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O Julgamento de Roku: O caminho de menor resistência

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Quando Roku abriu os olhos novamente, o chão da cabana estava listrado de luz dourada que vazava pelos espaços entre as ripas de bambu da parede. O velho de cabelos longos e grisalhos — Ulo, Roku achava que se lembrava — estava sentado em um tapete próximo, encostado na parede adjacente com os olhos fechados e os braços cruzados, como se estivesse em meditação. Lá fora, ele ouviu o cacarejar dos porcos-galinhas, o som da água sendo agitada, o crepitar das fogueiras de cozinhar. Os sons de uma aldeia despertando.

O corpo inteiro de Roku doía, e ele ainda não tinha energia suficiente para dobrar nem mesmo a menor das chamas. No entanto, reuniu força suficiente para se arrastar para uma posição meio sentada, meio encostada na parede.

Ao som de Roku se movendo, os olhos de Ulo se abriram. Seu rosto se iluminou com um sorriso gentil, e ele descruzou seus braços musculosos.

— Ah, você está acordado.

Roku tentou falar, mas sua garganta estava seca demais, dolorida demais, e ele explodiu em uma crise de tosse. Com um movimento do pulso, Ulo encheu um copo de água com sua dobra de água e o ofereceu a Roku.

Roku bebeu até o copo estar vazio e então o colocou de lado. Limpou a garganta, que não parecia mais como se ele tivesse engolido um punhado de espinhos.

— Como você sabe que sou o Avatar? — ele perguntou, lembrando vagamente o que o velho havia dito antes.

— Sua aura — disse Ulo, como se fosse o fato mais óbvio do mundo. — Ela brilha como o sol.

— Você pode ver minha aura?

— Posso.

Roku estava cético. Na Nação do Fogo, dizia-se que apenas os Sábios do Fogo dos tempos antigos estavam próximos o suficiente dos espíritos para perceber a forma específica das energias de uma pessoa. Muito tempo atrás, era assim que identificavam o Avatar. Mas, com o passar do tempo e o aumento da divisão entre humanos e espíritos, os Sábios do Fogo tiveram que desenvolver métodos menos diretos. As únicas pessoas que supostamente possuíam tal habilidade hoje em dia eram charlatões tentando separar os ingênuos de suas pratas.

— Posso ver que você não acredita em mim, — disse Ulo —, mas está tudo bem. Ainda assim, é uma honra conhecê-lo, Avatar…

— Roku.

— Sim. Avatar Roku. Vivi muito tempo, mas nunca tive a chance de conhecer nenhuma de suas encarnações anteriores.

— Você é o chefe — lembrou-se Roku. — Do Clã Lambak, é isso?

— Isso mesmo.

— Não conheço.

— É intencional.

— Vocês são uma comunidade mista, não são? — Roku perguntou, lembrando da conclusão a que havia chegado ao assistir os Dobradores de Água na caverna. — Uma daquelas que se isolou do resto do mundo para resistir a se unir a uma das Quatro Nações.

Ulo assentiu.

— No entanto, eu não diria que resistimos a “nos unir”, mas sim que resistimos à colonização, subjugação e segregação forçada e depois anexação. Não-dobradores e dobradores de todos os elementos viveram aqui juntos em paz por centenas de anos. E planejamos manter assim.

Apesar da fadiga, Roku não deixou de perceber a acidez daquele último sentimento.

— Isso explica a névoa.

Ulo assentiu, então gesticulou em direção ao feixe de luz que entrava pela janela.

— Infelizmente, levará dias até que nossos Dobradores de Água recuperem força suficiente para esconder a ilha novamente. Há outros, é claro, mas eles ainda são jovens e requerem muito mais treinamento antes que possam dobrar água com segurança e habilidade assim. Só podemos esperar que ninguém mais decida visitar nossas praias nesse meio tempo.

O corpo de Roku se lembrava a energia avassaladora que havia fluído por ele no momento em que ele entrou no túnel e no espaço em cúpula com os Dobradores de Água. Nem um traço daquela energia restava dentro dele, e parte dele ansiava por voltar e sentir seu espírito se acender novamente. Mas uma parte maior temia isso em um nível primordial, temia o que ele havia feito e o que aquela força poderia fazer nas mãos erradas.

Ninguém deveria ser tão poderoso.

Para garantir que ninguém fosse, ele precisava entender completamente o poder da caverna, A Caverna Sagrada, como Ulo havia chamado antes. Seus instintos forjados na Nação do Fogo o compeliam a perguntar diretamente sobre isso, mas Roku pensou em como a Irmã Disha aconselharia paciência. Ele precisava guardar as perguntas para si no momento e seguir o caminho de menor resistência. Dada a história isolacionista do clã, perguntar sobre a Caverna Sagrada de forma muito direta e rápida poderia dar a Ulo a impressão de que Roku havia vindo à ilha com a intenção de explorar seu poder. Se ele esperava contar com a ajuda do chefe para encontrar os Dobradores de Terra e deixá-los sair — vivos — Roku precisava que o chefe visse que o Avatar havia realmente vindo para manter o equilíbrio.

— Falando de visitantes — Ulo continuou, como se lesse sua mente —, o que o traz à nossa humilde ilha?

Roku sentou-se completamente. Tentando evocar uma gravidade digna de Avatar, ele contou os eventos desde o momento em que recebeu o pedido de ajuda do Príncipe Sozin até o momento em que caiu nos túneis e encontrou os Dobradores de Água. Falou de forma clara e simples, sem esconder nada—exceto as acusações infundadas de Gyatso contra Sozin.

Ulo ouviu com uma expressão impassível, acariciando sua barba branca e sem revelar nada.

— É compreensível que seu povo tenha atacado em legítima defesa — Roku disse ao concluir. — Mas os Dobradores de Terra não estão aqui para prejudicar nenhum de vocês.

Ulo cruzou os braços e ficou quieto por um longo tempo. Quando falou, foi com uma autoridade tranquila.

— Em um momento, você diz que eles vieram aqui para roubar nossos recursos. No outro, você diz que eles não nos farão mal. Mas de todas as pessoas, certamente o Avatar deve entender que prejudicar uma terra é prejudicar seu povo.

— Estou aqui para garantir que eles não façam nenhum dos dois — disse Roku, sufocando um bocejo. Ele queria parecer mais resoluto, mas todo o esforço necessário para contar tudo a Ulo havia drenado o pouco de energia que ele havia recuperado. — Diga ao seu clã para se acalmar. Ajude-me a encontrar os Dobradores de Terra. Eu os convencerei a sair e nunca mais voltar.

— Uma ideia lógica, mas parece que você precisa de mais descanso. — Ulo se levantou. — Discutiremos isso mais tarde, quando você estiver se sentindo melhor. Posso até mostrar a aldeia e apresentá-lo a todos.

— Mas os Dobradores de Terra…

— Não são uma ameaça imediata — disse Ulo, e saiu.

O cansaço de repente dominou Roku. Seguindo o caminho de menor resistência, ele fechou os olhos e deixou-se adormecer, esperando sonhar com Ta Min novamente.

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Capítulo 27