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O Julgamento de Roku: Um caminho para seguir

Todos os capítulos estão em O Julgamento de Roku
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Sozin contemplou o tabuleiro de Pai Sho enquanto esperava sua vez. Ele estava sobre uma caixa baixa no centro da cabine apertada e sem janelas que ele alugou no navio. Do outro lado estava sua oponente, Dalisay, a tutora e ex-namorada de sua irmã. Ela decidia seu movimento enquanto divagava sobre as vantagens e desvantagens de diferentes processos na produção de aço. Kozaru, sua companheira robusta e de cabelo curto, observava o jogo enquanto se encostava na parede, os braços musculosos e marcados por cicatrizes de queimaduras cruzados sobre o peito.

Enquanto isso, uma vela tremeluzia em uma prateleira instável e a sala balançava suavemente com o mar.

Sozin havia feito um movimento péssimo com sua peça de Lótus Branco na rodada anterior para testar Dalisay. Ela era a pessoa mais inteligente que ele conhecia, então não deveria ter problemas em perceber que poderia ganhar vantagem com uma Roda ou um Barco, peças que Sozin suspeitava que ela tinha, dadas as probabilidades das peças restantes. Mas Dalisay continuava com sua palestra, pousando os dedos elegantemente em uma peça, mudando de ideia e movendo-os para outra e depois para outra. Finalmente, ela concluiu o que estava dizendo sobre impurezas e ligas e colocou sua peça.

Sozin suspirou. Dalisay havia “ignorado” seu erro óbvio.

Ela não conseguia nem olhá-lo nos olhos.

Roku nunca o deixou vencer. Seus jogos eram disputados, durando horas e frequentemente terminando em empate. A última vez que jogaram foi algumas noites antes da partida de Roku. Sozin havia exagerado com seu estilo agressivo e implacável, e a abordagem mais paciente e conservadora de Roku valeu a pena quando ele formou um Anel de Harmonia que Sozin não havia percebido. Sozin incendiou o tabuleiro e acusou Roku de trapaça, enquanto Roku simplesmente se recostava com um sorriso autossatisfeito e os dedos entrelaçados atrás da cabeça.

— Na próxima vez — Sozin havia ameaçado.

Agora, Sozin desviou o olhar de Dalisay para Kozaru. Esta última era péssima em Pai Sho, o tipo de jogadora que conhecia as regras, mas não tinha desejo de melhorar. Mas pelo menos sua derrota no jogo anterior havia sido honesta.

Sozin coçou o queixo e olhou novamente para o tabuleiro, fingindo refletir sobre seu próximo movimento para mascarar sua decepção.

O Senhor do Fogo Taiso sempre reforçou para o Príncipe Sozin a importância de se cercar de pessoas leais que poderiam servi-lo bem no futuro, e agora ele estava se perguntando se havia cometido um erro ao recrutar essas duas.

Quando Dalisay e Zeisan estavam namorando, sua irmã não parava de falar sobre a garota brilhante que havia ascendido da classe servil na Ilha Ember. Mas de que adiantava sua inteligência se ela se continha?

Kozaru, por outro lado, chamou a atenção de Sozin depois de derrotar um dos seus tutores particulares de dobra de fogo em um Agni Kai alguns anos atrás. Ela era uma lutadora formidável, mas Roku havia resumido de maneira concisa a preocupação mais premente da primeira vez que a conheceram:

— Ela parece ser do tipo que cortaria sua garganta por uma moeda de prata e uma galinha-porca saudável.

Novamente, Sozin suspirou.

Ele estava prestes a iniciar uma sequência de movimentos que encerraria aquela farsa em mais três rodadas, quando o barco deu um tranco para a frente. O tabuleiro de Pai Sho deslizou da caixa, espalhando as peças e fazendo-as escorregar pelo chão de madeira enquanto Sozin, Kozaru e Dalisay se seguravam nas paredes estreitas para se manterem em pé. Passos caóticos começaram a soar pelas tábuas do convés acima.

— Veja o que foi isso — ordenou Sozin a Kozaru.

Mas antes que ela pudesse se mover, a capitã do junco, uma pirata de aparência rude, irrompeu pela porta.

— Chegamos, Lee — foi tudo o que ela disse antes de desaparecer.

“Lee” era o nome falso que ele usara ao contratar o navio.

Porque, embora a Marinha da Nação do Fogo estivesse geralmente à sua disposição como príncipe, aquele não era um negócio oficial da Nação do Fogo. Na verdade, o Senhor do Fogo havia expressamente negado o pedido de Sozin para usar um navio, já que estavam esticados ao máximo com as Rebeliões das Ilhas Exteriores.

Então, ele recrutou Dalisay e Kozaru, vestiu todos com roupas de plebeus e pagou a uma pirata o suficiente para seguir ordens sem fazer perguntas.

Em um momento, Sozin descobriria se o pagamento tinha valido a pena.

Seguido por Kozaru e Dalisay, ele subiu os estreitos degraus até o convés e emergiu em uma névoa tão densa que a os membros da tripulação pareciam espíritos aparecendo e desaparecendo enquanto corriam e içavam as velas nervuradas do junco ao som de lona farfalhando, cordas zunindo e polias chacoalhando. A névoa era tão espessa que nem as extremidades do navio eram visíveis de onde ele estava, muito menos as ondas sobre as quais a embarcação navegava ou qualquer terra que pudesse estar no horizonte.

Ele esperava por isso. De acordo com o que lera, a névoa envolvia perpetuamente a ilha, mantendo-a escondida por milhares de anos, exceto para aqueles que conheciam suas coordenadas exatas. Para qualquer navio que se deparasse com ela, parada no meio do mar como uma nuvem imóvel, era uma decisão fácil evitar seus perigos desconhecidos.

Ainda assim,a névoa por si só não significava que aquele era o lugar, então Sozin reprimiu sua crescente excitação enquanto se aproximava da capitã, erguendo-se ao máximo de sua altura.

— Lançamos âncora — explicou ela sem tirar os olhos de algum ponto obscuro na distância. — Este é o mais próximo que estou disposta a chegar.

— Tem certeza de que esta é a ilha certa?

— Tenho certeza de que estamos exatamente aqui. — Ela apontou para o ponto marcado no mapa antigo que ele fornecera, depois lhe devolveu o mapa. — Se há uma ilha no meio daquela sopa de espíritos, cabe a você descobrir.

— O barco de desembarque está pronto e abastecido com provisões? — perguntou Dalisay.

A capitã assentiu.

— Como podemos confiar que você não levantará âncora e navegará embora no momento em que sairmos do seu navio? — questionou Kozaru, com um olhar ameaçador.

A capitã zombou.

— Porque eu preciso da outra metade do meu pagamento para comprar aquela villa na capital que estou de olho.

 


 

A capitã havia oferecido alguns membros de sua própria tripulação – por uma taxa adicional, é claro – para ajudar a guiar o barco de desembarque com segurança até a praia. Sozin recusou. Eles não precisavam de ajuda. Viver em um arquipélago significava que quase todos os Cidadãos do Fogo sabiam manejar um remo, e eles não eram exceção. Além disso, já era arriscado o suficiente que uma tripulação inteira de piratas soubesse da existência da ilha. Ele não precisava de nenhum deles bisbilhotando para descobrir seu verdadeiro valor.

Os três pegaram suas mochilas e subiram no pequeno barco. Os piratas os baixaram até que atingissem a superfície da água com um solavanco. Kozaru desamarrou as cordas, empurrou o barco e sentou-se com um remo, enquanto Dalisay pegou o outro. Sozin posicionou-se na proa e olhou adiante. Ele só conseguia ver alguns metros de ondas em qualquer direção antes que tudo se dissolvesse na parede cinza-branca de neblina.

— Se você nos contar o que está procurando, podemos ser mais úteis — Dalisay sugeriu enquanto ela e Kozaru começavam a remar, o barco balançando com o mar.

Sozin apertou os olhos para enxergar à frente.

— Como eu disse antes, algo muito importante.

— Por mais satisfatória que tenha sido essa explicação, o que poderia estar aqui? — Kozaru adivinhou. — Um dragão?

— Quando você precisar saber mais, eu lhe direi mais — disse Sozin, suas palavras afiadas e finais.

Dalisay soltou um suspiro frustrado e continuou remando.

Sozin não confiava totalmente nelas ainda, e essa era parte da razão pela qual não revelava mais. A outra razão ele nunca admitiria em voz alta.

Desde a partida de Roku, três meses atrás, o Senhor do Fogo Taiso continuava incomodando Sozin para escrever para seu amigo e manter a força de seu vínculo. Mas, mensagem após mensagem sem resposta, a decepção do Senhor do Fogo aumentava. Se Sozin e Roku não mantinham mais uma relação, então talvez a Nação do Fogo não teria outro Avatar como Grande Conselheiro. Talvez seu pai achasse que havia superestimado Sozin.

Sozin, no entanto, nunca desistiu. Ele encontraria uma maneira de se tornar indispensável para seu pai e sua nação. E a inspiração de como ele poderia fazer isso veio de uma lembrança.

Quando eram mais jovens, Sozin, Yasu e Roku deslizavam pelas passagens secretas do palácio e se esgueiravam até as Catacumbas dos Ossos de Dragão, sob o Alto Templo. Além da simples emoção de estar em um lugar proibido, os meninos adoravam ler os pergaminhos restritos que os Sábios do Fogo guardavam entre os ossos dos ancestrais de Sozin.

Como muitos jovens da Nação do Fogo, os meninos já conheciam as histórias dos heróicos mestres de dobrar fogo que podiam respirar fogo, produzir chamas azuis ou canalizar raios. Mas, através dos textos antigos, eles descobriram habilidades de dobra de fogo ainda mais raras, como o poder de voar, a habilidade de fazer um alvo distante explodir, maneiras de aproveitar o poder de um cometa e até mesmo um método para prolongar a vida indefinidamente. Sozin estava convencido de que era possível aprender esses poderes, mas Yasu sempre sustentava que eram pura ficção. Roku, por sua vez, não se importava, de qualquer maneira. Ele estava feliz em acompanhar.

Foi em uma dessas aventuras que Sozin encontrou um pergaminho da Era Szeto intitulado A Longa Estrada, escrito por alguém chamado Asho. Era um diário de viagem que detalhava a jornada do autor pelo mundo, contando seus encontros com todos os tipos de pessoas exóticas e espíritos fantásticos ao longo do caminho. Era bastante divertido — humorístico e picante — mas apenas uma das histórias ficou com Sozin ao longo dos anos.

Asho escreveu sobre ser contratado para investigar o caso de um navio inteiro com uma tripulação de mais de duzentos que havia desaparecido. Ele seguiu as pistas até uma densa neblina no meio do mar. Após seu próprio navio colidir diretamente com uma rocha maciça que ninguém havia visto, a tripulação abandonou a embarcação afundando.

Asho foi parar em uma ilha montanhosa com neblina tão espessa que ele não podia ver suas próprias mãos na frente do rosto. Ele vagou pela névoa por dias antes de encontrar um caminho estreito que levava a uma vila aninhada em um vale. As pessoas — que nunca tinham visto ninguém do mundo exterior antes — o receberam como um rei. Ele passou vários dias como seu hóspede de honra, durante os quais descobriu que seus dobradores tinham poderes mil vezes mais fortes do que qualquer um que ele já havia visto antes. Dobradores de Água que podiam controlar o clima. Dobradores de Ar que podiam comandar tufões. Dobradores de Terra que podiam produzir — ou afundar — ilhas.

E Dobradores de Fogo que podiam mover o sol.

O chefe adorava tanto Asho que concordou em ensinar o forasteiro a fortalecer sua dobra de fogo — isto é, até pegá-lo dormindo com sua filha. Asho mal escapou da ilha com vida.

Foi com essa história em mente que Sozin abordou seu pai algumas semanas atrás. O Senhor do Fogo estava sentado vários degraus acima, no trono imperial, a escultura ornamental de um enorme e feroz dragão dourado pairando sobre ele.

— Diga-me que você finalmente teve notícias de Roku — disse o Senhor do Fogo, olhos âmbar ardendo com desapontamento antecipado.

Sozin se ajoelhou.

— Ainda não, Pai.

O Senhor do Fogo franziu a testa.

— Então, o que é?

— Gostaria de permissão para pegar um navio.

— Para quê?

Sozin clareou a garganta, então gaguejou através de um resumo da história de Asho sobre a ilha enevoada. Fazia anos desde que ele a lera, mas recordava cada detalhe perfeitamente devido à sua habilidade incomum de lembrar tudo o que lia. Quando chegou ao fim, declarou:

— Gostaria de procurar a ilha.

O Senhor do Fogo Taiso não disse nada por um longo tempo. Apenas olhou para seu filho com completo e total desapontamento. — Não.

— Não?

— Não.

Sozin entendeu que a única palavra era uma dispensa. Mas ele não se moveu.

— Por que não?

— “Por que não?” — O Senhor do Fogo Taiso zombou. — Você não vai desperdiçar seu tempo e os recursos da nossa nação perseguindo alguma fantasia infantil. — Ele balançou a cabeça. — Você realmente acredita que um Dobrador de Fogo pode ficar forte o suficiente para mover o sol?

— Eu acredito. — As palavras de Sozin eram firmes.

— Então você é tão tolo quanto eu temia. — As chamas aumentaram nas brasas que alinhavam a sala do trono.

Sozin abaixou o olhar.

O Senhor do Fogo Taiso manteve o silêncio, deixando o insulto queimar o ar entre eles. Finalmente, ele disse: — Você não pode se apoiar apenas em seu direito de nascença, Sozin. É óbvio para todos que Zeisan seria uma líder muito melhor — infelizmente ela não nasceu Dobradora de Fogo, então os clãs e sábios nunca a seguirão. Mas você também não ganhará a lealdade verdadeira deles caso se torne amplamente conhecido que você acredita em tais absurdos. Uma nação é tão forte quanto seu líder. Portanto, nunca mais fale sobre isso. Vá. Invista seu tempo estudando história, filosofia, economia, ciências. Assuntos apropriados para um futuro Senhor do Fogo. E escreva outra carta para Roku. Não venha diante de mim novamente sem a resposta dele.

— Sim, Pai — disse Sozin, levantando-se rapidamente e saindo.

Mas ele não tinha intenção de ouvir seu pai. Em vez disso, espalhou a notícia entre seus contatos mais sórdidos de que pagaria generosamente por qualquer coisa escrita por um homem chamado Asho. Em poucos dias, um mapa antigo chegou às mãos de Sozin. Ele mostrava o mar a sudeste da Nação do Fogo e mostrava várias ilhas ao longo de uma porção da cadeia vulcânica de Sibuyan que Sozin nem sabia que existia, cada uma rotulada com a mesma caligrafia de A Longa Estrada.

E ao redor de uma dessas ilhas, Asho havia desenhado neblina em espiral.

E agora, com a água sob o barco de desembarque ficando rasa, Sozin tinha certeza de que havia encontrado a ilha na vida real.

Kozaru e Dalisay remaram o barco habilmente além da boca rochosa de uma pequena enseada e através das águas calmas da baía. Eles pularam e arrastaram o barco até a praia.

Sozin jogou sua mochila no ombro, embainhou sua espada e pisou na areia com um senso de importância histórica. Não era com uma resposta de Roku que ele voltaria para o Senhor do Fogo Taiso, mas com uma dobra de fogo forte o suficiente para mover o sol. E quando esse dia chegasse, seu pai não lamentaria mais a falta de dobra de fogo de Zeisan nem repreenderia Sozin sobre o que um líder de nação precisava.

— Para onde agora, Príncipe Sozin? — perguntou Dalisay.

O ar estava úmido e ainda espesso com neblina. O sol da manhã pairava baixo no horizonte, um brilho tênue, quase imperceptível. Embora ouvissem ondas quebrando atrás deles e cantos de pássaros à frente, podiam ver apenas alguns metros em qualquer direção. Isso dava a impressão de que a pequena faixa de praia onde estavam era tudo o que existia. Um exército inteiro poderia estar acampado a trinta metros abaixo da costa e eles não conseguiriam se ver.

— Sigam-me— disse Sozin. — E estejam preparadas…

— Para o quê? — perguntou Kozaru, estalando os dedos.

— Qualquer coisa. Qualquer pessoa.

— Ah, então há algo importante nesta ilha e a ilha é habitada — observou Dalisay enquanto enrolava sua corda com dardo. — Bom saber duas coisas sobre este trabalho.

— Você também sabe que está coberta de neblina — disse Sozin, examinando seus arredores muito limitados. — São três.

— Acho que preciso começar a anotar tudo isso.

Kozaru riu de algum lugar na neblina onde tinha ido procurar uma árvore para amarrar o pequeno barco. Ela reapareceu alguns momentos depois sem a corda, presumivelmente tendo cumprido a tarefa.

— Vamos — disse Sozin, começando a se afastar da água.

Kozaru e Dalisay o seguiram. A areia e a praia deram lugar ao solo e palmeiras. O som das ondas quebrando desapareceu, substituído pelo canto dos pássaros e pelo zumbido dos insetos. A vegetação tornou-se mais densa, as árvores mais altas, seus troncos e galhos cobertos de musgo verde vibrante. Sozin e Kozaru logo tiveram que usar sua dobra de fogo para queimar as vinhas e o mato que começavam a obstruir o caminho.

Tudo o que Asho havia dito era que ele se perdeu nas montanhas e encontrou um caminho que levava a uma vila aninhada em um vale. Então, Sozin considerou um bom sinal quando começaram a subir uma colina.

Ao lado de um pequeno riacho, comeram um rápido almoço de fatias de pepino, bolinhos de arroz, carne seca de rinoceronte-komodo e chá, depois continuaram a andar. A luz do dia começou a escurecer. Os pássaros ficaram quietos, os insetos mais altos. Ao longe, alguma criatura invisível soltou um uivo terrível, fazendo os pelos da nuca de Sozin se arrepiarem.

— Parece um macaco-porco — Dalisay adivinhou.

— Parece jantar — disse Kozaru, coçando seu cabelo curto e desgrenhado.

Sozin não disse nada.

Sopa espiritual, dissera o capitão pirata sobre a neblina.

Havia, de fato, algo inumano naquele lugar. Quanto mais tempo passavam na névoa e mais fundo viajavam, mais Sozin se sentia perturbado por sua energia estranha. Mas, quando a noite caiu, a névoa inexplicavelmente se dissipou. Qualquer alívio que Sozin sentisse, no entanto, foi atenuado pela constatação de que a escuridão era tão completa que, mesmo com a luz das chamas que ele e Kozaru seguravam nas palmas das mãos, sua visibilidade era tão limitada quanto na névoa.

— Este pode ser um bom lugar para descansar esta noite — sugeriu Dalisay enquanto eles entravam em uma pequena clareira, um pedaço de céu estrelado visível acima. O chão estava cheio de pedras e rochas, mas não demorou muito para eles encontrarem algumas áreas planas com espaço suficiente para três sacos de dormir.

Sozin concordou com a cabeça.

Eles deixaram suas mochilas no chão, alongaram os membros e montaram o acampamento. Fariam o jantar, dormiriam em turnos e, pela manhã, encontrariam o caminho.

 


 

Sozin acordou no meio da noite com o rosto de Kozaru a poucos centímetros do seu.

— Tem algo lá fora, chefe — ela sussurrou, com o hálito quente cheirando a carne de rinoceronte de Komodo.

Silenciosamente, Sozin pegou sua espada e se levantou. Ao seu lado, Dalisay já estava de pé com sua dardo de corda em suas mãos esbeltas. Seus ouvidos se esforçavam enquanto seus olhos vasculhavam as sombras além das brasas incandescentes da fogueira do acampamento.

Eles ficaram imóveis. Por muito tempo, não ouviram nada além dos sons habituais da noite. Mas então veio o som inconfundível de folhas farfalhando e galhos quebrando. Algo — ou alguém — estava correndo em direção a eles pela vegetação.

Eles se espalharam em posições de combate e enfrentaram a ameaça que se aproximava, Sozin no meio.

O farfalhar rápido ficou mais alto, mais próximo.

O que quer que estivesse se aproximando, estava se movendo rápido e chegaria a eles em segundos.

Dalisay começou a girar seu dardo de corda. Kozaru cerrava os punhos. Sozin respirou fundo e ajustou seu aperto na espada.

Três porcos-vaca selvagens dispararam do meio da vegetação. Eles correram pasto os três membros da Nação do Fogo e desapareceram de volta na escuridão.

Dalisay acenou com a cabeça na direção dos animais.

Eles poderiam ser o jantar.

Kozaru começou a ir atrás deles, mas, então, duas pessoas surgiram do mato de onde os porcos-vaca tinham aparecido. Eles pararam ao ver Sozin e seus companheiros, os olhos arregalados. Eram homens mais velhos e musculosos — um alto, outro baixo — respirando com dificuldade em armaduras verde e amarelo pálido do Reino da Terra, que pareciam já ter visto dias melhores. Deviam ter estado caçando os porcos-vaca, Sozin percebeu.

— Quem são vo… — começou a dizer o mais alto dos dois.

Mas antes que ele pudesse terminar, o dardo de corda de Dalisay voou em direção ao coração do homem alto, enquanto Kozaru desferia rápidos jatos de fogo no mais baixo. Um escudo de rocha ergueu-se do chão, desviando ambos os ataques, e então voou para frente. A corda de Dalisay enrolou-se em seu braço enquanto ela girava para desviar, e Kozaru deu um chute lateral que reduziu a parede a escombros.

Sozin sentiu um choque de excitação.

Dobradores.

Ele os havia encontrado.

Mas por que estavam usando uniformes militares do Reino da Terra?

Sozin começou a gritar para que todos parassem de lutar quando o homem alto lançou vários fragmentos de rocha afiados em sua direção. Sozin se esquivou, e eles se cravaram no tronco da árvore atrás dele como uma dúzia de facas de arremesso. Deixando Kozaru e Dal lidarem com o Dobrador de Terra mais baixo, Sozin avançou em direção ao mais alto, ansioso para se testar contra a dobra de terra aprimorada.

O Dobrador de Terra lançou uma pequena rocha. Sozin cortou-a com sua espada, transformando-a em pó. Recuando, o Dobrador de Terra lançou mais duas. Sozin as desviou com facilidade e continuou avançando. O Dobrador de Terra lançou uma pedra do tamanho de um urso-armadilho. Sozin se jogou para frente e rolou por baixo dela, começando a sentir uma pontada de decepção. Talvez esta não fosse a ilha certa, afinal.

O Dobrador de Terra se armou com rocha enquanto Sozin saía da rolagem e desencadeava uma série ininterrupta de cortes, socos e chutes. Metal batia contra pedra. Fogo crepitava, queimando a rocha. Sozin desferia golpe após golpe, mas nem a lâmina nem as chamas penetravam a armadura.

Enquanto Sozin tomava um momento para reavaliar, o Dobrador de Terra passou ao ataque. Ele balançava punhos pesados em amplos arcos, que Sozin facilmente se abaixava e esquivava.

— Pegamos o baixinho! — Kozaru gritou à distância. — Estamos indo até você!

O Dobrador de Terra aproveitou o momento de distração de Sozin e o acertou no centro do peito com um punho encapado de rocha. Sozin voou para trás e caiu no chão com força, o ar saindo de seus pulmões, seu coração parecendo ter parado.

Antes que Sozin pudesse se levantar, o Dobrador de Terra o agarrou do chão e o envolveu em um abraço esmagador. Cada osso do corpo de Sozin parecia à beira de estalar ou se desfazer, cada órgão como se estivesse prestes a explodir. Sua visão começou a se estreitar enquanto ele começava a perder a consciência.

Mas antes que perdesse, ele respirou fundo.

Canalizando o que restava de sua energia, Sozin liberou um súbito pulso de calor. A onda quebrou a armadura do Dobrador de Terra e os separou.

Ignorando a dor que pulsava em seus músculos, Sozin pulou de pé, correu até o Dobrador de Terra caído e agarrou o homem pelo colarinho.

— Achei que você deveria ser mais forte — disse Sozin.

O Dobrador de Terra apenas gemeu, os olhos desfocados.

Sozin olhou para o corpo do homem. Vários fragmentos da pedra que haviam protegido seu corpo momentos antes agora estavam cravados em seu estômago, e ele estava sangrando lentamente. Ele não tinha muito tempo.

— Onde está sua vila? — perguntou Sozin.

— Q-q-que? — o homem balbuciou. — Vila?

— Onde. Você. Mora.

— Nós não… nós não moramos aqui.

A confusão tomou conta do rosto de Sozin. — O que você quer dizer?

O homem tossiu várias vezes. Sangue escorreu de sua boca.

— Estamos aqui com o… Reino…

Sua boca ficou mole. Seus olhos ficaram vidrados. Sua respiração parou.

Sozin soltou o colarinho do homem, deixando o corpo cair sem vida no chão. Então, ele se levantou e deu alguns passos para trás.

O alívio por ter sobrevivido veio primeiro. Então, um horror oco correu por suas veias até que tanto seu corpo quanto sua mente ficassem dormentes. Embora não intencional, era a primeira vida que ele havia tirado.

Kozaru e Dalisay chegaram alguns momentos depois, Kozaru arrastando um corpo atrás dela. Ela o largou ao lado do homem que Sozin acabara de matar, então deu um forte tapa nas costas de Sozin.

— Olha só, matador! Acho que você é mais do que um príncipe mimado.

Sozin piscou, emergindo de seu choque. A alegria de Kozaru era avassaladora, um sinal claro de que seu respeito por Sozin havia crescido. Mas o rosto de Dalisay estava pálido, e ela mantinha distância deles. Ela não estava impressionada com Sozin — mas agora o temia de uma nova maneira. O que, Sozin supôs, era outra forma de respeito. Matar era realmente tudo o que precisava?

Sozin limpou a garganta e forçou um sorriso.

— Nenhuma equipe para o Príncipe da Nação do Fogo — declarou. Então, seu olhar caiu sobre a armadura desgastada que cobria os mortos. — Mas o Reino da Terra está aqui. Isso muda as coisas.

— O que você quer fazer? — perguntou Dalisay, claramente ainda abalada pela violência repentina.

— Encontrar a base deles e queimá-la até o chão — sugeriu Kozaru.

— Eu não estava perguntando para você.

Sozin revisou os fatos. Aqueles homens não eram habitantes nativos. Eles usavam armaduras antigas do Reino da Terra. Estavam caçando porcos-vaca selvagens nas montanhas no meio da noite.

— O Exército do Reino da Terra deve ter estabelecido uma presença aqui em algum momento — disse ele. — Um posto militar, mas não muito importante.

— Certo — confirmou Dalisay, voltando a si agora que sua mente estava funcionando novamente. — Caso contrário, eles estariam estocados com provisões suficientes para que seus soldados não precisassem vasculhar as montanhas em busca de comida. Você acha que eles estão aqui pelo mesmo “algo importante” que você está procurando?

Sozin coçou o queixo.

— Talvez. É mais provável que eles tenham tropeçado na ilha por pura sorte e estão tentando reivindicá-la para o Reino da Terra.

Kozaru bateu o punho na palma da mão. — Então vamos rastrear quem mais eles têm aqui e lembrá-los de quem realmente a possui.

— E começar uma guerra? — perguntou Dalisay.

Sozin precisava tirar o Reino da Terra da ilha, mas Dalisay tinha razão. No melhor dos casos, enfrentar suas forças diretamente certamente atrairia a atenção do Senhor do Fogo para suas atividades não autorizadas. No pior, isso destruiria quase duzentos anos de paz.

Teria que ser feito discretamente, e não poderia ser rastreado até Sozin ou a Nação do Fogo.

— Voltaremos ao navio — decidiu Sozin finalmente.

Dalisay e Kozaru trocaram olhares confusos.

— Espere… estamos recuando? — perguntou Kozaru, incrédula.

Sozin balançou a cabeça. Ele nunca desistia. Se o caminho estava bloqueado, ele encontrava um jeito de passar. E a sugestão de Kozaru lhe dera uma ideia de qual poderia ser esse jeito.

O único problema era que isso exigiria que Sozin fizesse algo que não queria: seguir o conselho de seu pai.

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Capítulo 3