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O Julgamento de Roku: Roku, sozinho

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Roku não parou. Ele superou a exaustão. Enfrentou a sede e a fome. Atravessou riachos, escalou raízes e rochas e árvores caídas. Se Oh Wen estava certo e o resto de seu grupo tinha realmente sido atacado apenas alguns dias atrás, então Roku poderia alcançá-los em breve se não parasse para descansar. Ele poderia protegê-los dos perigosos habitantes da ilha e, depois, persuadi-los a sair em paz.

Ele poderia provar que Gyatso e a Irmã Disha – e ele mesmo – estavam errados. Ele não era um erro.

Ele era o Avatar.

O caminho serpentava para frente e para trás conforme subia. As árvores cobertas de musgo diminuíam, encolhiam, dando lugar a arbustos baixos e ventosos e tufos de grama espinhosa que brotavam rente ao solo cada vez mais rochoso. O vento aumentava e a névoa sempre silenciosa e presente deslizava mais rapidamente quanto mais alto ele ia.

Eventualmente, Roku não pôde subir mais – ele havia alcançado o que parecia ser o cume. Sem fôlego e com as pernas queimando, ele enxugou o suor do rosto e olhou ladeira abaixo. O terreno do outro lado da montanha era tão rochoso e áspero quanto o que ele acabara de subir, mas muito mais íngreme.

Então a névoa começou a se dissipar do jeito que Roku aprendeu a reconhecer como sinal do pôr do sol. Talvez como uma coincidência do ponto de vista e da hora exata do dia e do fato de o céu estar nublado, ele conseguia ver mais longe do que conseguiu até então na ilha. Aparentemente, ele não estava exatamente no pico, mas em uma crista. Ao norte e ao sul: o resto da crista se estendendo como uma fileira de dentes irregulares silhuetados contra o horizonte. A oeste: uma descida íngreme na floresta densa com a cicatriz estreita onde a trilha continuava. A leste: o caminho de onde ele veio, a enseada e o mar além, acima do qual pendia um céu sem estrelas.

O ar estava tão quente e úmido como sempre, mas naquela noite trazia o doce cheiro de chuva. Roku tinha apenas começado a descer quando as primeiras gotas caíram.

 


 

— Vamos lá, Ro, do que você tem medo? — chamou Yasu à frente. Ele estava na beira da praia, chama na mão, enquanto Roku ficava para trás com sua própria luz nas falésias baixas entre a grama marinha. A brisa tinha cheiro de areia e mar. As ondas quebravam na escuridão à frente. Atrás deles, erguia-se a forma escura da parede externa íngreme da caldeira.

— Parece que vai chover — disse Roku, estendendo a mão aberta para sentir as gotas.

Yasu olhou para as nuvens que cobriam o céu noturno, apagando as estrelas.

— Você pretende ficar seco enquanto nadamos?

Roku suspirou, então deslizou pela falésia arenosa e se juntou ao irmão gêmeo. Como já tinham feito centenas de vezes antes, eles se separaram e vasculharam a praia em busca de madeira flutuante, trabalhando em silêncio. Alguns minutos depois, voltaram a se encontrar, empilharam os troncos branqueados como uma tenda e usaram a dobra de fogo para acendê-los. A madeira seca pegou rapidamente, irradiando uma explosão de luz e calor.

— Uma pena que Sozin não pôde vir — disse Yasu enquanto se despia até ficar apenas com suas roupas de baixo, depois jogou de lado seu robe de dormir. O amigo estava de castigo após incinerar algumas tapeçarias centenárias na Academia enquanto tentava aprender a dobrar chamas azuis.

— É — disse Roku enquanto tirava seu próprio robe e o dobrava em uma pilha organizada. — Que pena.

Na verdade, no entanto, Roku não estava tão decepcionado. Não é que ele não gostasse de Sozin, é só que ele e Yasu raramente passavam tempo junto mais.

Nos primeiros dez anos de suas vidas, Roku e Yasu viveram sob o mesmo teto, compartilharam as mesmas refeições, passaram pelos mesmos dramas familiares. Por mais tempo que passassem com Sozin durante o dia, sempre voltavam para casa juntos. Mas essa conexão terminou no ano passado, quando entraram na Academia Real de Fogo para Garotos. Agora, viviam, comiam, estudavam e aprendiam ao lado de centenas de outros jovens Dobradores de Fogo em treinamento.

Nos raros momentos de folga, Yasu começou a passar mais tempo com Sozin do que com Roku. Então, quando Sozin e Yasu lutavam, Roku estudava. Quando Sozin e Yasu jogavam Pai Sho juntos, Roku ia ao teatro. Quando Sozin e Yasu saíam escondidos para conversar com garotas, Roku ficava na cama.

Eles estavam deixando ele para trás.

Por isso, quando Yasu perguntou se Roku queria sair escondido da Academia para um mergulho noturno e ver o plâncton bioluminescente, Roku se animou com o convite e imediatamente disse sim.

Mas agora, à luz da fogueira, uma chuva leve começando a cair e ondas altas quebrando perto da praia, o nervosismo se instalou em seu estômago.

Yasu prendeu o cabelo em um coque apertado, depois deu um tapinha nas costas de Roku.

— Vamos lá, Ro!

Roku hesitou.

— Não sei se isso é uma boa ideia, Ya.

— Não me diga que está amarelando comigo…

Roku coçou a nuca.

— As ondas estão enormes esta noite. E eu não sou um nadador tão bom quanto você.

— Verdade — disse Yasu enquanto entrava na água. — Mas você acha que vai ficar bom  parado na praia?

— E se alguém na Academia notar que saímos?

Yasu se virou, a água batendo em suas coxas.

— Já saímos escondidos dezenas de vezes e nunca fomos pegos. Além disso, já estamos aqui. Se essa for a primeira vez que somos punidos, que ao menos valha a pena.

— Eu nem vejo o plâncton. Você tem certeza que é hoje?

Yasu deu de ombros.

Procurando desculpas, Roku olhou para o horizonte nublado em busca de relâmpagos. Mas o céu permaneceu escuro, a chuva leve uma garoa.

Ele suspirou e seguiu seu irmão na água agitada e agradavelmente morna.

 


 

O vislumbre da ilha proporcionado pela meia-luz do crepúsculo foi breve e, em questão de segundos, ficou escuro demais para ver. Roku acendeu uma chama em sua palma e começou a seguir a trilha dos Dobradores de Terra pelo outro lado da montanha. À medida que a chuva aumentava, no entanto, a trilha ficava enlameada, e ele teve que diminuir a velocidade.

Não demorou muito para ele encontrar vários fragmentos de pedra que pareciam fora de lugar entre as rochas mais escuras. Quando Roku juntou as peças, percebeu que elas se encaixavam perfeitamente como um quebra-cabeça, revelando uma cavidade na forma de mãos entrelaçadas. E, por perto, havia outro conjunto de fragmentos cuja cavidade sugeria a metade inferior das pernas de alguém. Um dos Dobradores de Terra devia ter amarrado as mãos e os pés de alguém, e essa pessoa devia ter conseguido se libertar. Isso significava que o grupo de Oh Wen estava em algum lugar à frente – e eles ainda estavam em perigo.

Isso significava que ele ainda podia salvá-los.

Roku acelerou o passo.

 


 

As ondas batiam contra os joelhos de Roku, empurravam-no para trás, puxavam seu corpo em direção ao mar aberto enquanto recuavam. Quanto mais fundo ele ia, mais forte era o empurrão e o puxão da água. Mesmo assim, Roku manteve-se firme, aguentou os impactos e avançou em direção a Yasu.

— Lá vem uma grande! — Yasu chamou sobre o lento rugido da água se acumulando.

A onda atingiu Yasu; depois, Roku, alguns momentos depois, derrubando-os ambos debaixo d’água. Eles emergiram em segundos um do outro, rindo enquanto afastavam o cabelo comprido de seus rostos e cuspiam a água salgada que fazia seus lábios formigarem.

Quando a risada diminuiu, Roku olhou para a fogueira na praia, surpreso com a distância.

— Estamos bem longe. Talvez devêssemos voltar.

Yasu balançou a cabeça e avançou.

— Quero chegar ao banco de areia.

— Acho que o banco de areia está mais ao sul — disse Roku. Gotas de chuva ondulavam na superfície da água.

— Você não se perdeu na biblioteca da Academia semana passada? — perguntou Yasu, a falta de senso de direção de Roku era uma piada recorrente entre eles.

— Eles rearranjaram — disse Roku. — Mas, sério, deveríamos voltar, Ya.

— Vá em frente — disse Yasu. — Vou lançar algumas chamas quando chegar ao banco de areia que definitivamente está aqui e não mais ao sul. — Ele começou a nadar.

Roku flutuava na água, mal conseguindo tocar a areia com os pés. Mais adiante, vinha o som de outra onda se formando lentamente. Continuava crescendo e, logo, a água recuando abaixou até a cintura de Roku, depois seus joelhos, depois seus tornozelos.

— Tenha cuidado! — ele gritou para o irmão.

— Certo, mãe! — Yasu respondeu, respirou fundo e mergulhou quando a onda quebrou.

Os topos das ondas brancas atingiram Roku alguns momentos depois, derrubando-o com força inacreditável e o fazendo rodopiar violentamente debaixo d’água, a ponto de ele não saber qual direção era para cima. Vários segundos se passaram antes que a agitação diminuísse o suficiente para que ele pudesse se firmar novamente. Roku não estava rindo quando emergiu desta vez e se encontrou longe de onde estava momentos antes. Ele limpou a água dos olhos e procurou onde a cabeça de seu irmão deveria estar boiando.

— Yasu?

Exceto pelo mar agitado e pela chuva caindo, a noite estava silenciosa. O silêncio se estendeu enquanto Roku escutava uma resposta que nunca veio.

— Yasu? — Roku chamou novamente, o coração começando a disparar, um sentimento terrível se instalando em seu estômago. — Você está aí?

Nada.

— Pare de brincar!

Não seria a primeira vez que Yasu mergulhava, desaparecia por vários momentos e depois surgia ao lado de Roku tentando empurrar sua cabeça debaixo d’água.

Mas Yasu ainda não reapareceu. Um nó se formou na garganta de Roku. Seus olhos, ardendo devido ao sal, se encheram de lágrimas. Ele começou a hiperventilar enquanto o pânico ameaçava dominá-lo como um enxame de vespas-abutre.

O que ele deveria fazer? Esperar e continuar ouvindo? Nadar mais longe e arriscar as ondas? Voltar para a praia e correr em busca de ajuda?

Era um pesadelo acordado, e Roku estava paralisado pela indecisão.

Outra onda o atingiu, quebrando o feitiço. Quando passou, Roku cuspiu, respirou fundo, seguiu em frente, nadou com toda a força em direção ao lugar onde pensava que seu irmão estava. Quando chegou à área, ele ficou boiando enquanto girava e procurava qualquer sinal de Yasu enquanto chamava o nome do irmão.

Mas não havia nada.

Seu irmão era um bom nadador…talvez quando a onda bateu, ela tivesse puxado Yasu para baixo e ele tivesse batido a cabeça em um pedaço de coral e ficado inconsciente. Então, após gritar o nome do irmão mais algumas vezes sem resposta, Roku começou a mergulhar. Ele varria a água com as mãos, partindo-a com força surpreendente enquanto procurava cegamente por Yasu. Quando ficava sem ar, ele emergia, gritava o nome de Yasu, ouvia por um momento e mergulhava novamente.

Roku mergulhou tantas vezes que perdeu a noção de onde estava, perdeu a noção da fogueira e da praia. Perdeu a noção do tempo, de quantas outras ondas tentaram enterrá-lo. Nada existia exceto a consciência de que seu irmão, a outra parte de si, estava flutuando ou afundando em algum lugar na escuridão aquática.

Antes que se desse conta, os braços de Roku estavam cansados demais para remar, suas pernas exaustas demais para chutar, seus pulmões vazios demais para respirar.

Na próxima vez que emergiu, tentou reunir forças para mais um mergulho, mas não tinha mais nada.

De repente, ele soube que se não voltasse para a praia agora, se afogaria.

Ele chamou o nome de Yasu uma última vez e ouviu, mas havia apenas o som das ondas quebrando e a chuva batendo na superfície da água. Com a garganta arranhada, dor de cabeça pulsante e alma partida, Roku nadou de volta para a fogueira.

Ele se arrastou para a praia, reuniu as últimas forças para lançar um sinal de ajuda, depois colapsou na areia. Ofegante e chorando incontrolavelmente, ele rolou de costas para encarar o julgamento do céu sem estrelas.

Roku não sabia quanto tempo havia passado antes que alguém o encontrou e o colocou sentado. Ele disse que Yasu ainda estava lá fora e a pessoa mergulhou no mar para procurar. Outros chegaram. Ele foi levado para a fogueira e coberto com um cobertor. Foi protegido da chuva. Foi tranquilizado com palavras vazias. Outros chegaram. Tantos outros.

Formaram uma longa linha pela praia. Pegaram barcos. Vasculharam a água com varas de bambu e arrastaram os rasos com redes de pesca, enquanto chamavam o nome de Yasu na tempestade. Em algum momento, seu pai passou correndo em direção à água. Em algum momento, sua mãe apoiou a cabeça em seu ombro e chorou. Em algum momento, ele foi levado para casa.

Quando Roku se deu conta, estava em sua cama de casa, em vez de sua cama na Academia. Sozin estava sentado do outro lado, na beira da cama de Yasu. Ele estava encharcado e cheirando a mar. A chuva batia no telhado. O trovão retumbava. O rosto de Sozin estava em suas mãos. Ele ficou assim por um longo tempo, chorando. Então levantou a cabeça. Seus olhos vermelhos se fixaram em Roku e entregaram a terrível notícia.

Eles não conseguiram encontrar Yasu. Ele havia desaparecido, roubado pelo mar.

No funeral, não haveria corpo para queimar.

 


 

Roku desceu a íngreme encosta da montanha enquanto a chuva começava a cair em torrentes. O caminho virou lama e pedras escorregadias, transformando sua descida em uma combinação desajeitada de corrida, escalada, deslize, tombo e escorregão. A chuva e a lama encharcaram e sujaram suas vestes e apagaram sua chama várias vezes.

Mas, a cada queda, ele se levantava, reacendia sua chama e avançava. O resto do grupo de Oh Wen teria montado acampamento para a noite em vez de descer a perigosa encosta na chuva. Logo, talvez na próxima curva, Roku veria ou sentiria o cheiro de uma fogueira, ou ouviria o murmúrio distante de suas conversas reunidas.

“Viu?” ele disse a si mesmo. “Eu não preciso de Gyatso. Eu não preciso de ninguém.”

O caminho, já estreito, estreitou-se ainda mais enquanto serpenteava ao longo de penhascos íngremes. Um vazio de escuridão pairava à sua margem. Logo, o caminho desapareceu por completo, levado pela tempestade. Roku limpou as mãos contra suas vestes na tentativa inútil de secá-las, então começou a atravessar com nada além de raízes e pedras como apoios.

Roku estava quase atravessando quando suas mãos escorregaram de uma pedra molhada pela chuva. Seus olhos se arregalaram e suas mãos se agitaram inutilmente no ar enquanto ele caía para trás, despencando pelo penhasco e mergulhando na escuridão.

 


 

Roku carregava a urna de mármore branco, flanqueado por seus pais e avós. À frente deles, os percussionistas lideravam a procissão até o cemitério, batendo um ritmo lento e sombrio. Atrás deles seguia a família real, os Sábios do Fogo e o restante da nobreza. Eles serpenteavam silenciosamente pelas ruas da Capital vestidos de luto em branco e usando guirlandas de sampaguita, avançando em direção ao cemitério como uma lenta parada de espíritos da meia-noite.

Os restos mortais de Yasu não estavam na urna, é claro. Em vez disso, a urna continha as cinzas de doze anos de objetos preciosos: o pano em que ele foi envolto após seu nascimento, seu primeiro par de chinelos de lã de ovelha-coala, um dragão de madeira esculpido pelo avô, uma espada de madeira com a qual ele “matava” o dragão de brinquedo, seu pincel favorito, seu poema favorito, suas pinturas, suas braçadeiras de couro de rinoceronte Komodo e um adereço que foi um presente de Roku no último aniversário deles. Se esses eram os objetos que Yasu escolheria para representar sua curta vida, ninguém jamais saberia.

Roku colocava um pé na frente do outro. Ele consolava sua mãe quando os gritos dela ficavam tão angustiantes que perfuravam seu coração.

Ele aceitava as condolências dos cidadãos comuns. Ele dizia o que era esperado quando os Sábios do Fogo pausavam suas orações para a resposta do povo. Mas, por dentro, ele ainda estava deitado na praia naquela noite na chuva, despedaçado.

Ele perdeu metade de seu espírito quando perdeu Yasu. Nunca seria completo novamente.

Eventualmente, eles chegaram ao cemitério. Paredes imponentes de túmulos de concreto branco empilhados sete ou oito de altura alinhavam os dois lados da estreita passagem, ramificando-se pelo caminho em bairros menores e labirínticos dos mortos. Varas de incenso queimavam até virar cinzas, e flores em vários estágios de decomposição repousavam nas estreitas bordas em frente aos túmulos recentemente visitados, mas a maioria estava vazia.

Eventualmente, chegaram à seção dedicada ao seu clã e ao pequeno espaço aberto que aguardava a urna de Yasu. Pararam de repente, e os tambores também. Os enlutados se espalharam pelos dois lados da abertura, deixando espaço para Roku.

Ele avançou, segurou a urna por um momento a mais e então a colocou dentro e recuou. Um trabalhador do cemitério começou a selar o túmulo com uma placa de mármore gravada enquanto o Alto Sábio iniciava a cerimônia fúnebre, que passou em um borrão, Roku sentindo como se tivesse deixado seu corpo e estivesse assistindo das nuvens.

Quando Roku voltou a si, quase todos já tinham ido embora. Sua mãe permanecia, prostrada e soluçando, na base da parede que abrigava as cinzas dos pertences de seu filho morto.

Seu pai ajoelhava-se ao lado dela, descansando uma mão trêmula em suas costas.

Em um ponto, o pai de Roku levantou a cabeça, com os olhos vermelhos e envelhecido uma década em dias. Ele respirou fundo e disse baixinho:

— Você deveria tê-lo salvado. — Então ajudou a mãe de Roku a se levantar e a levou embora.

Roku esperou para chorar até eles virarem a esquina.

Ele sempre suspeitara que o forte, confiante e feliz Yasu, o primogênito, mesmo que apenas por minutos, era o filho favorito deles.

Os comentários de seu pai e o silêncio de sua mãe confirmaram isso. Roku não pôde deixar de sentir que eles estariam mais felizes se fosse seu corpo inchado flutuando em algum lugar no mar aberto, alimentando o oceano.

Sozin apareceu ao lado de Roku. O príncipe estava ereto, com os braços cruzados, mas Roku podia perceber com um olhar no rosto exausto do amigo que ele provavelmente não havia dormido por dias.

— Deveria ter sido eu — disse Roku. Ser nada poderia ser uma misericórdia comparado a viver o resto de sua vida existindo como metade de si.

Quando Sozin não disse nada por um longo tempo, Roku teve certeza de que era porque seu amigo concordava que o mar deveria ter levado Roku em vez de Yasu. Afinal, era com Yasu que ele tinha se aproximado desde que começaram na Academia, enquanto Roku estava desaparecendo no fundo.

— É inútil ficar preso ao passado — disse Sozin gentilmente depois de mais alguns momentos, o que Roku percebeu não ser uma discordância. — Nunca podemos mudar o que aconteceu.

Roku levantou os olhos para a placa de mármore que servia como marcador de túmulo de seu irmão. Mais fácil falar do que fazer.

— Só podemos olhar para o futuro — continuou Sozin. — Ser quem Yasu gostaria que fôssemos.

Roku suspirou. Estendeu a mão e traçou com o dedo os sulcos gravados na pedra que marcavam o nome de Yasu.

— Mas eu não sei quem sou sem um irmão.

Sozin colocou um braço em volta de Roku e puxou-o para perto.

— Eu não sou Yasu, mas também somos irmãos, Roku. Nunca se esqueça disso. Sempre seremos irmãos. Sempre. Até o fim.

 


 

Roku acordou na escuridão. Ele estava deitado de costas em cima de um monte de escombros, com a chuva caindo sobre seu rosto. Estava dolorido por todo o corpo, mas nada parecia estar gravemente ferido.

Ele se sentou com um gemido e usou sua dobra de fogo para invocar uma pequena chama na palma da mão, surpreso com a pouca energia que parecia exigir, apesar de quão esgotado ele se sentia.

Aparentemente, ele estava em um túnel. Paredes lisas e curvas de pedra negra se estendiam em ambas as direções, com estrias e longas saliências finas. O teto tinha cerca de três metros de altura, com uma pequena fenda irregular diretamente acima.

A última coisa que Roku lembrava era que havia perdido o equilíbrio enquanto tentava atravessar uma seção lavada da trilha. Ele havia sobrevivido à queda, mas como? Ele atingira o chão com força suficiente para perfurar a terra e aterrissar nesse túnel, mas não com força suficiente para que a aterrissagem o matasse ou ferisse gravemente.

Talvez ele não estivesse tão alto quanto pensava. Ou talvez ele tivesse agido por instinto e usado sua dobra para enviar uma onda de chamas ao chão, amaciando sua queda com a explosão. De qualquer forma, ele estava vivo.

Ele lançou a chama que estava segurando em uma direção e observou enquanto ela atravessava o túnel. Foi muito mais longe do que esperava antes de se apagar na escuridão distante.

Então, ele golpeou com o punho na direção oposta, lançando outra explosão de fogo que revelou mais do mesmo.

Roku olhou para a esquerda. Olhou para a direita. Olhou para cima.

Seu estômago afundou. O desespero o envolveu. Ele não fazia ideia de onde estava ou para onde ir para encontrar os Dobradores de Terra.

Então, ele começou a rir sozinho enquanto algumas das últimas palavras de Yasu inesperadamente ecoavam em sua cabeça.

Você não se perdeu na biblioteca da Academia semana passada?

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Capítulo 21