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A Aurora de Yangchen: Pontas Soltas

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Depois de levar seu compatriota ferido para atendimento médico, os membros da associação se espalharam por dentro e fora do prédio, principalmente para fora, até que poucos ficaram. Os que ficaram se recusaram a falar com o Jujinta, e por extensão, com o novo parceiro de Jujinta.

 

 Kavik não se importava. Graças a Kalyaan, ele sabia como uma omissão herdada se parecia.

 

 O que ele estava menos confortável era ter que assistir o ritual de pós vitória de Jujinta, que começou com uma profunda, e fervorosa oração para algum espírito desconhecido. O atirador de facas arranhou uma série de marcas na parede, triângulos sobre marcas cruzadas sobre linhas retas, até que um intrincado padrão geométrico surgiu, que se assemelhava a um pássaro abrindo suas asas. Ajoelhando-se em frente dele, sussurrou para si mesmo, de olhos fechados, e seus murmúrios soando como condenações iradas de algum crime imperdoável do passado, muito pior do que o esfaqueamento leve que ele deu a Shigoro.

 

Bem, isso não é nada assustador, pensou Kavik.

 

Quando Jujinta terminou, ele veio e sentou-se no mesmo banco que Kavik estava. Até a maneira que ele descansava era perturbadora. Ele sentou-se como se a parede do fundo fosse contamina-lo pelo toque e ficou encarando sua frente o tempo todo, quase sem piscar. Seria a postura de meditação perfeita, se não parecesse que seus músculos estavam lutando entre si em um impasse vicioso.

 

Após um tempo, o silêncio tornou-se demais.

 

— Você é um dominador? — Perguntou Kavik.

 

Não era conversa fiada. Se as coisas tomassem a forma de Shigoro entre eles, Kavik queria saber se precisaria lidar com um fogo surpresa. Esconder a sua habilidade era uma estratégia comum o suficiente nos negócios de corrida de recados, útil para vantagens temporárias – ha-ha, dominador secreto do nada! – e as habilidades de lâmina impecáveis de Jujinta teriam sido a distração perfeita. As pessoas podem ser boas em duas coisas.

 

 Jujinta franziu a testa, tendo entendido a lógica por trás da pergunta. E ele não gostou nada disso, sendo intrometido. Nem um pouco.

 

— Não — ele rosnou sem virar a cabeça.

 

Ele poderia estar mentindo, mas Kavik sentiu que sua comunicação corporal disse a verdade. Ele achou que o assunto estava resolvido, até que depois de um minuto o Fogo Nacional retrucou:

 

— E você mão é nada mais que… ?

 

Kavik olhou para seu companheiro de banco. Bem, loucura pra você também, amigo.

 

Tael chegou para interromper o movimento lento de troca.

 

— Chegou a hora.

 

— Já houve luz o suficiente para uma hora. — disse Kavik. Seus joelhos estavam rígidos de tanto sentar.

 

— Sim, mas precisamos que as correntes estejam seguindo a direção certa também. Ou então você vai ser aterrado pelos Dentes da Lapa e cuspido de volta nas praias. Vamos lá.

 

O homem mais velho conduziu Jujinta e Kavik para o fundo do salão. Um  fedor doce de carne, ainda mais poderoso que o padrão para peixes rastejou por esta extremidade do edifício. Um animal terrestre lavado, apodrecendo durante a noite? Havia um ranço intestinal que não nasceu no mar deitado em algum lugar ali embaixo. Tael abriu um amplo conjunto de portas, deixando a nova luz do dia sobre uma pequena praia de cascalhos.

 

— Aqui está o seu primeiro emprego — ele disse — Dever de disposição.

 

Kavik protegeu seus olhos do sol no início, mas rapidamente trocou suas mãos, fechando a boca. Bílis quente vazou pelos seus dedos. Colocado em um leito de águas marinhas, ao lado de peixes prateados feios e oleosos demais para vender, estavam um par de cadáveres, começando a inchar.

 

Um deles foi Qiu.

 


 

A corrida louca de Kavik durou apenas alguns passos antes que ele esvaziasse seu estômago sobre os seixos polidos pelas ondas. Ele teve a sensação distinta de outras pessoas além de Tael se afastando para que ele pudesse ficar doente. Algumas delas riram.

 

— A primeira vez com um cadáver cru, hein? — alguém disse, não indelicadamente. – Você vai pegar o jeito, com certeza.

 

Kavik agarrou sua barriga e cuspiu, cuspiu e girou. Ver a sola dos pés roxos e inchados de Qiu fez com que vomitasse novamente. Por que ele… seu corpo, estava aqui? Por que não estava em Taku?

 

— Todos que estão aqui acabaram de ver as pessoas chamadas Kavik e Jujinta pegarem um barco junto com um sujeito vestido como um alto oficial do Reino da Terra e um jovem com a pele marcada vestindo a última moda de Bin-Er e saírem em uma viagem, — Tael anunciou. — Apenas Jujinta e Kavik voltaram. Deve ter havido algum jogo sujo. Nós iremos testemunhar como tal, se as autoridades de fora de Jonduri vierem perguntar.

 

Tael esfregou um olho coçando.

 

— Ei cara novo. É assim que o mantemos fiel. Culpa por associação. Esteja feliz que respeitamos a lei nessas partes. Eu ouvi que os verdadeiros grupos de criminosos desagradáveis do Reino da Terra forçam os seus novos membros a sujarem o jogo eles mesmos.

 

— O que esses dois fizeram para ter tanto azar? — Jujinta perguntou, imperturbável.

 

— Eles são espiões. E se tem uma coisa que o chefão não gosta, é de espiões.

 

Tael entrou para dar uma olhada mais de perto no oficial do Reino da Terra. Kavik não conseguiu entender como ele conseguiu não engasgar. Ele levantou o homem caído, com a barba de trinta centímetros e deixou-o cair novamente.

 

— Realmente ele é o cara, um sábio. Esse outro — Ele cutucou o corpo de Qiu com os pés e Kavik sentiu o dedo do pé em suas próprias costelas — é um corretor levando presentes muito grandes para o seu valor. Essa é a maneira mais segura de dizer a alguém que é uma tentativa de implantação.

O envelope. O envelope que ele havia roubado do quarto do Avatar. Kavik colocou a causa da morte de Qiu em suas próprias mãos.

 

— Vamos lá, coloque-os no barco antes que você perca sua janela. — disse Tael. — você vai querer remar com as marés, não contra elas!

 

Kavik teve de ser empurrado em direção à cabeça de Qiu. Jujinta se abaixou e agarrou o corpo pelos tornozelos, arregaçando as calças salgadas para obter uma melhor aderência sobre a carne cinzenta e pegajosa por baixo.

 

— Levante com os seus joelhos — ele grunhiu.

 


 

Longe, muito longe, além do horizonte. É para lá que Kavik teve de levar a sua mente, para não começar a gritar incontrolavelmente quando pegou Qiu pelos pulsos e os dedos mortos de seu ex-corretor balançaram em reciprocidade em torno dos seus. Ele mal desviou o olhar a tempo de evitar a cabeça de Qiu pendendo para trás para acusá-lo de assassinato, com a boca aberta.

 

Ele mergulhou dentro e fora da coerência. Ele estava vagamente ciente de dois baques atingindo o fundo do esquife, então Jujinta e ele foram para o mar, cada um deles segurando um remo.

 

— Então, o que você vai fazer é envolver os cadáveres em um bloco de gelo marinho. — ele ouviu Jujinta dizer. — Nós empurramos o gelo e o deixamos flutuar. Enquanto ele derrete, a corrente o levará para um campo de alimentação de lulas-tubarão, e não haverá restos para identificar.

 

Kavik não se lembrava de Tael dando-lhes instruções. Elas devem ter passado despercebidas por cima dele enquanto ele estava envolto no vazio. Ou talvez seu parceiro já sabia como se livrar das vítimas de assassinato.

 

Era mais fácil congelar a água ao redor de Qiu e do outro homem, novos melhores amigos de enterro, uma vez que ele conseguiu algum impulso. Ele poderia fingir que estava colocando gelo sobre gelo. O pé saindo, ele rapidamente o cobriu. Não havia núcleo para a massa se ele não pudesse vê-lo.

 

Enquanto os pequenos icebergs se afastaram, Jujinta orou mais uma vez.

 

O resto do trabalho passou como o sol atrás das nuvens. Remando de volta para a costa. Tael dizia a eles que fizeram bem, e que deveriam reportar para mais trabalhos na próxima semana. O olhar de Jujinta perfurava as costas de Kavik enquanto ele navegava de uma ponta à outra da sala de jogos — ali que a febre dos sonhos tinha começado, certo? Uma sala de jogos? Kavik não tinha mais certeza.

 

Ele cambaleou para casa em plena luz do dia, passando pelo mercado molhado. O som de cutelos batendo nos seus blocos sangrentos fez com que ele quisesse vomitar novamente. No barco, Jujinta se ofereceu para fazer alguns trabalhos com a faca – para cortar os pedaços menores, por isso Tael tinha enviado os dois. – mas Kavik pelo menos tinha os seus meios para recusar mais indignidades sobre o falecido.

 

Não, não em casa exatamente, a casa segura. Sua memória muscular desenvolvida em Bin-Er o impediu de se esconder e tomar o caminho mais direto. Ele se lembrou de fazer uma pausa de vez em quando e fazer uma varredura por caudas. Quando ele estourou pelas portas da pousada, surpreendeu Akuudan e Tayagum, ele podia dizer com confiança que não havia sido seguido. Uma vez que recuperou a habilidade de sustentar uma sentença.

 

O Avatar estava esperando por ele. Pelo jeito, ela tinha acabado de vencê-lo ali, talvez por minutos. Seu disfarce estava em uma pilha, uma capa e um chapéu largo, uma roupa mais simples que a de Bin-Er, montada às pressas. Ela se levantou de sobressalto quando o viu.

 

— Você está vivo! — ela disse, parecendo totalmente aliviada.

O fato de ela ter motivos para acreditar no contrário só o deixaram mais irritado. Eles conversaram sobre os perigos dessa missão. Kavik concordou com eles. Mas agora, uma inundação de culpa estava represada atrás de sua garganta.

 

Incapaz de falar, ele apontou um dedo trêmulo e acusador para Yangchen, e descobriu que havia um objeto em sua mão.

 

Uma pequena bolsa de moedas que ele não tinha antes. Seu pagamento por jogar o corpo de Qiu dentro da água.

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Capítulo 24