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O Legado de Yangchen: Verdade

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— Agora está fácil, — disse Akuudan para Kaylaan na escuridão. — É só dar uma outra balançada no garoto e logo ele começa a sangrar.

 

— Melhor me matar, — disse Kaylan friamente. — Se vocês dois tiverem algum juízo, você cortariam minha garganta agora mesmo.

 

— Opa? — Tayagum parecia interessado. — E por que isso?

 

— Porque cada vez que você me deixa viver é uma outra chance de que eu possa escapar. E vou escapar, sim. E assim que eu o fizer, eu não vou te matar. Eu vou matar você. Os espíritos distanciaram os olhos de seus restos mortais. Não sobrará o suficiente de seus cadáveres para os necrófagos!

 

— Que conversa fiada, — Tayagum disse. —  Talvez devêssemos verificar essas ataduras novamente.

 

— Não! — Kaylan gritou. 

 

Kavik teve o suficiente. Ele abriu os olhos. — Pare com isso, — disse ele.

 

— Todos vocês, parem.

 

Eles deveriam manter o estratagema até que Jujinta voltasse, mas ele não queria que Kalyaan experimentasse nada disso. Ele ainda era irmão de Kavik. A crueldade tinha que terminar em algum lugar.

 

Ele lutou para se apoiar nos cotovelos e chiou. A perfuração em seu torso era real, mas a ferida não era tão profunda ou perigosa quanto eles fizeram parecer. Ele olhou para ver Kalyaan sentado no chão, o couro cru mordendo seus braços e pernas. As amarras ainda se mantinham.

 

— Eu não estou morrendo, — disse Kavik. Ele enfiou a mão na manga de Akuudan e tirou a palha articulada escondida dentro. Um rastro de laca de sangue pegajoso esguichou do tubo, acrescentando-se à mancha seca em seu torso. — Veja? —  ele disse. — Falso. —  A maior parte era, pelo menos.

 

Kalyaan piscou uma vez, todo o tempo que precisava para perceber que tinha sido enganado. Ele tombou para o lado como um navio levado por um vendaval inesperado. Sua visão de mundo provavelmente precisava de mais do que alguns ajustes.

 

Assim como o de Kavik. Ele nunca havia derrotado seu irmão mais velho em nada antes, e agora uma incerteza esmagadora pesava no ar. Os dois estavam perdidos em território desconhecido novamente.

 

A única coisa de que Kavik podia ter certeza era que ele não encontrou orgulho no momento. Não quando ele jogava sujo. Não quando ele explorou o único vínculo que não havia quebrado desde a infância no Norte.

 

E, no entanto, ele sabia que faria a mesma escolha novamente se fosse necessário.

 


 

ONTEM

 

Deixe Chaisee vencer, — repetiu o Avatar, citando Kalyaan enquanto sua equipe a apoiava em seu quarto. 

 

Kavik não sabia se ainda contava como membro daquele grupo. Ele tinha acabado de voltar de uma reunião com Do e Ayunerak, e os outros se organizaram como um júri. Yangchen tinha o mesmo olhar vazio que ela usou na primeira vez que o expulsou de sua companhia. Nujan ainda era uma ferida recente.

 

Ele esperou que ela proferisse a sentença. Os infratores do Repat sempre foram tratados com mais severidade. 

 

Yangchen balançou as pernas para fora da cama e plantou os pés no chão, curvando-se. — Ela já ganhou. Estamos sem tempo.

 

Seu joelho subia e descia. — Temos que mudar para o controle de danos, — disse ela. — Fishan já está aqui, o que é ruim o suficiente. Mas não posso deixar Lorde Gonryu e Chefe Oyaluk entrarem em Taku com Thapa ainda sob o controle de Chaisee. Preciso de sugestões.

 

— Enviamos mensagens a eles, — disse Akuudan. — Avise-os para longe da cidade. A solução mais fácil e direta.

 

— Sim. — Yangchen mordeu os lábios. — Deixe-os saber que uma ameaça potencial os espera para emboscá-los  em Taku. Nós manteríamos os governantes das Quatro Nações longe do perigo. Tempo suficiente para eles voltarem para casa e declararem guerra uns aos outros. É uma opção.

 

— Você passou Bin-Er com atribuição espiritual, não humana, — disse Tayagum. — Afirma que há um problema espiritual e que a convocação precisa ser cancelada. Se alguém tem autoridade sobre esses assuntos, é você. 

 

— Não sei o quão bem o que essa história levou, —  disse Yangchen.

 

— Fishan certamente nunca o comprou completamente. Mas está na lista.

 

Ela olhou ao redor da sala e fez um movimento rolante com as mãos como se implorasse para que falassem mais rápido. — Não há ideias rejeitadas aqui, — disse ela. — Estamos desesperados.

 

Kavik não conseguiu acompanhar a discussão. Ele mal conseguia processar o fato de que Yangchen não o havia banido permanentemente de sua presença. — Espere, — disse ele. — Você não pode ceder assim.

 

— Você não me ouviu? — As bolsas sob os olhos de Yangchen eram profundas e escuras. — O jogo acabou. Perdemos. Não há mais nada a fazer exceto rastejar na frente de Chaisee e rezar para que ela não nos machuque mais.

 

— É isso mesmo, — disse Kavik. — Até agora, temos jogado para equilibrar. Reagindo ao inimigo. Não tentamos atingí-los de volta. 

 

Ele se lembrou de como o ímpeto durante a sessão Ossos de pardal com Iwashi só mudou quando eles pararam de se preocupar com as perdas iminentes que seu lado sofreria e, em vez disso, se concentraram no que o inimigo tinha a perder. A maneira de derrotar um trapaceiro era enganá-lo.

 

— Meu irmão é o braço direito de Chaisee e está em Taku, — disse Kavik. — Nós a atacamos através dele. E vamos atrás dele através de mim.

 

Tayagum se irritou e a hostilidade que Kavik esperava finalmente apareceu. — Você está cheio de si. Sabemos como você ficou do lado de Kalyaan em Jonduri no momento mais crítico. Você acha que somos tão ingênuos para acreditar que você não cederá aos interesses dele novamente?

 

— Eu não vou, — disse Kavik. — Na verdade, vou queimá-lo. Ou pelo menos ameaçá-lo.

 

Ele fez uma pausa para refletir se sua voz vacilou. Não tinha. — Eu sou a única pessoa na cidade que pode atraí-lo para fora do esconderijo. Assim que o fizer, vou deixá-lo saber que vou revelar seu passado como planta de Henshe para Chaisee. Todos nós sabemos o que ela faz com as plantas.

 

— Você o estaria ameaçando com tortura e morte, — disse Jujinta.

 

Deixou-se que Jujinta removesse o brilho de uma só vez. Kavik engoliu em seco. — Sim. Ele terá que virar para o nosso lado e desistir de Thapa.

 

Houve uma pausa, um bom sinal de que seu discurso era atraente o suficiente para ser considerado. — Dê-nos o quarto, por favor, — disse Yangchen aos demais.

 

Eles saíram sem reclamar, até Jujinta. Ficar sozinho com o chefe normalmente era um privilégio, mas agora não, claramente. Uma vez que era apenas Kavik e Yangchen, ela perdeu pouco tempo. — Isso é uma manobra a serviço do Lótus Branco?

 

— Não. Nós os tiramos da operação. É como você suspeita; eles estão mais interessados ​​em assumir o controle de Thapa do que em detê-lo. E se Kalyaan cair em suas mãos, não confio neles para não usar o que ele sabe expandir a Unanimidade.

 

O joelho de Yangchen parou de balançar. — O que há de diferente desta vez? Hein? — Seu rosnado era de raiva, a questão era pessoal. — Você se sente mal por Nujian? A ilha o envergonhou para agir? A culpa finalmente chegou até você? Eu tentei te dizer uma vez antes que tínhamos que lutar por pessoas com as quais não tínhamos nenhuma conexão, completos estranhos, e você não comprou. Você escolheu seu irmão. Família acima de tudo.

 

— Você tem que confiar em mim, — disse Kavik. — Como você fez com Iwashi.

 

Ela jogou a cabeça para trás e riu. — Isso foi por dinheiro.

 

Muito dinheiro, concedido, mas ainda um jogo de mentira com regras inventadas. Isso é para o mundo. Isso é para o meu…

 

Ela se conteve e se afastou, mortificada. Qualquer número de palavras poderia ter terminado sua frase. Sua reputação, seu legado, seu espírito, sua consciência. Sua capacidade de dormir à noite. Ele queria tanto dizer a ela que todas essas eram causas dignas.

 

— Estive pensando em um conselho que Jujinta me deu, — disse ele.

 

Yangchen franziu a testa. — Ele me disse que eu tenho que equilibrar as contas, — explicou Kavik. — Isso é o que importa. Ações e nada mais. Como eu me sinto, como você se sente sobre mim, é irrelevante.

 

Kavik há muito tempo chegou à opinião de que Jujinta era um sábio disfarçado. Suas palavras de sabedoria poderiam parar até mesmo o Avatar em seu caminho. Sua raiva se dissipou, deixando apenas uma casca de exaustão para trás.

 

— Eu não posso dizer quando você está mentindo, Kavik. — Sua voz estava seca e murcha. — Você é tão bom. Poucas pessoas já me enganaram tanto quanto você. Cometi um dos erros mais consequentes da minha vida apostando em você, e aqui está você, me pedindo para fazê-lo novamente.

 

O colapso em seus ombros disse a ele tudo o que ele precisava saber. Ela cederia, não porque acreditasse nele, ou tivesse qualquer inclinação para recebê-lo de volta em seus braços. Ela estava simplesmente tão desesperada.

 

E de uma forma distorcida, ele não se importava. Em algum momento de suas vidas, todos precisaram ser carregados para casa. — Deixe-me fazer isso por você, —  ele pensou. — Você não deveria suportar o mundo sozinho. 

 

Yangchen franziu os olhos. Kavik percebeu que ela estava reunindo força suficiente para entrar no redemoinho mais uma vez. — Digamos que você consiga trazer seu irmão para a mesa, — ela finalmente disse. — Uma ameaça não pode ser vazia. Se Kalyaan não ceder, ou se ele parar por muito tempo, então o quê? Você vai seguir em frente e servi-lo para Chaisee em uma bandeja?

 

Ele tinha uma resposta pronta.

 

— Se chegar a isso, — disse Kavik. — Primeiro, recorreríamos ao plano de reserva. — Ele explicou o que tinha em mente. Em termos gerais, pegando leve o tanto quanto possível.

 

— Não. — Yangchen se endireitou. Ele a trouxe de volta ao estado de alerta. — Você está com muita raiva? Nós não vamos fazer isso.

 

— Kalyaan tem uma fraqueza, — disse Kavik. — Eu. Eu digo que devemos aproveitar o máximo possível.

 

Uma verdade viajou com sua família, sobrevivendo à jornada de sua casa no Norte, para Bin-Er, depois Jonduri e agora Taku em um circuito pelas cidades shang. O irmão de Kavik o amava e sempre o protegeria.

 

Eles poderiam explorar esse amor.

 

— O tipo de estratagema de que você está falando é repreensível, — disse Yangchen. — Pouco melhor do que tortura real. Não posso fazer parte de tal esquema.

 

— Você certamente seria maculado se concordasse com o meu plano, — concordou Kavik. — É quase como se você tivesse que expiar, passando o resto de sua vida trabalhando para trazer equilíbrio às Quatro Nações. Você pode até ter que continuar depois de morrer.

 

Yangchen olhou para ele, seus olhos selvagens com descrença em sua impudência.

 

— O que? — Kavik moldou seus lábios na forma mais sociável que  conseguiu. — Você tinha planos diferentes em mente para sua próxima vida?

 

Ela jogou os cobertores em seu rosto e saiu do quarto. Não demorou muito para que ele a ouvisse dando novas ordens aos outros, pedindo para ver os mapas de Taku novamente. Alguém rasgou o saco de pães. Nem mesmo o Avatar poderia lutar com o estômago vazio.

 

Ele sorriu para si mesmo. — Fico feliz em ser útil.

 


 

HOJE

 

Quando Jujinta voltou para dentro do farmacêutido depois de entregar a mensagem a Yangchen no salão de convocação, o clima era tudo menos triunfante. Ele olhou em volta para Kalyaan caído no canto, amarrado como um pássaro assado, Tayagum tentando extrair Akuudan do colete cheio de laca de sangue que havia ficado preso, Kavik aplicando um remendo em seu ferimento muito real e ainda muito doloroso. — Nós paramos de fingir?

 

Eles devem ter parecido uma verdadeira coleção de mestres espiões. — Sim, — disse Kavik. Ele se mexeu errado e sibilou com o choque que percorreu sua espinha. — Você teve que me cortar tão fundo?

 

— Eu disse que ia doer de verdade. O que você esperava?

 

Kavik supôs que Jujinta havia desempenhado seu papel perfeitamente, fazendo o ferimento parecer sério o suficiente para enganar o olho experiente de Kalyaan, mas não tão grave a ponto de matá-lo. Ele não queria pensar em como seu ex-parceiro aprendeu a parar sua lâmina exatamente no nível certo. Tentativa e erro necessários erros.

 

Tanto esforço e ainda não haviam conquistado a vitória que ele almejava. Eles só poderiam armar o Avatar com mais informações e esperar que ela pudesse usá-las para obter uma posição melhor contra Chaisee. No mínimo, eles estariam deixando a cidade com Kalyaan a reboque.

 

— O que fazemos agora? —  perguntou Jujinta.

 

Kavik fez uma careta. — Nós permanecemos pacientes e-

 

O gongo de Taku soou.

 

Eles não estavam nem perto da marca da hora. A essa distância do centro da cidade, o metal era um zumbido baixo e contemplativo. As cabeças de todos na sala se ergueram coletivamente.

 

Um segundo pedágio.

 

Kalyaan começou a rir. — Seus amadores insignificantes. Vocês deram o jogo inteiro. Sua Avatar atrapalhada vai nos levar para o nosso…

 

— Pare de falar, — disse Kavik. Ele jogou a bandagem encharcada no irmão e cobriu a boca de Kalyaan com o pano. Eles precisavam ouvir.

 

O terceiro toque soou.

 

Akuudan estremeceu. — É isso, — disse ele, desanimado. — Acabou.

 

— Não, — disse Kavik. Ele se levantou da cama, mancou e estendeu a mão para colocar a mão no ombro do homem. — Acredite nela. — Mesmo que seja tudo o que nos resta.

 

Ele chamou Tayagum e Jujinta para mais perto. Eles pareciam entender. Juntos, os quatro cerraram fileiras e formaram um círculo, os braços se abraçando. Kavik havia se reunido com sua mãe e seu pai assim uma vez, enquanto a Unanimidade rasgava os céus acima de Bin-Er. Desta vez, os companheiros do Avatar se encolheram no silêncio, esperando seu fim, cada momento que passava era outro golpe.

 

Kavik preocupou o interior de seu lábio até que provou sal e cobre. Ele podia ouvir Tayagum e Akuudan suplicando a Tui e La da mesma forma que os pais pediriam que seus filhos voltassem para casa em segurança. Ele podia sentir Jujinta balançando no lugar, adicionando seu fervor ao apelo deles.

 

Quanto a si mesmo, ele simplesmente contou. Devagar.

 

Por volta de cem ele encontrou coragem para falar. — Eu não ouço explosões, — ele murmurou. 

 

— Eu pensei ter sentido o chão tremer por um momento, — disse Jujinta sob sua respiração. — Mas eu poderia estar imaginando isso. 

 

Eles esperaram mais. Duzentos.

 

A esperança começou a bombear nas veias de Kavik, descongelando e quebrando seu corpo congelado. Se o comando para Thapa tivesse sido entregue e nenhuma detonação tivesse ocorrido, isso só poderia… bem, provavelmente significa uma coisa. 

 

Trezentos..

 

Tayagum foi o primeiro a anunciar os resultados do concurso, sem medo de tentar o destino. — Você sabe o que? —  ele disse a Kalyaan, que olhou furiosamente para eles por cima da mordaça. — Acho que nosso chefe acabou de bater no seu chefe. 

 

Kavik também pensava assim. Ele soltou o suspiro mais longo de sua vida, o queixo caindo no peito. 

 

Só quando ergueu a cabeça novamente percebeu que ele e o outros ainda estavam abraçados em um abraço apertado. Ninguém solte.

 

A vitória havia se transformado em constrangimento. — Então…  — Kavik disse. — Nós quatro somos quadrados?

 

Ele foi recebido com uma rodada de olhares gelados. — Você tem que estar brincando comigo! —  ele chorou. — Depois de tudo que passamos? — 

 

Um barulho bizarro de engolir veio de sua esquerda. Jujinta estava rindo. — Rindo.

 

Akuudan e Tayagum começaram a sorrir. Eles estenderam a mão para ele ao mesmo tempo, suas mãos brigando para ver quem poderia bagunçar o cabelo de Kavik com mais força.

 

— Eu odeio todos vocês, — resmungou Kavik.

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Capítulo 35