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O Legado de Yangchen: Extração

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Em um testemunho de sua habilidade, indiferença e arrogância, o irmão de Kavik não deixou instruções particulares sobre como organizar um encontro. Confie em mim, novamente. Sempre, confie em mim. Eu conseguirei te encontrar.

 

Ao romper da aurora, antes que a luz sobre Taku terminasse de emprestar cores à cidade e o horizonte ficasse cinza contra as nuvens, Kavik entrou em um pequeno parque vazio, a minúscula interseção de cinco pequenas ruas, e sentou-se em um banco. Ali ele esperou.

 

O bairro parecia estar em uma transição, várias lojas no térreo no meio do fracasso enquanto novas começavam a surgir. Uma faixa caída acima de uma fachada desgastada prometia a abertura em breve de um novo restaurante de frango-comodo. Ele não poderia ter sido a primeira pessoa a notar a suprema ironia de que ela estava pendurada sobre a placa desgastada de um restaurante de frango-comodo mais antigo.

 

Esperança é eterna, ele pensou. Afinal, olhe para ele. Prestes a entrar em mais uma rodada com a única pessoa que sabia que não poderia vencer. Pássaros cantavam e piavam em uma árvore próxima. Kavik jogou a cabeça para trás, fechou os olhos e deixou o sol aquecer seu rosto. Ele tinha que garantir que suas feições estivessem expostas de todos os ângulos.

 

Depois de meia hora ter passado, por sua estimativa, sua paciência foi recompensada. O banco rangeu com o peso extra. Kavik nunca aderiu às teorias sobre mascarar a própria presença ou ler auras, mas se houvesse alguma pessoa que pudesse controlar exatamente quanto rastro eles queriam deixar no mundo, era seu irmão mais velho.

 

— Se você precisa tirar uma soneca, tire — disse Kalyaan. — Você parece que não tem dormido.

 

Os dois mantiveram seus olhares em uma cova seca em forma de crescente com uma pequena ponte arqueada que teria sido inútil mesmo após o recurso aquático ser concluído. — E você consegue descansar fácil? — Kavik estalou. — Depois do que você fez? Os pesadelos que você teve parte?

 

— Não faço ideia do que você está falando — disse Kalyaan. Ele alisou o cabelo para trás. Ele o usava muito mais longo do que costumava; logo ele poderia imitar os estilos populares na Nação do Fogo. — Você ainda está chateado com Bin-Er? Aquele lugar não era nosso lar.

 

Espíritos chupando algas. — Não me venha com essa! — Kavik gritou através de um peito constrito, esforçando-se para manter a voz baixa. — Eu vi a ilha onde a Unanimidade foi criada com meus próprios olhos! Eu vi o que você e Chaisee fizeram com aquelas pessoas!

 

— Certo, então aqui vai uma lição para você. Listar coisas que você aprendeu não te garante uma confissão de quem você quer. — Kalyaan parecia igualmente divertido e insultado. — Eu não sou um ladrão de rua de dois cobres que vai dobrar sob pressão só porque o magistrado aponta o dedo e grita ‘Eu sei que você sabe o que eu sei!’ Tenha um mínimo de respeito por mim, por favor.

 

Um flutter, talvez aquela esperança frágil que Kavik buscava, fez cócegas na parte de trás de sua garganta. Ele poderia ser perdoado por desejar um irmão que ainda fosse humano.

 

Mas como sempre, Kalyaan continuou falando e estragou tudo por descuido, superioridade, ambos.

 

— O que eu posso dizer é que é extremamente difícil reunir um grande número de pessoas em uma área isolada por um período prolongado de tempo em segredo sem compensá-las adequadamente. Talvez essas… pessoas pelas quais você está tão chateado tenham feito a escolha de fazer… seja lá o que for… por vontade própria. E receberam um pagamento justo em troca.

 

Era difícil dar um soco em alguém sentado ao seu lado, mas Kavik tentou mesmo assim. Ele quase deslocou o próprio ombro por causa disso. Durante a conversa, Kalyaan havia deslizado alguns fios de água de uma pele escondida ao redor da cintura de Kavik, por trás do banco sem que ele notasse, algemando seu braço dominante no lugar.

 

Kavik praguejou e chutou poeira em seu irmão. Em sua mente, ele viu a cadeira com correias, aquela cadeira horrível que o Avatar havia enterrado profundamente dentro da terra.

 

— Ei! Calma lá! — Kalyaan relaxou seu aperto sobre a água e a pressão desapareceu do pulso de Kavik. — O que deu em você? Você nunca foi tão nervoso assim.

 

— Talvez seja porque eu descobri que sou parente de um monstro!

 

— Meu chefe não me conta tudo sobre suas operações. Isso se chama compartimentalização da informação. Uma prática que você e o Avatar deveriam ter mantido.

 

A Lótus Branca valorizava a opacidade da maneira que ele descreveu. Yangchen simplesmente confiava nas pessoas que pensava serem suas amigas. — Vamos queimar você — Kavik rosnou.

 

Kalyaan se inclinou para frente, finalmente interessado.

 

Uma das dificuldades surpreendentes em chantagear alguém era informá-lo de que estava sendo chantageado em primeiro lugar. — Se você não entregar Thapa, o Avatar vai contar para Chaisee que você originalmente se juntou à organização dela como um agente de Zongdu Henshe — disse Kavik.

 

— Ah — foi a única resposta de Kalyaan.

 

— Tenho certeza de que você está lidando com Thapa na cidade, porque não conseguimos encontrá-lo. — O elogio poderia temperar o prato que Kavik estava tentando servir. — Eu admito a derrota e o Avatar também. Você nos venceu no jogo de espionagem, então partimos para a sujeira. Nos dê Thapa e seu segredo fica seguro por enquanto.

 

— E o Avatar sabe que, ao cumprir sua ameaça, ela estaria me entregando a uma pessoa que, muito provavelmente, me faria gritar por morte por dias a fio? Semanas?

 

— Ela não se importa.

 

— Não acredito em você. Ela é o Avatar. Princípios dos Nômades do Ar e tudo mais. Coerção e ameaças de violência são proibidos.

 

— Ela não se importa — Kavik repetiu. — Você e Chaisee custaram mais a ela do que vocês jamais saberão, e ela quer ver vocês sangrarem.

 

— E você? — disse Kalyaan. — Essa é a verdadeira questão aqui. Você quer me ver sofrer? Você sabe que vai ter que testemunhar perante Chaisee para que esse plano realmente funcione. Se fizer isso, você pode muito bem ser o que segura a faca de esfolar.

 

Ele estava certo. O outro desafio em queimar alguém era preparar a mesa para o público. Você não podia simplesmente jogar uma história pela janela em um estranho; você precisava de acesso à pessoa que segurava o bastão, e uma vez que você o tivesse, credibilidade. A verdadeira identidade do Mestre Lio era a evidência, a tocha que colocaria Kalyaan em chamas, e apenas sua palavra seria suficiente. Ele provavelmente teria que entregar a notícia pessoalmente a Chaisee e reviver sua antiga vida no Norte. Sem Kavik, a acusação pareceria meramente um ardil do Avatar.

 

— Olhe nos meus olhos e me diga que você ficaria bem me vendendo — disse Kalyaan. — Diga-me que você conseguiria viver consigo mesmo sabendo que foi responsável pelo fim prematuro de seu próprio sangue.

 

Kavik manteve seu rosto imóvel, sabendo que isso era um sinal em si mesmo. Tentar se esconder de seu irmão era fútil. — Eu ficaria bem vendo você receber o que merece.

 

Me jogue ao mar, — murmurou Kalyaan. Suas mãos subiram, depois desceram em suas coxas com um aplauso. — Você realmente faria isso, não é? Não porque você quer, mas porque o Avatar assim o deseja. Ela te convenceu de que sua pureza está em jogo, e não importa para ela que a decisão vá te assombrar pelo resto da sua vida.

 

À medida que o sol se levantava, a atividade também aumentava pelo bairro. Alguns quarteirões abaixo da rua, pessoas a caminho do trabalho cruzavam rapidamente de um canto para o outro, existindo apenas em uma fina fatia de perspectiva. Um marionetista poderia fazer uma multidão barata arrastando um espectador pelo palco, mergulhando-os fora de vista e, em seguida, repetindo o ciclo.

 

— Você sabe por que ainda não me alcançou? — disse Kalyaan. — Não é porque eu sou melhor em me esgueirar, seguindo pessoas, nada disso. É porque você é incapaz de tomar decisões com sua própria vontade livre.

 

— Ah, vá se molhar.

 

— Não, eu falo sério. Você está constantemente olhando por cima do ombro em busca de aprovação. Você não consegue escolher um caminho quando não há uma parte externa para julgá-lo. Há um guru chamado Shoken que você deveria ler; você é um exemplo perfeito do ‘Homem Acorrentado’ dele.

 

— O quê, em contraste com você?

 

— Sim. Quando contei a Chaisee que você era meu irmão, não havia ninguém para me dar um tapinha na cabeça e dizer Bom trabalho, você fez a escolha certa. Eu apenas assumi o risco por conta própria.

 

À distância, um carregador puxando um carrinho pesado sobrecarregado com cenouras e repolhos conseguiu atravessar a diagonal de um cruzamento antes que Kavik pudesse reunir sua voz. — Espera, o quê?

 

Espera, o quê? — Kalyaan zombou. — Chaisee sabe que você é meu irmão e um espião do Avatar. Seu plano de me queimar não vai funcionar. Eu me abri para ela sobre minhas origens há algum tempo e ela me perdoou por trabalhar com Henshe. Eu me tornei o papel. O homem de Zongdu de Jonduri, de corpo e alma.

 

Informação, essa moeda mais estranha. Kavik e o Avatar não contavam com um segredo precioso sendo dado tão livremente, e agora o chão havia desabado sob ele. Alguns momentos atrás, a única coisa em que ele e seu irmão concordavam era na capacidade inabalável de Chaisee de prejudicar aqueles que a traíram. — Você está mentindo, — disse Kavik. — Chaisee nunca deixaria você passar. Ela teria te matado na hora.

 

Kalyaan deu de ombros. — Eu não sei. Por que ela não mostraria alguma leniência para o pai de seu filho?

 


 

Tudo o que eu faço, faço pela família.

 

Kavik baixou a cabeça nas mãos. Seu próprio grito de frustração abafado voltou para o seu rosto.

 

— Desculpe. — Kalyaan deu-lhe um tapinha nas costas. — Você não é mais o bebê da família. Coisas duras, mas você vai se acostumar a ser tio.

 

Enquanto Kavik tremia, Kalyaan circulava sua palma, aquecendo-o com fricção como se para ajudá-lo a combater um enjoo. — Você e o Avatar não podem me queimar. Vocês não têm combustível para o fogo. Isso só mostra, a honestidade realmente é a melhor política. Eu realmente acredito nisso agora, e é por isso que vou te contar o que vai acontecer a seguir.

 

Kalyaan inclinou-se para o ouvido de Kavik. — Chaisee não é a pessoa sem coração que você pensa que ela é. Ela aceita cunhados desgarrados e quer que estejamos juntos. Você vai vir comigo, agora mesmo, e vamos deixar Taku. Vamos encontrar uma maneira de coletar nossos pais, e então todos nós vamos viver o resto de nossos dias felizes e livres, completamente intocáveis pelo resto do mundo.

 

— Você enlouqueceu. — Kavik empurrou seu irmão para longe. — Você perdeu completamente a noção.

 

— Nah, eu apenas tenho fé na mulher que amo. Ela vai lidar com sua chefe em breve. — Ele apontou na direção geral do salão de convenções.

 

Yangchen. Ela estava em perigo. Kavik saltou do banco, mas Kalyaan agarrou a parte de trás de seu pescoço e o jogou para baixo com força suficiente para enviar um choque através de seu cóccix. — Não, não, não, sem fugas agora. Isso tornaria isso um sequestro. Você não vai me transformar em um sequestrador.

 

Ele fez um gesto em direção ao restaurante de frango-comodo. Um homem saiu, magro e esguio. Tael. Atrás dele seguiram seis homens com a postura de capangas de uma associação.

 

Kavik percebeu que não havia se dado valor suficiente. Ele poderia fazer tanto Thapa quanto seu irmão. Ele tinha visto a ilha onde a Unanimidade havia sido treinada e falado com um de seus ativos em desenvolvimento. Ele era uma riqueza de informações parciais e Chaisee se beneficiaria de tê-lo sob seu controle, se não morto.

 

Ele havia caído direto nas mãos do inimigo. Presenteou-lhes a chance de agarrá-lo.

 

Os membros da associação formaram um semicírculo ao redor do banco. — Que prazer te ver novamente, — disse Tael. — Qual é o problema? Sem cumprimentos para um velho amigo?

 

Ele não sabia o quanto Kavik o odiava. Tael era o que o havia forçado a se desfazer do corpo de seu antigo corretor em Jonduri, e ele havia assassinado um membro da equipe de missão de Kavik a sangue frio. Kavik inclinou-se e cuspiu no pé de Tael. Sendo a honestidade a melhor política.

 

O rosto de Tael escureceu enquanto Kalyaan ria. Ele sabia que Kavik não tinha nada em seu arsenal além das armas de um irmão mais novo, gestos de birra e recusas. — Eu não vou a lugar nenhum com esses porcos-ratos, — disse Kavik ao irmão. — O que você está planejando fazer comigo, afinal? Me manter prisioneiro até eu mudar de ideia e te perdoar?

 

— Prisioneiro é um termo relativo, — disse Kalyaan. — Eu te conseguiria um quarto bonito em algum lugar. Henshe estava bem confortável em seus aposentos aconchegantes no Templo do Ar do Norte. Sabe, antes de eu enfiar um pedaço de gelo pelos seus rins.

 

— Chefe-chefe, — disse Tael, seus olhos fixos em algo atrás deles.

 

Kalyaan olhou por cima do ombro e Kavik captou uma expressão rara de surpresa no rosto de seu irmão. — Bem, o que temos aqui? — murmurou Kalyaan. — O Avatar não costuma andar com uma turma de aparência tão duvidosa.

 

Do outro lado do parque, um grupo de homens e mulheres, sete no total, convergiu para o banco de diferentes direções. Um deles era Do. A Lótus Branca havia seguido Kavik até o encontro com seu irmão sem contar a ele, não no show de força em grupo que a associação usava para intimidar trabalhadores de armazém, mas por rotas e estações separadas, cada uma imperceptível, como verdadeiros profissionais.

 

A visão do reforço deveria ter animado Kavik. Mas se o esquadrão de Do o havia seguido por preocupação com sua segurança, eles teriam lhe dito com antecedência. Não havia razão para deixá-lo no escuro. A menos que —

Kavik fechou os punhos. A Lótus Branca não estava aqui por ele. Eles estavam aqui por Kalyaan. Seu empregador havia desistido de Thapa e mudado o foco para capturar seu irmão.

 

Kalyaan poderia dizer-lhes como fazer mais da Unanimidade, um corpo destruído por vez. Ele poderia dar à Lótus Branca as chaves para um poder maior do que qualquer nação poderia convocar. Comparado ao seu irmão, Kavik era simplesmente a isca. Eles não o informaram que estariam de olho nele porque não queriam que ele alertasse seu verdadeiro prêmio.

 

Dois planos de sequestro diferentes colidiram. Kavik pôde ver as páginas de Kalyaan virando, os cálculos dançando atrás de seus olhos. — Bem, isso está prestes a se tornar uma confusão, — ele disse a Kavik. — Esses amigos seus sabem que Feishan está em Taku?

 

— Sabem. — Kavik levantou-se novamente, desta vez sem impedimentos, e fez uma rápida volta para ver quão em perigo eles estavam de serem descobertos. Ao redor deles, as janelas dos andares superiores estavam escuras ou fechadas. Os pedestres continuavam a viajar pelas vias principais a alguns quarteirões de distância, distraídos com seus negócios. Não uma bolha perfeita, de forma alguma.

 

— Eles podem ser discretos? — perguntou Kalyaan.

 

— Podem.

 

Os homens da associação se espalharam, emparelhando-se com um número oposto na Lótus Branca. Com movimentos exagerados, Tael girou o dedo no ar e depois o pressionou contra os lábios.

 

Do acenou e flickou sua mão em direção ao chão. Uma fina adaga de fogo disparou de seu pulso. Kavik sabia, por suas sessões de treinamento, que Do preferia a base da palma da mão como a fonte de sua chama em vez da empunhadura de picareta usada pela maioria dos outros praticantes da técnica. Isso permitia um empurrão mais vigoroso, um cozimento mais profundo dos órgãos internos da vítima.

 

Facas caíram das mangas. Os Dobradores de Terra de ambos os lados puxaram lâminas afiadas de pavimentação do chão; os Dobradores de Água desenharam lâminas líquidas e garrotes de bolsas escondidas sob suas roupas.

 

— Não se mexa, — disse Kalyaan, levantando-se, e de repente ele era o irmão protetor novamente, aquele que protegeria Kavik da tempestade com seu corpo. — Mantenha a cabeça baixa e fique parado até eu dizer o contrário. Eu vou te tirar daqui.

 

Permanecer sentado na plateia. Fingir não fazer parte da feiura. Era tarde demais para isso. As duas linhas de assassinos se fecharam ao redor deles.

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Capítulo 28