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O Julgamento de Roku: Para o resto de nós

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Sair escondido do Templo do Ar foi tão fácil quanto Roku esperava. Não havia guardas patrulhando os corredores escurecidos, e os Nômades do Ar eram os mais profundos, mas definitivamente não os mais silenciosos, dos dorminhocos. O maior desafio era garantir que ele não tropeçasse e caísse montanha abaixo enquanto descia as escadas espirais abertas do templo e os caminhos íngremes e tortuosos iluminados apenas pela luz suave e cinza do luar. Uma chama teria ajudado, mas ele não queria arriscar, para que o fogo não fosse visto por algum Monge do Ar acordado aleatoriamente no meio da noite.

Depois que Roku atravessou a ponte estreita até o esporão da montanha onde os bisões voadores dormiam nas estações mais quentes, ele suspirou de alívio e relaxou os ombros que estava tensionando desde que saiu de seus aposentos. Ele forçou os olhos para escanear a grande saliência, mas viu apenas o enorme monte peludo de criaturas adormecidas.

Roku não estava muito feliz com a ideia de Gyatso acompanhá-lo nesta missão, mas ele não tinha outra opção para chegar a uma ilha remota da Nação do Fogo no meio do mar, a menos que quisesse que a jornada levasse meses em vez de dias. Isso, claro, assumindo que Lola, o bisão voador de Gyatso, cooperasse.

Desde jovem, cada Nômade do Ar se vinculava a um bisão voador que se tornaria seu companheiro para a vida toda. Enquanto aprendiam a dominar a dobra de ar, eles domavam, treinavam e aprofundavam suas relações com seus bisões voadores. Dizia-se que os pares mais fortemente ligados compartilhavam um espírito, sentindo as emoções um do outro e antecipando as necessidades um do outro a tal ponto que sinais de treinamento verbais e físicos se tornavam desnecessários.

Esse não era o relacionamento entre Gyatso e Lola.

Quando Roku perguntou a Gyatso se poderia levar Lola, o jovem Nômade do Ar admitiu que Lola havia começado a recusar até mesmo os comandos mais básicos ao mesmo tempo em que sua dobra de ar começou a falhar. Ainda assim, ele assegurou a Roku que Lola conseguiria fazer a viagem. Tudo o que Gyatso queria em troca era ir com ele.

— Por quê? — Roku perguntou.

— Minha dobra de ar não tem sido muito poderosa há bastante tempo — Gyatso disse, referindo-se ao resgate. — Você vai se meter em mais encrenca nesta viagem, então terei mais oportunidades de acessar essa energia para te salvar. Se eu fizer isso várias vezes, talvez consiga descobrir como restabelecer totalmente minha conexão com a minha dobra de ar.

Roku não tinha certeza se isso funcionaria, mas talvez não importasse. Esta missão poderia nunca sequer decolar.

A garantia de Gyatso de que Lola de repente obedeceria a ele novamente poderia ter sido nada mais que a promessa vazia de alguém que acabara de experimentar um surto de confiança excessiva após uma vitória inesperada.

— Oh, meus espíritos, é o Avatar? — Gyatso gritou em uma voz aguda enquanto atravessava a ponte a passos largos. Então, em um sussurro teatral para Ta Min, que caminhava ao seu lado: — Ele é mais baixo do que eu esperava.

— E todo aquele cabelo — Ta Min disse, entrando na brincadeira. — Ugh.

— Ha, ha — disse Roku.

Ta Min abraçou Roku quando chegou até ele, a experiência de quase morte tendo erodido o senso de decoro da Nação do Fogo de ambos em relação ao outro.

— Estamos só brincando.

— Eu não estava — disse Gyatso.

Roku o ignorou.

— Tem certeza de que não posso te convencer a vir conosco, Ta Min?

Ta Min balançou a cabeça, pesarosa.

— Dois Cidadãos do Fogo poderiam dar ao Reino da Terra a impressão de que isso é mais um assunto da Nação do Fogo do que do Avatar. Além disso, meu acordo com o Príncipe Sozin era simplesmente entregar a mensagem dele e trazer sua resposta. Ele pode não gostar se eu decidir me envolver diretamente no assunto.

— Parece que você tem medo dele.

— Ele pode ser seu amigo mais próximo — explicou Ta Min —, mas para o resto de nós, ele é o futuro Senhor do Fogo.

— Justo — disse Roku, como se entendesse a diferença.

Então ele se virou para Gyatso.

— Então, qual é a Lola?

— Aquela — disse ele, apontando com o cajado para um bisão voador de tamanho médio dormindo na borda do monte. Ele abaixou o cajado e assobiou pelos dedos, suavemente. — Lola! Acorde! — O bisão voador rolou para ficar de costas para eles, suas seis patas balançando de um lado para o outro enquanto fazia isso.

— Venha aqui, garota!

O bisão voador não se mexeu mais.

Roku levantou uma sobrancelha para Gyatso.

Gyatso deu de ombros.

— Ela sempre leva alguns minutos para acordar. Enquanto isso, me ajude com a sela.

Eles pousaram seus alforjes e rolos de cama e fizeram seu caminho até a área de armazenamento esculpida na lateral da montanha. As vastas selas estavam empilhadas ordenadamente por tamanho, recentemente limpas e lubrificadas e organizadas para as partidas planejadas de amanhã. Ainda assim, nenhuma quantidade de limpeza livraria as selas do odor acumulado de anos de suor e pelo de bisão almiscarado.

— Suponho que possamos fazer isso do jeito fácil? — Roku perguntou, tendo visto como os Nômades do Ar normalmente usavam uma rajada de ar para flutuar as selas pesadas sobre os animais.

Gyatso balançou os braços em um movimento circular, levantando uma pequena espiral de vento. Ele empurrou para a frente, e o ar giratório escorregou sob uma sela. A sela tremeu enquanto subia alguns centímetros, depois caiu com um leve baque. Gyatso franziu a testa.

— Está tudo bem — Ta Min o tranquilizou.

Mas estava? Roku estava prestes a levar esse garoto em sua primeira missão como Avatar. Onde estava o hábil Dobrador de Ar que entrou em ação para salvar ele e Ta Min ontem?

Com nada além de seus próprios músculos – e os de Ta Min – eles levantaram uma sela da pilha e a carregaram até Lola. Era tão pesada quanto uma rocha, e todos ficaram aliviados ao colocá-la no chão quando se aproximaram do bisão voador adormecido.

— Nós simplesmente a colocamos em cima dela? — Roku perguntou, sacudindo as mãos.

— Claro — disse Gyatso.

Ta Min esticou os braços.

— Devíamos acordá-la primeiro, certo?

— Hmm. Acho que ela não gostaria disso.

Roku inclinou a cabeça.

— Você acha que ela preferiria que simplesmente jogássemos algo pesado em cima dela enquanto está inconsciente?

— Você tem razão — disse Gyatso e ficou quieto por alguns momentos enquanto pensava. — Poderíamos montar sem sela.

— Eu não vou montar sem sela. — Roku foi até sua mochila e voltou um momento depois com um braço cheio de peras, tendo se preparado para esse cenário. — Lola — chamou ele, em um canto suave. — Acorde, Lola. Tenho frutinhas para você.

Enquanto ele se aproximava, Lola sentiu o cheiro da fruta, e seu amplo nariz começou a se contorcer. Com os olhos ainda fechados, ela rolou sobre sua barriga e abriu lentamente sua boca cavernosa. Roku jogou algumas peras, quase perdendo um dedo quando os dentes dela se fecharam com um estalo.

Gyatso deu um passo cauteloso para frente e acariciou o lado dela, enquanto ela mastigava.

— Precisamos que você nos leve a um lugar, Lola. — Lola engoliu, depois abriu a boca novamente. Roku jogou mais algumas peras. — Um lugar bem distante.

O bisão voador continuou mastigando, ponderando sobre o pedido.

Finalmente, suas pálpebras se abriram. Seu olhar foi direto para a fruta restante nos braços de Roku.

— Haverá muitas frutas aonde estamos indo — ele a tranquilizou.

Lola terminou de comer as peras, bocejou e esticou seus seis membros. Então ela se sentou.

Roku se virou para Gyatso com um sorriso satisfeito.

— Isso foi suborno — disse Gyatso.

Roku e Ta Min riram.

Após colocarem a sela em Lola, Gyatso a prendeu ao bisão voador trançando mechas de seu pelo através dos ilhós que alinhavam o interior da saia da sela. Roku puxou a sela para verificar o trabalho do Nômade do Ar, depois prendeu seu equipamento na parte de trás. Gyatso inventou uma desculpa para ir para o outro lado do bisão voador, deixando Roku e Ta Min sozinhos para se despedirem.

— Estou feliz por conseguir te ver novamente — disse Ta Min, então envolveu seus braços em torno de Roku. — E por finalmente termos tido a chance de realmente nos conhecermos.

— Eu também — disse Roku, tentando gravar esse momento na memória. — Só queria ter tido coragem de falar com você em casa.

Eles se separaram.

— O passado é o passado. Temos o futuro.

— Espero que sim. — Roku coçou a nuca. — E desculpe por quase nos matar.

— Acontece. — Ta Min piscou. — Mas certifique-se de nunca chegar mais perto do que “quase”.

— Então, você realmente não vai mudar de ideia e vir conosco?

— Talvez da próxima vez.

Roku suspirou. Acenou com a cabeça.

— Vocês dois já terminaram? — Gyatso gritou do outro lado de Lola.

Roku abraçou Ta Min mais uma vez, depois gritou:

— Vamos!

Gyatso se aproximou e se despediu de Ta Min, depois ele e Roku ajudaram mutualmente a montar a sela de Lola.

— Você tem o mapa do Príncipe Sozin? — Ta Min perguntou do chão enquanto Lola se levantava.

Roku deu um tapinha em seu alforje.

— Quer que eu te explique como lê-lo mais uma vez?

— Não precisa. — Roku bateu na cabeça. — Minha mente é como uma armadilha de urso-tatu.

Ta Min riu e recuou para dar espaço para Lola decolar.

— Vejo você em breve.

— Não cedo o suficiente — disse Roku.

— Eca — disse Gyatso, então pegou as rédeas e gritou: — Yip-yip!

Lola bateu a cauda e decolou do chão e para o ar, levando Roku e Gyatso para longe de Ta Min, longe da Irmã Disha, longe do Templo do Ar do Sul e para o céu noturno iluminado pela lua.

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Capítulo 7