Dark? Switch Mode

O Julgamento de Roku: Um encantador passeio errante

Todos os capítulos estão em O Julgamento de Roku
A+ A-

— Certo — anunciou Roku, olhando para o mapa. — Acho que descobri.

Era uma manhã morna e cinzenta. Ondas baixas batiam na areia preta da praia aleatória onde eles haviam passado a noite após mais um dia de fracasso em encontrar a ilha encoberta pela névoa de Sozin. Lola ainda roncava suavemente do outro lado da fogueira crepitante, perto de Roku. Gyatso estava agachado perto da água, raspando a cabeça.

O jovem Nômade do Ar terminou de passar a navalha pela última parte do couro cabeludo e então enxaguou a lâmina.

— Você diz isso várias vezes por dia desde que saímos do templo.

— Mas agora eu realmente descobri.

Gyatso tentou secar a navalha com sua dobra de ar. Sem sucesso, ele a limpou nas vestes e então a ofereceu a Roku.

— Quer usar?

Roku acariciou os pelos do rosto.

— Não, obrigado. Vou deixar crescer.

— Não nesses três pelos ralos que você chama de barba, mas no cabelo.

— Você só está com inveja porque seu rosto é liso como o de um bebê — disse Roku. — E pela última vez, não vou raspar minha cabeça.

Gyatso franziu o nariz.

— Como quiser.

Roku inclinou o mapa na direção de Gyatso e apontou para um símbolo estranho.

— De qualquer forma, acho que isso aqui é a Ilha Cauda de Baleia. — Ele deslizou o dedo até outro local. — E acho que estamos aqui. Se seguirmos para noroeste, devemos chegar à ilha enevoada até o meio-dia.

Gyatso examinou as marcações indecifráveis do mapa codificado de Sozin por alguns momentos.

— Ou… poderíamos surfar nos peixes koi gigantes e depois voltar para o templo antes que a gente se meta em muita encrenca.

Roku abaixou o mapa.

— Mas estamos tão perto.

— Certo. Com certeza. — Gyatso passou a mão pela cabeça lisa, evitando os olhos de Roku. — Mas digamos que não estamos.

O coração de Roku afundou. Cada vez que o sol se punha sem sinal da ilha, ele também queria desistir. Mas estava determinado a ser como Sozin e ignorar suas dúvidas.

— Sua dobra de ar ainda não está consertada — tentou Roku.

— Não tenho tanta certeza de que passar mais alguns dias cruzando o mar aberto vai ajudar — disse Gyatso.

Como se concordasse, Lola acordou com um resmungo, rolou de barriga para baixo, esticou as pernas, levantou-se e se sacudiu. Depois voou para procurar café da manhã nas copas das árvores.

— Você realmente acha que vamos nos meter em tanta encrenca? — perguntou Roku enquanto o bisão voador desaparecia na distância.

— A Irmã Disha não vai ficar feliz — disse Gyatso. — Ela pode atrasar seu treinamento de dobra de ar por mais um ano.

Roku já havia considerado essa possibilidade. Mas estava tentando se convencer de que, se ele tivesse sucesso, ela acreditaria que ele estava pronto.

— Esse é um risco que estou disposto a correr.

Gyatso ficou na frente de Roku e cruzou os braços.

— E quanto a mim? Minha punição pode ser pior.

— Como o quê? Limpar o cercado dos bisões voadores por alguns meses?

Gyatso balançou a cabeça.

— Como banimento.

Roku olhou para seu companheiro.

— Você não está falando sério.

O habitual ar travesso no rosto do Dobrador de Ar não estava lá.

— Acontece.

— Claro — disse Roku. Ele sabia disso. Avatar Yangchen havia sido banida do Templo do Ar do Norte. — Mas só para as ofensas mais graves.

Gyatso arqueou uma sobrancelha.

— Você quer dizer como ajudar o Avatar a desobedecer sua mestra de dobra de ar, dando-lhe uma carona para uma ilha onde ele comete um monte de erros e mergulha a Nação do Fogo e o Reino da Terra em guerra?

Roku piscou.

— Eu teria ido mesmo sem você.

Gyatso zombou.

— Claro.

— E eu não vou começar uma guerra.

— É bom que você pense assim.

— Por favor, Gyatso — disse Roku. — Me dê mais um dia. Se não encontrarmos a ilha até o anoitecer, podemos voltar ao templo de manhã. Eu até digo a todos que você não teve escolha, que eu te obriguei a ir comigo.

Gyatso respirou fundo e olhou para as ondas baixas e cinzentas batendo sob um céu interminável de nuvens cinzentas.

— Certo.

 


 

Naquela noite, Roku se revirava, incapaz de dormir, sem conseguir afastar a profunda sensação de fracasso e vergonha. A busca do dia havia sido tão infrutífera quanto as anteriores, então eles voltariam para o sul na manhã seguinte para enfrentar as consequências de sua aventura não autorizada e sem sentido.

A fogueira havia se apagado há um tempo, então só havia o som dos suaves roncos de Lola e o ritmo das ondas do mar.

Acima, o céu estava claro e repleto de estrelas.

Eventualmente, Roku ouviu Gyatso se mexer, mas não deu nenhum sinal de que também estava acordado. Ele simplesmente ouviu enquanto o Dobrador de Ar se levantava e se afastava, caminhando suavemente pela areia.

Curioso, Roku se levantou alguns momentos depois e o seguiu silenciosamente.

Gyatso parou quando alcançou o topo dos penhascos que davam vista para o acampamento. Ele ficou parado por um longo tempo, com os punhos pressionados juntos, respirando profundamente enquanto a brisa da noite morna agitava a grama alta que crescia em tufos ao seu redor.

Então, ele caiu em uma postura larga, levantou as mãos com as palmas abertas e começou a se mover em poses de dobra de ar.

Roku já havia visto bastante treinamento de dobra de ar durante seu tempo entre os Nômades do Ar para saber que os movimentos espiralados dos pés de Gyatso, os golpes arqueados e os chutes giratórios eram melhores do que a maioria.

Ele fluía fluidamente entre cada postura, cada movimento, cada giro e rodopio. Era como se ele estivesse dançando com o próprio vento.

Ele era mais gracioso do que a maioria dos Dobradores de Ar com o dobro de sua idade que já haviam ganhado suas flechas—não era de se admirar que a Irmã Disha tivesse um interesse especial em ajudá-lo.

No entanto, Gyatso só produzia as esperadas rajadas de ar em uma fração do tempo. E mesmo assim, os sopros eram irregulares e fracos, como uma criança pequena tentando apagar uma vela. Quanto mais ele continuava, mais irritados e desleixados seus movimentos se tornavam.

Finalmente, ele desistiu de vez e sentou-se com um suspiro pesado, colocando o rosto nas mãos.

Pela primeira vez, Roku realmente sentiu pena de Gyatso.

Era de conhecimento geral que, para dominar a dobra, o espírito de alguém tinha que estar sintonizado com as qualidades do elemento dobrado. Dobradores de Fogo tinham que alimentar sua determinação, sua vontade.

Dobradores de Ar, pelo que a Irmã Disha havia ensinado até agora, precisavam renunciar à sua vontade e aceitar a abertura da liberdade.

Roku havia treinado por anos até dominar a dobra de fogo. Ele não entendia como era esperado que ele mantivesse um ethos contraditório em seu espírito para dominar outro elemento—sem mencionar, ir adiante e fazer isso com mais dois elementos.

Então talvez tenham sido suas próprias lutas que o levaram a sair de onde estava assistindo e sentar-se ao lado de Gyatso.

— Vai voltar para você — disse Roku.

Se Gyatso ficou surpreso com a aparição repentina do Avatar, ou a gentileza repentina, ele não demonstrou. Ele simplesmente disse:

— Não sei se vai.

— Perdi alguém muito próximo de mim há alguns anos — ofereceu Roku. — Isso me afetou por muito tempo, mas encontrei um jeito de superar. Você também vai.

Gyatso levantou a cabeça.

— Quem você perdeu?

— Meu irmão. — Roku não sabia o quanto mais dizer. Ele raramente falava sobre Yasu, e não sabia o que o havia compelido a mencionar seu irmão agora. A dor ainda era fresca, e ele já sentia um nó se formando na garganta e lágrimas brotando nos olhos. — Éramos gêmeos.

— Sinto muito — disse Gyatso. Então, depois de um momento, ele abaixou a cabeça. — Eu perdi minha irmã no ano passado.

A compreensão de Roku sobre Gyatso mudou, e ele agora sabia por que a Irmã Disha continuava tentando fazer com que eles passassem mais tempo juntos.

— Foi quando você começou a ter problemas com sua dobra de ar.

Gyatso assentiu.

— Quer falar sobre isso?

— Na verdade, não. Quer falar sobre seu irmão?

— Na verdade, não.

Roku e Gyatso compartilharam uma risada pequena e triste. Ambos sabiam o que era perder um irmão, e assim entendiam que revelar a existência da ferida às vezes era toda a dor que se podia suportar.

Gyatso limpou a garganta.

— Você disse que encontrou um jeito de superar?

Roku assentiu.

— Um bom amigo.

— Sozin?

Roku assentiu novamente.

— Como realmente é o Príncipe da Nação do Fogo? — perguntou Gyatso.

Roku considerou a melhor maneira de responder à pergunta.

— Uma vez, quando éramos pequenos, talvez sete ou oito anos, nós três estávamos brincando no Spa Real. Correndo, pulando, fazendo bagunça. Esse tipo de coisa. Meu irmão acidentalmente espirrou água em um cara grande e musculoso que estava relaxando em um dos banhos quentes no canto. O cara saiu da água, marchou até nós e levantou meu irmão como se fosse jogá-lo no chão.

— O que você fez? — perguntou Gyatso, fascinado.

— O que eu ia fazer contra esse Dobrador de Fogo enorme e feroz que provavelmente era dez ou vinte anos mais velho que eu? Eu congelei. Mas Sozin correu e — bum — acertou o cara na virilha com um punho de fogo. O cara largou meu irmão, e nós dois corremos. Mas não Sozin. Ele ficou para dizer ao cara para nunca mais tocar em seus amigos, ou da próxima vez ele queimaria o cabelo dele até virar cinzas. — Roku riu silenciosamente com a lembrança. — Esse é o Sozin.

Gyatso sorriu.

— Qual era o nome do seu irmão?

— Yasu — disse Roku.

— Yasu — repetiu Gyatso como se o nome fosse sagrado. Então, — O nome da minha irmã era Yama.

— Eles compartilham uma sílaba — observou Roku.

Gyatso assentiu.

— Essa ilha sobre a qual Sozin te escreveu… Você realmente acredita que estamos perto de encontrá-la?

Roku olhou para a escuridão.

— Acredito.

— Então vamos continuar procurando — disse Gyatso.

 


 

— Por que a comida dos Nômades do Ar é tão sem graça? — perguntou Roku enquanto beliscava biscoitos velhos que havia pego da despensa do templo. Eles estavam voando em Lola por um céu azul-claro na manhã seguinte, com o mar cintilando abaixo.

Gyatso arrancou os biscoitos das mãos de Roku.

— Esses são biscoitos de bisão voador — explicou ele, jogando-os pela borda em direção à boca de Lola. Ela os pegou no ar e então resmungou apreciativamente.

Roku limpou a língua.

— Mesmo assim, estou comendo sua comida há meses. Nenhum dos seus ancestrais nômades nunca encontrou especiarias em suas viagens?

— Por favor. Você está falando de comida quando seu povo é moralmente atrasado.

— Atrasado?

— Sim — disse Gyatso. — Como sua monarquia. Você realmente acha que uma única pessoa tomando todas as decisões é uma boa ideia? E vocês já tiveram uma líder mulher? Vocês têm um termo para isso? Madame do Fogo? Senhora do Fogo? Dama do Fogo?

— Pelo menos não segregamos nossas principais cidades por gênero.

— Existem boas razões para as Freiras do Ar e os Monges do Ar estudarem e treinarem separados — disse Gyatso. — E, além disso, não somos apenas flexíveis quando se trata de dobra de ar. Os Nômades do Ar podem mudar de templo se a compreensão de seu próprio gênero mudar.

Roku não sabia disso e achou interessante. Mas não estava disposto a admitir isso em voz alta.

— Outra coisa que nunca vou entender é a sua postura de neutralidade. Você não entende que não fazer nada é fazer algo? Avatar Kyoshi disse que ficar parado enquanto ocorre uma injustiça permite que essa injustiça continue. Entrar em ação depois para fornecer ajuda após o conflito não ajuda a acabar com o conflito.

— Não haveria tanta luta se todos fossem pacifistas como nós — explicou Gyatso. — Minha irmã sempre achou que deveríamos viajar para espalhar nossos ensinamentos.

Roku balançou a cabeça.

— Você nunca vai convencer os Cidadãos do Fogo a desistirem dos espetinhos de Komodo.

— E o que dizer sobre todas as suas gírias bobas?

— Que gírias bobas?

Gyatso zombou.

— Você vai fingir que não cumprimenta seus compatriotas com um alegre “Flamejante, cidadão quente!”?

— Ninguém diz isso — disse Roku.

— Ainda não — disse Gyatso com um sorriso travesso. — Mas me dê algum tempo.

Roku pensou sobre isso por um momento.

— Você vai criar uma nova gíria da Nação do Fogo e de alguma forma fazer com que ela se espalhe pelo arquipélago… como uma piada?

— Nunca subestime minha dedicação.

Roku estava prestes a iluminar Gyatso sobre outra falha na filosofia dos Nômades do Ar quando notou uma mancha branca no horizonte azul ininterrupto. Ele se sentou e apontou para o ponto distante.

— O que é aquilo?

Gyatso olhou.

— Uma nuvem?

Mas à medida que Lola os levava mais perto, ficou claro que a ampla faixa de névoa cinza-branca não pairava no céu, mas se assentava sobre a água, permanecendo fixada de maneira antinatural na mesma área.

Roku verificou o mapa indecifrável. Ele havia finalmente decifrado o código de Sozin e os conduzido com sucesso à ilha, ou haviam tropeçado nela por pura sorte? Decidiu ser a primeira opção.

— Viu? Eu sabia para onde estávamos indo o tempo todo!

— Certo — disse Gyatso. — Lola e eu agradecemos pelo lindo e desviado passeio pelo Mar do Sul. — Lola resmungou em desacordo.

Roku enrolou e guardou o mapa, começando a sentir o nervosismo. Essa deveria ser a parte fácil.

— De nada — disse ele.

Tags: read novel O Julgamento de Roku: Um encantador passeio errante, novel O Julgamento de Roku: Um encantador passeio errante, ler O Julgamento de Roku: Um encantador passeio errante online, O Julgamento de Roku: Um encantador passeio errante hq, O Julgamento de Roku: Um encantador passeio errante alta qualidade, O Julgamento de Roku: Um encantador passeio errante light novel, ,

Comentar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Capítulo 10