No final da semana, Roku não pôde deixar de sentir como se Ta Min estivesse no templo há anos, em vez de dias. Mesmo sendo uma hóspede, ela se juntou aos Nômades do Ar em suas sessões de meditação, orações e tarefas. Ela compartilhou as refeições vegetarianas e parecia realmente gostar da comida. Brincava com as crianças durante o dia e mantinha longas conversas com a Irmã Disha, o Abade Rabten e outros anciãos à noite, aprendendo mais sobre a cultura dos Nômades do Ar em alguns dias do que Roku havia aprendido em meses. Ela até começou a usar as vestes deles quando a Irmã Disha – cuja opinião sobre a visita mudou quanto mais conhecia Ta Min – lhe deu um conjunto.
À medida que o final da estadia de Ta Min se aproximava, a Irmã Disha concordou em deixá-los voar com Amra até a base da montanha. A única condição da Monja do Ar era que levassem Gyatso – com quem ela continuava tentando forçar Roku a passar um tempo por algum motivo. Felizmente, depois de aterrissarem, o menino disse que preferia ficar com Amra, então Roku e Ta Min seguiram sozinhos para a vila.
— Acho que a Irmã Disha está pronta para te conceder suas setas — ele disse enquanto caminhavam pelo caminho que cortava a densa floresta. Era um dia perfeito de final de verão, o ar estava fresco e quente com um toque de outono. Folhas amarelas como manteiga flutuavam acima enquanto a luz do sol salpicava o trilho.
Ta Min riu. Roku já sentia falta dela.
No dia seguinte, ela voltaria para a Nação do Fogo, e Roku partiria com os Nômades do Ar para mais uma temporada de missões de ajuda. Eles teriam que passar o resto do dia se preparando para suas viagens, então essa rápida ida à vila para provisões seria seu último momento a sós juntos.
Roku passou a manhã angustiado sobre confessar seus verdadeiros sentimentos a Ta Min e estava inclinado a fazê-lo se o momento certo se apresentasse. Talvez fosse agora.
— Mas, falando sério, — Roku continuou —, invejo a forma como você parece estar em casa aqui. Como você faz isso? Como você se ajusta tão facilmente?
Ela deu de ombros.
— Eu gosto de pessoas. E se quero ser uma grande diplomata, preciso aprender o máximo que puder sobre culturas diferentes. Talvez seja parecido com o Avatar nesse aspecto – fora a parte das dobras, é claro.
Roku assentiu.
— Talvez você esteja certa. A Irmã Disha continua me dizendo que sou um espírito de nenhuma nação. Tenho tentado descobrir o que isso significa lendo sobre minhas vidas passadas, mas talvez eu só precise aprender mais sobre o mundo.
— Hmm. Um espírito de nenhuma nação? Uma expressão engenhosa, mas não acho que esteja certa.
Roku deu um sorriso torto para Ta Min.
— Você discorda da pessoa escolhida pelo Conselho de Anciãos dos Nômades do Ar para treinar o Avatar sobre a natureza do Avatar ?
— Isso não é permitido?
— Me conte mais.
— O Avatar renasce em uma nação diferente de acordo com o ciclo das estações. Então, parece-me que passar um tempo como parte de cada nação é essencial para ser o Avatar. Talvez seja necessário se importar profundamente com sua terra natal para que você possa entender como os outros se sentem sobre as deles. Uma vez que você compreenda plenamente que cada uma é tão valiosa – e tão falha – quanto as outras, isso pode te motivar a buscar paz e equilíbrio entre as Quatro Nações. — Ela pensou por um momento. — Talvez seja menos sobre ser um espírito de nenhuma nação e mais sobre ser um espírito de todas as nações.
Roku a observou, totalmente impressionado.
— Você vai ser uma grande diplomata.
Ta Min afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha e sorriu.
— Obrigada.
— Mas vou manter sua crítica sobre as crenças centrais da Irmã Disha para mim, para que você não perca a apreciação dela.
— Meu herói, o Avatar — disse Ta Min, juntando as mãos em frente ao coração.
Enquanto caíam em um silêncio confortável, Roku continuava a considerar a perspectiva de Ta Min, admirando a forma como sua mente funcionava e desejando que tivessem mais tempo. Mais tempo para passear pelos jardins do templo, para fazer artes terríveis na areia, para ler em voz alta um para o outro na biblioteca, para cuidar dos animados bebês Nômades do Ar juntos, para adivinhar o animal que o outro estava tentando criar com a dobra de fogo, para simplesmente estarem juntos. Mesmo que não pudessem fazer nenhuma dessas coisas, Roku estaria contente em passar seus dias varrendo, limpando, espanando e fazendo quaisquer outras tarefas mundanas que os Nômades do Ar precisassem, desde que Ta Min estivesse por perto.
Era isso que ele desejava. Não a condição de Avatar.
Roku estava tão perdido em seus pensamentos, pensando em tudo o que sentiria falta em Ta Min, que não ouviu ou sentiu a terra se mover enquanto o chão se abria sob eles. Roku e Ta Min gritaram surpresos enquanto caíam direto para baixo e se chocavam contra o solo duro.
Eles se ajudaram a levantar e perceberam que haviam caído em um poço estreito de cerca de três metros de profundidade. Uma pequena abertura de folhas e céu era visível acima. Será que realmente haviam caído em algum abismo esquecido no chão, ou –
Um rosto zombeteiro apareceu acima – um homem de aparência rude que Roku nunca tinha visto antes, com uma barba marrom desgrenhada e o tipo de chapéu mole que era moda entre os criminosos do Reino da Terra.
— O Rei da Terra Jialun manda lembranças, Avatar — disse o homem com uma voz rouca, depois inclinou seu chapéu mole e cobriu a abertura do poço com o braço.
Roku e Ta Min dispararam simultaneamente rajadas de fogo para cima, mas suas chamas foram extintas quando as paredes se fecharam, enterrando-os dentro da terra.
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