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A Aurora de Yangchen: O Rei da Terra

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Foi um período quente no inverno para o Anel do Meio de Ba Sing Se. O sol brilhava em camadas de neve espessa e molhada, e de vez em quando um silvo vinha dos telhados de duas águas quando uma avalanche em miniatura revelava faixas de telhas verdes enfeitadas com tinta dourada. As águas dos canais fluíam livremente sob finas camadas de gelo. As crianças faziam buracos na superfície congelada, jogando qualquer objeto pesado que encontrassem até que seus pais as repreenderam.

 

Chapéus de abas largas para proteger do brilho eram razoáveis. Yangchen usava um como parte de seu disfarce enquanto caminhava até o balcão de uma loja de Vinhos de Arroz ao ar livre. Não havia ninguém por perto, então ela pediu uma garrafa de uma particular cerveja escura. Por um arranjo existente, a bebida veio cheia de água para que ela pudesse beber de forma convincente. Ela esperou e observou as crianças brincando.

 

Mais cedo naquela manhã, vestida com seus trajes completos como condizente com uma Avatar do Ar visitando um Rei da Terra, ela pousou Nujian no meridiano do pátio externo do Palácio Real. Entre o huabiao com asas de nuvens, com a escada em camadas do tamanho de algumas pequenas aldeias nas encostas se erguendo acima, Yangchen foi saudada por um exército de servos, cortesões, ministros e atendentes que se curvaram silenciosamente como no costume antigo.

 

E então ela foi rejeitada. O Rei da Terra não estava disponível para atendê-la, e ela teria que falar com ele mais tarde. Uma frase específica foi usada para coroar a negação de sua audiência. Sua Majestade convida você para desfrutar os esplendores de sua cidade enquanto isso.

 

Ela fez questão de parecer que estava apropriadamente desanimada. Eu devo recusar, pois assuntos espirituais me chamam em outro lugar.

 

Agora ela estava aqui no Anel do Meio, esperando, ficando um pouco preocupada com o quão perto algumas crianças estavam chegando perto da beira do canal. Um homem com roupas rústicas de operário empurrou algumas delas de volta para a segurança enquanto caminhava em sua direção. Ele se aproximou da loja de vinhos e ocupou o lugar ao lado dela. Quando ele se acomodou, bateu no balcão com os três dedos do meio. Yangchen fez o mesmo em resposta.

 

O Rei da Terra Feishan tinha vinte e oito anos, era magro, com bochechas afundadas. Ele não parecia nem um soldado que esmagou a oposição da Travessia de Lhama-paca, nem um político capaz de transformar sua ira em realidade após o Caso da Platina. Um lenço na cabeça foi o suficiente para finalizar o disfarce simples, mas extremamente eficaz. Um Rei da Terra era coroado para sempre; mudar sua silhueta para combinar com a de um plebeu tornou Feishan irreconhecível.

 

Ele exigiu que ela se comprometesse com este ritual caso ela fosse mandada embora em sua porta com a senha codificada. Significava que ele queria conversar em um lugar seguro longe do palácio infestado de espiões. Em raras ocasiões ela poderia ficar feliz com a paranoia de Sua Majestade e as chances resultantes de falar com ele em particular, mas hoje ela teria que andar na ponta da faca.

 

Feishan bebericou sua água e olhou ao redor para se certificar de que não havia ninguém à distância.

 

— Eu gostaria de saber o que aconteceu em Bin-Er. — Disse ele em uma voz agradável e melódica. — Recebi vagos relatos sobre bolas de fogo no céu de centenas de soldados aterrorizados. Uma perspectiva mais detalhada seria apreciada já que você esteve lá recentemente. — Um pedido razoável. Vindo de um homem não propenso a isso. Yangchen cortou de lado sua hesitação com o desapego de um açougueiro. Ela baniu seu remorso, sua vergonha, seus princípios. Tudo o que importava agora era sua capacidade de narrativa.

 

— Vossa Majestade, há uma grande verdade que os gurus conhecem. — Ela começou. — O sofrimento humano gera turbulências no Mundo Espiritual. Nossos medos, nossas ganâncias, nossos ódios são espelhados lá. — Ela girou o copo com a mão. — Eu vi acontecer com meus próprios olhos, como um espírito pode escurecer na presença da fraqueza da humanidade. — Feishan era a pessoa mais observadora que ela já conhecera. Ele saberia que ela estava dizendo uma verdade que nascera de uma perda pessoal. Isso diminuiu suas memórias de Jetsun para envolvê-los num estratagema?

 

Era sua própria dor, decidiu Yangchen. Ela poderia usar como bem quisesse.

 

— Bin-Er era um lugar quebrado que não se sustentava. — Disse ela. — À medida que a situação se deteriorou na cidade física, o mesmo aconteceu com a luz em seus espíritos locais. Uma terra se defende, Vossa Majestade. Algumas vezes com grande violência, como em Tienhaishi, às vezes como pragas silenciosas, como em Ma’inka. Eu o encorajo a conversar com os líderes do clã Saowon para ver sua perspectiva.

 

Os Saowon falariam mal sobre a incapacidade da Avatar de conter os espíritos, embora fosse a incapacidade de Yangchen de verificar os humanos que levou ao quase desastre com as enguias-fênix. O importante era que, se O Rei da Terra conseguisse investigar o assunto, ouviria uma verdade nascida da raiva e da culpa. Espíritos. Foram os espíritos. A ponte entre os dois mundos falhou. A Avatar falhou em resolver nosso problema.

 

Diferente dos Shang, O Rei Feishan era um ouvinte paciente quando queria. Uma encarnação do jing neutro. Quietude antes do golpe da espada. Ele a deixou continuar.

 

— Eventualmente, Bin-Er estava muito fora de equilíbrio. Houve uma grande agitação sobre a cidade. Entidades escuras manifestadas como flores de trovão e chamas, florescendo no céu. Fiz o que pude para apaziguá-las.

 

— Você teve sucesso? — A verdade nascida de suas deficiências.

 

— Eu… Não. Não ainda. Tão grande era a raiva deles que eu não consegui aplacar sozinha. Eu tive que pedir ajuda dos meus irmãos do Templo de Ar do Norte. Eles estão cuidando da cidade com esmolas e bênçãos. A presença dele parece ter acalmado os ânimos, mas nosso trabalho ainda não terminou. — A última declaração deixou Feishan saber que a jovem Avatar havia implorado pela ajuda de seus anciões. Mas também que havia um grande número de dominadores e ar em Bin-Er por enquanto. Se as forças do Rei da Terra marchassem direto, procurando por violência, seria um mau gesto na frente de tantos membros de sua nação.

 

Segurando um escudo como se fosse proteger contra uma avalanche:

 

— Perdi muita receita com a desordem em Bin-Er. — Disse Feishan. — Muitos rostos também.

 

— Você não precisava. Isso foi culpa sua. — A raiva do Rei da Terra explodiu na forma de uma contração de mandíbula, uma curva nos lábios. Desta vez, uma verdadeira provocação estratégica da parte de Yangchen. Arriscado, mas totalmente intencional. — Vossa Majestade, por complacência, você permitiu que os Shangs administrassem mal a cidade até que nem humanos ou espíritos pudessem prosperar. Sob sua vigilância, eles descuidadamente colheram sem plantar de volta. Você tem apenas a si mesmo para culpar. — Era uma coisa boa que eles estavam sozinhos. — Que tipo de tolo insultaria O Rei da Terra na cara dele? Um honesto, presumiria Feishan.

 

— Houve e ainda há uma maneira melhor. — Disse Yangchen. Agora que ela o irritou, tinha que atacar rapidamente aonde queria. — Posso desenvolver um plano para você que alivie o fardo dos residentes de Bin-Er, enquanto a cidade lhe provém mais receita do que nunca. Mais do que qualquer Zongdu trouxe para seus cofres. — O Rei da Terra zombou, o que significava que ele pelo menos a ouviu, em vez de ter seus ouvidos tapados pela raiva.

 

— O que uma Nômade do Ar sabe sobre administração?

 

— Muito pouco. — Yangchen disse. — Porém Avatar Szeto, por outro lado, sabe muito. — O súbito brilho nos olhos de Feishan significava que ela o fisgara.

 

— Você está dizendo que pode governar Bin-Er exatamente como ele faria, se ele estivesse vivo? Ele pode guiá-la passo a passo? Você poderia consultá-lo em todas as decisões que tomasse? — Ela não podia. Conectar-se com suas vidas passadas não funcionava da forma como Feishan estava imaginando. Ela podia ver memórias de Avatares anteriores, experimentar suas emoções ao longo de momentos cruciais de suas eras. Mas até onde ela podia dizer, suas vidas passadas não podiam formar novas opiniões ou previsões ou tomar decisões por ela no mundo presente, não importa o quão conversacional fosse a interação entre suas memórias passadas e informações atuais durante uma sessão de meditação.

 

Avatar Szeto nunca tinha visto uma cidade shang. Ele nunca havia lidado com uma situação exatamente como O Caso da Platina ou um Rei da terra exatamente como Feishan. Ele nunca desenvolveria planos em nome dela ou sussurraria em seu ouvido a escolha perfeita em cada situação.

 

— Sim. — Yangchen mentiu. — Meu antecessor seria quem tomaria as decisões. Não eu. Meu envolvimento seria mínimo. — Sua afirmação mais ousada e falsa até agora. Não havia mundo onde Avatar Yangchen pudesse se separar completamente de suas vidas passadas. Era impossível remover sua própria identidade da balança. Mas Feishan não precisava saber disso agora. O Rei da Terra refletiu sobre sua proposta. As habilidades de um administrador lendário, enriquecendo seu tesouro. Que líder poderia resistir?

 

— Eu gostaria de ver esses aumentos na receita em breve.

 

— É claro. — Muito de sua audaciosa promessa teria que vir a utilizar o porto da cidade em plena capacidade, coisa que os Shangs estavam fazendo antes de ela chegar. Os navios extras. Ela dividiria o dinheiro do tráfego não relatado anteriormente entre Feishan e as pessoas de Bin-Er. Os próprios Shangs contribuiriam para ambos os destinos quando necessário, dado o fato de que ela era a única pessoa que mantinha seu envolvimento na Unanimidade em segredo do Rei da Terra. — Com você me apoiando, posso trabalhar com Zongdu Henshe para obter significativos…

 

— O homem está supostamente desaparecido. — Feishan a interrompeu. Yangchen franziu a testa.

 

— O que você quer dizer? Ele foi a algum lugar? Eu sei que ele era uma das poucas pessoas na cidade com amplos direitos de viagem.

 

— Se eu soubesse onde ele está, ele seria encontrado. — Ela aceitou a réplica.

 

— Ainda assim. Com seu apoio, posso aliviar os problemas da cidade no reino físico e espiritual. Posso ver o sofrimento de seus moradores e de seus cofres. Retire suas tropas e me deixe tentar restabelecer o equilíbrio. — Ela falou de ambos os lados da boca muitas vezes no passado, mas nunca a esse ponto, e para alguém tão importante quanto o Rei da Terra. Tinha sido… fácil. Depois de tudo que ela passou, foi fácil. Ela foi levada ao limite e percebeu que havia mais limites para descobrir. Se Feishan concordasse, então gradualmente, com cuidado, ela começaria a abastecer os componentes cruciais para o verdadeiro alívio de Bin-Er. Uma abertura de movimento para pessoas além dos Nômades do Ar. Melhores condições para aqueles que queriam ficar. Uma base sólida para o futuro. O Rei da Terra a olhou uma última vez antes de assentir.

 

— Vou dar o meu apoio. — Disse ele. — Juntos, nós traremos prosperidade para Bin-Er novamente. — Ela testou sua sorte mais uma vez.

 

— A cidade reformada pode servir de modelo para o Anel Inferior. Uma capital estável e feliz é uma capital segura, não é? — Feishan era na verdade um dos melhores Reis da Terra quando se tratava de cuidar dos cidadãos mais pobres de Ba Sing Se. Ou apelava para seu senso de autoridade, ou ele estava ciente de que o Anel Inferior formava essencialmente um cerco de proteção ao redor dos Anéis Médio e Superior. Ele sorriu, sabendo que ela estava sendo gananciosa à sua maneira.

 

— Vamos ver, Avatar. Vamos ver. — Ele chamou o proprietário e o mandou para o fundo da loja, para trazer uma garrafa de verdade. Um brinde comemorativo era iminente, e a água não seria suficiente. Enquanto o vendedor vasculhava caixotes cheios de feno, O Rei da Terra baixou ainda mais a voz, de modo que Yangchen teve que inclinar a cabeça para ouvi-lo. — E enquanto isso, há uma pequena chance de você estar errada sobre a causa de o espetáculo no céu ser espíritos raivosos, continuarei minhas investigações sobre o que aconteceu. — Disse ele. Yangchen teve que forçar a frouxidão em seus membros, quebrar a crosta de gelo que de repente envolveu seu estômago.

 

— Claro. — Ela repetiu. — Você tem motivos para acreditar que estou enganada?

 

— Eu não pretendo contradizer a Avatar em assuntos espirituais. É que antes de Zongdu Henshe desaparecer, ele enviou uma carta dizendo que tinha algo para me mostrar, e um novo acordo para fechar em Bin-Er. Isso foi tudo. Bem rude. Bem enigmático. Como se ele pensasse que de repente era meu igual.

 

O proprietário voltou com uma garrafa e copos frescos. Feishan o dispensou e serviu o vinho para a Avatar primeiro, antes de si mesmo. Ele queria fazer-lhe a honra mesmo que ela não fosse beber.

 

— Pouco depois de a carta chegar, vieram as luzes e os barulhos. — Disse ele. — Se os incidentes estiverem relacionados, eu irei descobrir. Talvez com mais calma, agora que você me deu garantias. — Ele pegou o vinho e o girou no copo, sentindo o aroma. — Estou aliviado que você esteja convencida que estamos lidando com espíritos, Avatar. Porque se eu descobrir que isso foi trabalho de um homem que iluminou o céu acima do meu território, e que alguém criou uma ameaça ao meu governo, então eu realmente temo o que farei em represália às Quatro Nações, O Reino da Terra incluso. Certamente isso não seria bom para minha reputação nos livros de histórias. Ou para os ecos de sofrimento no Mundo Espiritual com os quais você está tão preocupada.

 

Yangchen não respondeu.

 

Feishan bateu seu copo no dela.

 

— Para um amanhã mais brilhante. — O Rei da Terra respondeu ao silêncio dela. — Eu espero que você cumpra sua parte do acordo.

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Capítulo 39