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O Legado de Yangchen: Segunda Opção

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Vigie a retaguarda de Jujinta, Kavik resmungou a si mesmo. Eu fiz o Jujinta.

 

— Não pise nos caranguejos-eremitas — Jujinta disse enquanto corriam pelo caminho de bordas douradas que levava ao interior do Templo do Norte, como se Kavik, em outro momento, não tivesse sido um convidado ali e se alimentado debaixo daquele teto bem antes de seu parceiro ver o lugar.

 

Um gongo começou a soar, num ritmo equilibrado de um, um-dois, um, um-dois. Kavik imaginou que o padrão fosse um código para alertar sobre um deslizamento de rocha, ruim o suficiente para exigir todas as mãos no convés. O grande salão de entrada já estava vazio.

 

Eles alcançaram o chafariz de bisão nos fundos. Kavik esperava conseguir um pouco de água lá, mas o escoamento havia parado e o reservatório estava seco. Talvez só funcionasse durante determinadas estações. Um jovem monge correu para fora do arco que conduz aos claustros, apressado para se juntar aos irmãos e ajudar o vilarejo.

 

Kavik reconheceu o jovem de sua visita prévia; ele estava batendo os pés em um dos vários conjuntos de escadas do templo quando eles se esbarraram. O monge derrapou até parar. Kavik estava prestes a pedir direções para a acomodação de visitantes do andar de baixo, e perguntar se era possível obter água no caminho, antes de perceber que o dominador de ar não havia parado por ele.

 

— Mestre Jujinta! — O monge se curvou na altura da cintura, esperando por ordens.

 

— Estamos bem; ajude os outros lá fora — Jujinta disse. O comando poderia ter vindo da própria Avatar, dada a rapidez do jovem para obedecê-lo e sair correndo novamente. O gongo continuava a bater.

 

Kavik se encontrava irritado. “Mestre” Jujinta?

 

— Espero que saiba aonde está indo.

 

Ele só está passando mais tempo no templo que você, só isso.

 

— Eu sei. — Jujinta passou por uma porta que Yangchen nunca havia se dado ao trabalho de mostrar a Kavik. Fechaduras eram uma raridade no templo até onde ele havia visto. — Essa é a única forma de Henshe escapar sem cair de um penhasco.

 

Eles desceram até um complexo de passagens escavadas na pedra da própria montanha. Naquele espaço escuro, Kavik pensou ter avistado uma formação de homens e mulheres prontos para emboscá-los. Seu coração pulou em seu peito. Mas eram apenas mais estátuas em mais alcovas. A estética dos Nômades do Ar ainda prevalecia sob a superfície.

 

A semelhança entre os antigos anciãos do templo havia o surpreendido na primeira vez que os viu, limpos pela brisa, cobertos por raios de sol em suas expressões serenas. Uma conexão com o passado que ele podia apreciar.

 

Mas agora eles o enchiam de medo, como se estivesse sendo encarado por cadáveres. Pior de tudo eram os espaços vazios que ainda seriam preenchidos. Ele podia ouvir a voz de Yangchen em sua cabeça, formal e irreverente, como ela normalmente soava. É pra lá que vou quando eu morrer.

 

E ainda não havia água por perto. Ele lembrou que monges carregavam água para todos os lugares como uma prática para saber o peso dela e serem gratos por isso, como o garoto do andar de cima estava fazendo quando se encontraram pela primeira vez. Na opinião de Kavik, os Nômades do Ar não precisavam ser tão humildes o tempo todo. Uma torneira com água corrente teria sido útil neste momento.

 

Jujinta o guiou para dentro de um corredor de madeira que se curvava conforme a montanha. Feixes de luz vazavam por janelas de papel manteiga, e um carpete azul escuro espetacularmente longo abafava o som de seus passos. Essas eram características que normalmente não estavam presentes nas outras partes do templo. Era como se os monges houvessem tentado deixar pessoas de fora confortáveis ali dentro.

 

Mas provavelmente não aquelas pessoas de fora específicas. Cinco homens estavam no corredor. Eles não eram monges. Eles haviam feito uma boa tentativa de se vestir como os habitantes do vilarejo local, usando roupas de frio grossas e cobertas por poeira de montanha. Os instintos de Tayagum estavam certos. O Zongdu Henshe estava tentando fugir.

 

— Vocês não deveriam estar aqui — Jujinta alertou. — Essa é uma área restrita.

 

O termo soou áspero e não era por causa do timbre monótono de Jujinta. Em geral, não havia tantas áreas restritas dentro do Templo do Ar. Nômades do Ar eram ensinados o contexto de um lugar secreto ou sagrado. E, como indivíduos, escolhiam não entrar em espaços que não eram para eles. Kavik se lembrou de um monge contando uma história durante o jantar sobre ter encontrado, por acaso, uma sala de abadessas visitantes realizando um ritual de incenso. Elas o expulsaram apenas lançando olhares questionadores, sem pausar seu cântico para gritar com ele.

 

Os homens não se moveram.

 

— Valentões — rosnou Jujinta, transbordando de desprezo pela sua ocupação antiga. Devagar, ele sacou uma faca da bainha que estava na parte inferior de suas costas.

 

Algo está errado, pensou Kavik. Capangas profissionais não teriam empalidecido como eles ao ver uma faca. Um dos homens, magro e bronzeado como um agricultor, ergueu suas mãos:

 

— Espere. — Sua voz tremeu. — Ninguém falou nada sobre facas.

 

O líder estufou seu peito para parecer maior:

 

— Cale a boca, Hosung. Todos vocês, fiquem parados e mantenham suas posições.

 

— Eu não vou morrer por algumas pratas! Vou embora!

 

Kavik se colocou na frente de Jujinta antes que ele derramasse sangue no solo sagrado — isso se o espaço de visitas também contasse como tal.

 

— Espere. Vocês macacos-javali são realmente do vilarejo? Alguém pagou vocês para vir aqui e nos enrolar?

 

— Ele sabe! — Hosung gritou. O homem de olhos largos correu de seus companheiros. Kavik foi para o lado deixando-o passar.

 

Jujinta, entretanto, esticou um braço sólido como um galho de árvore e atingiu a garganta do homem. A própria aceleração de Hosung fez com que saísse derrapando pelo chão. Seu rosto amontoou o carpete em várias dobras antes que seu corpo fraco atingisse o repouso.

 

O restante do grupo foi obrigado a tomar uma decisão. Eles tinham que decidir quem era o mais intimidador: o assassino de olhar morto atrás de Kavik, ou o líder não tão autoconfiante.

 

— Eu acho que vocês deveriam ficar de joelhos, colocar as mãos na cabeça e fechar os olhos até voltarmos — disse Kavik.

 

O templo era um lugar tão enriquecedor espiritualmente que as qualidades dos Nômades do Ar contagiavam seus visitantes. Com uma elegância silenciosa, os intrusos do vilarejo voluntariamente escolheram aceitar sua proposta.

 


 

Kavik sentiu como se um pelo estivesse grudado em sua garganta. Uma coceira que não conseguia engolir.

 

Durante seus dias trabalhando de aluguel em Bin-Er, seu tempo na associação de Jonduri e seu treinamento na Lótus Branco, ele veio a perceber que jogadores do jogo, o jogo, tinham seus próprios estilos individuais. A Avatar era uma estudiosa, alguém que gostava de se preparar o máximo possível e saber coisas que os outros não sabiam. Yangchen se esforçava muito antecipadamente para que pudesse conter danos e prevenir vidas perdidas, o equivalente a um jogador de Pai Sho que tinha memorizado todas as jogadas de abertura relevantes para diminuir o tempo dos jogos.

 

A Zongdu Chaisee, se os rumores circulando pela Lótus Branco forem verdade, era o completo oposto. Um demônio que guardava seus segredos durante atrocidades. Ela encheria o estofado de seu assento com toxina em pó e esperaria você cair sobre o tabuleiro. Vitória por ser a única sobrevivente.

 

Causar um deslizamento como distração e colocar tolos do vilarejo no corredor para ganhar tempo de fuga estavam em outro nível de insensibilidade. Cruel por meio de uma indiferença absurda. Se Hosung e os outros tivessem sido um pouco mais corajosos, poderiam ter sido mortos. Kavik imaginou que fosse uma atitude apropriada para o Zongdu Henshe, que se importava apenas com seus objetivos a curto prazo, nada além disso.

 

A coceira em sua garganta se tornou náusea quando viu dois monges caídos contra a parede, sangrando pela cabeça. Alguém responderá por isso, pensou com fúria ao se aproximar rapidamente.

 

Kavik ajoelhou e examinou suas feridas. Cada um havia sofrido uma forte pancada na cabeça, mas felizmente ainda estavam vivos. Atrás deles, uma porta trancada por dentro havia sido aberta à força.

 

Guardas e trancas. É claro que Yangchen teria tomado precauções. Jujinta apoiou suas costas na parede e abriu a porta sem se expor. Seu cuidado era garantido. Obter vantagem sobre um Nômade do Ar não seria uma tarefa fácil.

 

O cômodo se revelou fragmentado para Kavik. Papéis esvoaçantes, livros espalhados. Uma cama que não foi arrumada. Uma poça de sangue no chão. O Zongdu Henshe estava caído no canto, com seus olhos vidrados que não piscavam olhando para o teto. O prisioneiro da Avatar estava morto.

 

Jujinta foi de imediato para a pequena janela. Não teria sido a saída mais confortável, mas alguém magro o suficiente poderia ter sido capaz de se espremer através dela.

 

— Nenhuma marca de arranhão na borda da janela — disse ele. Ele colocou a cabeça para fora e o vento bagunçou seu cabelo. — Não vejo ninguém no penhasco. Nenhum prego ou corda deixados para trás. Eu não conseguiria escalar essa superfície sem equipamentos.

 

Kavik encostou no corpo de Henshe, parando brevemente para refletir sobre a última vez que havia tomado conta de um defunto com Jujinta num reboque. Pobre Qiu. Kavik ficou adoentado por horas após aquilo. Agora, aqui estava ele, tomando liberdades como um ladrão de túmulos. O que havia acontecido com ele? Talvez a exposição à Avatar e à Lótus Branco tivesse lixado sua decência como areia soprando numa pedra.

 

Ele teria que continuar e determinar a causa da morte. Kavik ficou confuso por um momento até que percebeu que havia acontecido não pela frente ou pelas costas, mas pelo lado. O antigo Zongdu de Bin-Er havia sido apunhalado na axila por um objeto muito longo e muito fino que não podia ser encontrado no quarto. O ferimento era um canal limpo que atravessava pulmão, coração e pulmão, da forma como você posicionaria uma flecha para matar instantaneamente um caribu com barbatanas.

 

Kavik examinou o quarto novamente. Ele notou um detalhe que antes havia passado despercebido. Próxima à cama, a poça de sangue prestes a congelar de Henshe encontrava a beira de outra poça, que era puramente de água, os líquidos se encontravam numa cor de rosa oscilante. O assassino havia deixado sua arma derretendo sem se preocupar em secar a cena do crime propriamente antes de fugir.

 

Ele levantou com suas mãos na cabeça, contraindo suas bochechas em choque. Não foi o estilo de Henshe que Kavik achou familiar. Por todos seus talentos e criatividade, Kalyaan costumava gostar de poupar esforços.

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Capítulo 11