dia sabem sobre o Platinum Affair? — ele perguntou depois de um longo pensamento.

 

Eu sei sobre as circunstâncias que prenderam minha família em uma cidade que eu odeio, me levou a perder meu irmão e me trouxe do outro lado do mundo?

 

— Eu sei algo.

 

— Tayagum e eu éramos intendentes de expedição durante esse tempo. — disse Akudan. — Estávamos escoltando o pagamento da Tribo da Água ao General Nong sob pretextos diplomáticos. As forças do Rei da Terra na Travessia de Llama-paca’s nos derrubaram junto com a platina que estávamos guardando. Os embaixadores da Tribo da Água não conseguiram nos libertar imediatamente. Eventualmente, eles pararam de tentar.

 

— Fomos rejeitados por Oyaluk — disse Tayagum amargamente. — Talvez como punição por não proteger o dinheiro, talvez para salvar a cara, mas de qualquer forma, fomos jogados em uma prisão do Reino da Terra para apodrecer. Ainda estaríamos lá se o Avatar não tivesse negociado nossa anistia. Ninguém pediu a ela. Ela fez de coração aberto.

 

— Então não a seguimos por um acordo — disse Akuudan. — Nem porque ela é a ponte entre humanos e espíritos. Nós a seguimos porque ela é uma pessoa que ajudará os outros sem questionar.

 

— Ah. — Kavik assentiu. Eles eram verdadeiros seguidores. Ou talvez estivessem apenas endividados. — Ela também compareceu ao seu casamento, ou vocês já estavam juntos antes do Platinum Affair?

 

Ambos os homens olharam para ele.

 

— Você está usando o que eu presumo que sejam braçadeiras de noivado — disse Kavik. Se ele estivesse certo, eles modificaram o costume tradicional de dar um colar esculpido à mão para o seu prometido. — A única coisa que não entendo é porque o Akuudan tem tantas pedras nele.

 

Akuudan abriu um sorriso, a primeira expressão real e calorosa que ele mostrou na frente de Kavik.

 

— Nós nos encontramos antes. O bobo aqui ficava bagunçando a pedra que ia usar. Mas eu o fiz pescar todas as suas tentativas fracassadas. Você pode ver uma pequena progressão dele ficando cada vez melhor.

 

Tayagum se inclinou e pressionou o nariz contra a bochecha do marido.

 

— O que você fez ficou ótimo na primeira tentativa.

 

Eles terminaram sua refeição e limparam os pratos. Durante o chá de ervas, Kavik informou aos seus anfitriões sobre o plano de Yangchen para ele em Jonduri. Apesar da lealdade ao Avatar que eles professavam antes, eles estavam longe de estarem entusiasmados.

 

— Ok, ela definitivamente cometeu um erro — disse Akuudan, esfregando as têmporas com o polegar e o dedo mindinho. — Isso é loucura. Você vai se matar.

 

— Já fui pego bisbilhotando armazéns e docas antes — disse Kavik. Na maioria das vezes, um shang gostaria de espionar os ativos de outro antes de entrar em um acordo – ou quebrar um. Mais informações significavam mais influência. Normalmente, chuto o ranho de mim e me mandam embora.

 

— Huh — disse Tayagum. — Nunca ouvi alguém se gabar de perder lutas. — Havia poucas outras maneiras para um filho de contadores aprender o ofício. O custo padrão contra cálculos de benefícios aplicados a qualquer confronto físico em Bin-Er. Teiin pagou um esquadrão de infratores porque ele poderia se safar desde que ninguém morresse.

 

— Bin-Er não é Jonduri — disse Akuudan. — E embora ambos tenham o título de zongdu, Henshe é para Chaisee o que um filhote de alce-leão é para sua versão adulta. Se o Avatar brincar com ela, ir até ela com as ferramentas erradas, será um desastre.

 

— Por que Chaisee é uma notícia tão ruim?

 

— Seu domínio sobre as Shangs em Jonduri é absoluto — explicou Tayagum.

 

— Eles fazem negócios exatamente como ela diz, ela mantém o Senhor do Fogo de cabelo em pé, e todo mundo colhe lucros enormes. Ela é a líder mais eficaz que eles tiveram desde que o sistema começou.

 

— Ela também controla o fluxo de inteligência na ilha — disse Akuudan.

 

— Todo mensageiro em Jonduri trabalha para ela como membro de uma única associação. Eles monitoram os moradores que podem ser uma ameaça às suas operações sorrateiras. Comerciantes, trabalhadores, qualquer um que não goste do jeito que ela dirige as coisas. Não há nenhuma classe de agente independente como você, que possa ser persuadida a se voltar contra os interesses dela.

 

Os dois homens de aparência formidável, que definitivamente tinham visto sua cota de problemas, estavam falando sobre Chaisee como um espírito que traz azar. Do tipo em que os tabus eram postos em prática, para a própria proteção.

 

— O encontro do Avatar com ela cara a cara — disse Kavik.

 

Eles se encolheram em preocupação.

 

— Se for totalmente acima do solo, sobre negócios legítimos, então ela deve ficar bem — disse Tayagum. — O Avatar vai vir aqui depois, antes de você marchar para sua perdição?

 

Esse era o plano. Kavik assentiu.

 

— Bom — disse Akuudan. — Teremos uma chance de convencê-la a desistir disso. — Talvez ela o convença a isso. Enquanto os homens obviamente reverenciavam Yangchen, Kavik podia ver por que ela poderia ter hesitado em agir através deles. Eles estavam focados no custo, não no benefício.

 

— Não nos olhe assim! — disse Tayagum. — Nós jogamos o jogo muito mais tempo do que você. Os profissionais sabem quando o risco é muito grande!

Se Kavik quisesse jogar seguro, então ele não estaria aqui agora.

 

— Oh sim? Então me diga qual de vocês, profissionais muito sérios, vai quebrar o nariz do seu assistente amanhã.

 

Eles estavam confusos. Kavik apontou para seu próprio rosto.

 

— Para combinar comigo. Se Lee vê seu homem aparecer nas docas em perfeitas condições, ele saberá que foi outra pessoa que voltou no barco hoje.

Houve um longo momento de silêncio antes que os três caíssem na gargalhada. Kavik não conseguia parar. Seus lados doíam mais do que seu nariz. A ideia de algum pobre coitado ser espancado por algo de que ele não fazia parte era completamente injusta. Provavelmente era por isso que era tão engraçado. De repente, Akuudan ficou quieto.

 

— Eu vou fazer isso — ele rosnou, batendo um punho do tamanho de um tijolo na mesa, derramando o chá.

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Capítulo 19