O Julgamento de Roku: Sob o céu mudado

Roku não conseguia voltar a dormir. Ele desistiu de tentar, levantou-se silenciosamente e caminhou um pouco até encontrar uma abertura no dossel da floresta através da qual podia ver o céu noturno. Convenientemente, encontrou uma grande pedra plana nas proximidades que parecia fora de lugar no meio das árvores – algum Dobrador de Terra deve tê-la movido para lá – e pulou em cima. Ele se deitou e olhou para as estrelas. O ar era doce e quente. Insetos clicavam e cantavam na escuridão ao redor.

Eles ainda não haviam encontrado os Dobradores de Terra, mas continuaram com seu rápido progresso graças ao caminho já trilhado. Após cruzarem o manguezal, a floresta recomeçou, mas começou a inclinar-se para cima. A grama e a vegetação rasteira diminuíram conforme a trilha desobstruída se tornava terra batida, rocha e raízes. Enquanto isso, as árvores ficaram mais baixas com galhos espalhados e retorcidos cobertos de musgo, e um riacho apareceu ao lado deles, alargando-se à medida que subiam em altitude.

Era desorientador e frustrante, essa movimentação por uma névoa tão densa que Roku não conseguia calcular a distância. Ele não sabia o quão longe tinha chegado. Ele não sabia o quão longe ainda tinha que ir. Ele simplesmente tinha que colocar um pé na frente do outro, esperando que o levassem aos Dobradores de Terra mais cedo ou mais tarde, e que, quando isso acontecesse, ele conseguisse encontrar as palavras certas para resolver a situação pacificamente.

— Não consegue dormir também? — veio a voz de Gyatso lá de baixo.

Roku sentou-se enquanto o Nômade do Ar pulava na pedra e sentava-se ao seu lado.

— Não — disse ele.

— Pesadelo?

— Algo assim.

— Eu também. — Gyatso esfregou os olhos. — Quer compartilhar?

— Não.

— Nem eu.

Ambos se deitaram e olharam para as estrelas. Roku procurou constelações familiares, mas não encontrou nenhuma. As estrelas eram diferentes aqui. Não diferentes – mas deslocadas. Claro, ele estava ao sul do equador desde que chegou ao Templo do Ar do Sul, mas só agora percebeu que ainda não tinha tomado o tempo para se reorientar sob esse céu alterado. Um movimento à direita chamou sua atenção – uma dispersão de milhares de pequenas sombras saindo do topo das árvores.

— Você viu isso? — ele perguntou. — Deve ser um bando de morcegos ou pássaros noturnos, ou algo assim.

— Vamos torcer para não serem mariposas-abelha — disse Gyatso.

Roku e Gyatso observaram a dispersão de pequenas e escuras formas atravessarem o pedaço de céu. E então, de repente, as criaturas voadoras se iluminaram e se tornaram mil pontos de luz flutuante. O bando brilhante girou sobre si mesmo, espiralou para cima, mergulhou, desviou para a direita, espiralou novamente para cima, desviou para a esquerda, mergulhou novamente. E então suas luzes começaram a pulsar em uníssono. As criaturas continuaram a dançar pelo ar, seus movimentos erráticos, mas harmoniosos. Era como se compartilhassem uma única mente. Como aquilo era tão hipnótico quanto bonito, Roku e Gyatso não falaram ou se moveram até que as criaturas voadoras se apagaram e desapareceram na distância.

— Uau — disse Gyatso quando o encanto se quebrou.

Roku soltou um longo suspiro de apreciação. Ele desejou que Ta Min estivesse lá para ver isso. Ele desejou que Ta Min estivesse lá.

Eles ficaram quietos novamente por um longo tempo. Então, sem motivo aparente, Gyatso disse:

— Eu sonhei que estava voando com Lola acima das nuvens. Eu me sentia mais feliz e livre do que há muito tempo. — Ele fez uma pausa. Esfregou a nuca. Respirou fundo. — Quando ela desceu, estávamos no Templo do Ar do Sul, mas ele estava em chamas. Cada torre, cada estrutura. Tudo… em chamas.

— Por quê? — perguntou Roku.

— Eu não sei — disse Gyatso. — Mas eu sabia que tinha que ajudar. Eu era o único que poderia ajudar. Eu fiquei com meu bastão e canalizei meu chi, me preparando para dobrar o ar com uma rajada enorme de vento, uma que extinguiria todas as chamas. Mas quando liberei minha energia… nada aconteceu. Tentei de novo e de novo e de novo. Nada. Nada. Nada. — Ele suspirou. — Então Lola de repente se afastou do templo, e eu deslizei da sua sela, caí pelo céu. E então, de repente, eu estava no santuário interno, encurralado por soldados.

— De onde?

Gyatso deu de ombros.

— Não tenho certeza. Lógica de sonho, eu acho. Mas eu sabia que eles queriam me matar. Que eles me matariam, a menos que eu conseguisse dobrar o ar. E a menos que eu estivesse disposto a usar minha dobra de ar para tirar a vida deles.

— Você fez isso?

Gyatso deu de ombros.

— Acordei bem quando eles atacaram.

Roku considerou o sonho e procurou a resposta certa. O Dobrador de Ar não precisava de uma interpretação; o significado era óbvio. Ele provavelmente também não precisava de algum encorajamento vazio de que não havia nada com que se preocupar. Sentando-se, Roku puxou as pernas para o peito e descansou o queixo nos joelhos.

— Eu sonhei que estava nadando com Sozin e Yasu.

— Oh? — perguntou Gyatso, visivelmente aliviado por não estarem mais falando sobre seu próprio sonho.

Roku assentiu.

— Nós costumávamos nadar o tempo todo quando éramos crianças. Nós três fazíamos todas essas pequenas competições uns com os outros. Quem conseguia prender a respiração debaixo d’água por mais tempo. Quem conseguia nadar mais longe, mais rápido. Quem conseguia mergulhar mais fundo e encontrar a maior ostra. — Roku riu. — Sozin e Yasu eram maus perdedores. Mas eu não. Eu nunca realmente me importei com quem ganhava. Eu estava apenas feliz por estar com eles.

— O que aconteceu no sonho?

— Nada — disse Roku. — Estávamos apenas lá, nadando. A água estava morna. O sol estava brilhando. A brisa era suave. Era um dia perfeito.

Gyatso inclinou a cabeça.

— Não parece um sonho ruim para mim.

— Não era — disse Roku. — A parte ruim foi acordar.