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O Julgamento de Roku: Não muito fã de pássaros

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Enquanto Roku torcia o cabelo em uma estreita faixa de praia rochosa, ele reconhecia internamente que Gyatso havia tomado a decisão certa. Se tivessem tentado voar com o planador no meio da neblina, o corpo pendurado de Roku quase certamente teria se espatifado em uma das numerosas formações rochosas que se erguiam dos rasos, pelas quais eles passaram enquanto caminhavam para chegar à praia.

Perto dali, Gyatso tentava se secar com dobra de ar. Falhando, ele tirou as vestes e começou a espremer a água metodicamente.

— A gente poderia jogar bola-de-ar naquelas pedras — ele disse, referindo-se às mesmas formações de pedra agora perdidas na névoa que Roku estava pensando, que realmente se pareciam com o campo denso de postes de madeira de alturas variadas onde os Dobradores de Ar jogavam seu jogo favorito.

Roku amarrou o cabelo de novo e colocou o enfeite de cabeça no lugar.

— Já naveguei pelas Ilhas do Fogo várias vezes, e nunca vi uma costa como esta.

— Deixe-me adivinhar — disse Gyatso —, férias no barco de luxo da sua família?

A resposta era sim, mas Roku não queria admitir.

— Só estou dizendo que é estranho. Assim como essa neblina.

Gyatso assentiu.

— Este lugar tem uma energia espiritual estranha. Você sente?

Será que sentia?

Não sentia.

O Avatar não deveria conseguir perceber energias espirituais assim? Ele se sentia inquieto e desorientado, mas talvez não fosse devido à energia do lugar, e sim pelo fato de que a névoa era tão densa que ele só conseguia ver cerca de três metros em qualquer direção.

— Talvez haja mais nesta ilha do que Sozin contou para você — acrescentou Gyatso.

— Talvez — disse Roku, mas ele duvidava. Por que Sozin esconderia algo dele?

Gyatso olhou para cima, preocupação estampada no rosto.

— Espero que Lola esteja bem.

— Ela vai ficar bem — disse Roku. — Provavelmente voltou para o Templo do Ar do Sul. Ou talvez fique por perto, já que vocês dois são tão espiritualmente conectados.

— Por que você falou desse jeito?

Roku deu de ombros, pensando nas muitas vezes em que o bisão voador se recusou a obedecer aos comandos mais simples do jovem Dobrador de Ar.

— Ou talvez o seu animal guia especial de Avatar possa nos ajudar na próxima vez que estivermos em apuros — disse Gyatso. — Ah, espera, você não tem um.

— A Avatar Kyoshi não se ligou ao dela até mais tarde na vida — disse Roku, tentando não soar muito defensivo.

— Mas o Avatar Szeto cresceu com o dragão dele, certo? — perguntou Gyatso.

Relutantemente, Roku assentiu.

Eles terminaram de espremer o máximo de água de suas vestes, fizeram um inventário das provisões e posses que sobreviveram, e avaliaram o entorno. O ar estava quente e úmido, o sol nada mais que um brilho fraco na neblina diretamente acima. Pelo que puderam perceber, após vagar um pouco, a vegetação densa chegava quase até a beira da água, deixando a estreita faixa de areia rochosa onde estavam sentados. Podiam seguir para o oeste, para o interior da ilha, ou seguir a costa.

— Para onde? — perguntou Gyatso.

Roku tinha uma terrível noção de direção, mas Gyatso não precisava saber disso.

— Pulamos de Lola quando estávamos ao sul da ilha. E, segundo Ta Min, a patrulha da Nação do Fogo encontrou o Reino da Terra na costa leste. Então, se seguirmos a praia para nordeste, devemos encontrá-los eventualmente.

— E quando encontrarmos?

— Vou notificar que estão em território da Nação do Fogo.

— E então pedir educadamente que saiam?

Roku deu de ombros.

— Basicamente.

— E se eles se recusarem?

— Eles não vão.

Gyatso levantou uma sobrancelha.

— Mas se recusarem?

— Vou fazê-los sair — disse Roku, irritado.

— Que astúcia.

Roku se levantou e começou a andar.

— Hum. — Gyatso apontou o cajado na direção oposta. — Nordeste é por ali.

 


 

A costa continuava como uma estreita faixa de praia, em algumas áreas mais arenosas, em outras mais rochosas, serpenteando para leste ou oeste antes de sempre retornar ao norte. Depois de horas caminhando, Roku e Gyatso ainda não haviam encontrado nenhum barco ancorado nos rasos ou uma única pegada impressa na areia, então, quando a luz já fraca começou a diminuir ainda mais, eles pararam para descansar à noite.

Eles se aventuraram na floresta densa apenas o suficiente para coletar gravetos e galhos caídos, incertos dos perigos que ela podia esconder. Roku usou sua dobra de fogo para acender uma fogueira, enquanto Gyatso improvisava um abrigo caso chovesse. À medida que a noite caía, a névoa se dissipou apenas para ser substituída pela escuridão, e eles não conseguiam ver nada na praia além do brilho da fogueira. Mas um céu claro, sem lua, cheio de estrelas se estendia sobre as ondas azul-escuras a leste.

Gyatso assou algumas algas que coletou pelo caminho, enquanto Roku colocou um caranguejo nas brasas. Enquanto esperavam seus respectivos alimentos cozinharem, Roku usou sua dobra de fogo para fazer uma xícara de chá. Ele inalou o aroma picante, tomou um gole e soltou um suspiro contente.

— Posso experimentar? — disse Gyatso. Roku passou a xícara. Gyatso soprou para esfriar um pouco a bebida, depois bebeu.

— É realmente muito bom.

— Folhas de chá da Nação do Fogo — disse Roku ao pegar a xícara de volta. Ele inalou o aroma novamente, que cheirava a lar. — Disseram-me para não trazer nada, mas não resisti e escondi alguns pacotes nas vestes quando saí. Estava guardando para ocasiões especiais.

— Como encontrar uma ilha secreta?

— A primeira vitória do Avatar — disse Roku sem humor. Em seguida, levantou a xícara, tomou um gole e passou de volta para Gyatso.

— Enquanto você continuar compartilhando seu estoque comigo, não contarei à Irmã Disha sobre o seu contrabando.

— Você não faria isso.

— Claro que faria, você já provou o chá dos Nômades do Ar. É como água de enxágue de bisão voador. — Gyatso estremeceu. — De jeito nenhum eu volto para aquilo.

Roku riu. Ninguém que apreciasse uma boa xícara de chá podia ser tão ruim assim. Talvez, à medida que o jovem Dobrador de Ar amadurecesse, ele se tornasse menos irritante.

 


 

Por hábito, Roku acordou na escuridão antes do amanhecer. Sempre foi um madrugador, encontrando sua mente mais clara nesses momentos silenciosos antes do resto do mundo começar a se agitar. Como Gyatso não era, ele foi em frente e acendeu o fogo da manhã, meditou enquanto os pássaros da ilha começavam a cantar, e então começou a praticar os movimentos de dobra de ar que tinha visto Gyatso usar na noite anterior.

O céu a leste estava ficando de um azul pálido e a névoa começava a se formar quando Gyatso apareceu. O jovem Dobrador de Ar parecia mais sonolento do que de costume, enrolado em suas vestes como se fossem o mais fino cobertor de pele de bisão voador.

Roku parou, envergonhado por ser pego imitando desajeitadamente os movimentos expertos de Gyatso.

— Posso te ajudar?

— Não — disse Gyatso. — Mas posso te ajudar.

Roku se animou.

— Você vai me dar algumas dicas?

— Claro. — Gyatso bocejou. — A primeira coisa a saber é como cair.

— O que eu faço?

Gyatso se aproximou.

— Vamos começar simples. Fique aqui, de frente para mim.

Roku fez como instruído, ansioso por sua primeira verdadeira lição.

— Vou te empurrar.

— Só isso? — Roku perguntou, cético.

— Sim, mas lembre-se, dobrar ar é sobre soltar. Não tente amortecer a queda. Apenas feche os olhos e visualize o ar sob seu corpo tomando a forma de uma almofada.

— Só isso? — Roku perguntou novamente. — Não preciso mover os braços nem nada?

— Não. Só isso. Pronto?

Roku assentiu, fechou os olhos e imaginou uma almofada de ar.

Gyatso empurrou.

Roku caiu direto de costas com um baque pesado. Carrancudo, Roku abriu os olhos e se sentou.

— Ótimo trabalho. — Gyatso sorriu de lado. — Mas aqui vai uma sugestão: espere pelo seu mestre de dobra de ar.

Ele se virou e voltou para perto do fogo.

 


 

Depois do café da manhã, juntaram suas coisas e continuaram sua aparentemente interminável caminhada ao longo da costa enevoada. Andaram sem falar, e nas primeiras horas, a paisagem que passava dentro de seu campo de visão limitado era a mesma do dia anterior. Então a faixa de areia da praia se estreitou até desaparecer completamente. Foram forçados a entrar na vegetação, o que reduziu seu progresso a um passo lento devido à densa vegetação rasteira e às árvores que sufocavam o caminho sem trilha.

— Não reconheço muitas dessas plantas — disse Gyatso, parando para examinar uma fileira de minúsculas flores vermelhas em espiral que desabrochavam ao longo de uma videira. — E você?

— Não sou muito fã de plantas — disse Roku.

Gyatso apoiou-se em seu cajado, inclinando a orelha para o ar.

— E os pássaros — você os ouve?

Roku ouviu. Algo grasnou. Parecia um grasnido.

— Estranho, né? — perguntou Gyatso.

— Também não sou muito fã de pássaros — disse Roku, continuando a andar.

— Eu sou — disse Gyatso, seguindo-o. — Pássaros são ótimos. Você sabia que…

— Não estou interessado em nada do que você está prestes a dizer — interrompeu Roku.

— Você não gosta de plantas e não gosta de pássaros. Do que você gosta?

Roku pensou por um momento.

— Sou mais de dragões.

Gyatso zombou.

— Você não é de dragões.

— Você não me conhece.

— Eu te conheço o suficiente para saber que você quer que as pessoas pensem que é de dragões, mas não é realmente de dragões.

Roku não se dignou a responder.

Logo, o chão começou a inclinar-se para cima. À sua direita, o mar desaparecia na névoa e o som das ondas diminuía à medida que subiam. À distância, algo grasnou novamente.

Depois de um tempo, os pulmões e as pernas de Roku começaram a queimar com a subida íngreme, e seus braços ficaram cansados de empurrar galhos e trepadeiras. Quando parou para beber água, Gyatso, que não parecia nada cansado, caminhou calmamente até a beira do penhasco e olhou para o vazio da névoa cinza-branca.

— Esta seria uma vista bonita se o ar estivesse claro.

— Mas não está — disse Roku.

Talvez ele tivesse escolhido o caminho errado e estivesse levando-os para as montanhas. Que Avatar ele estava se revelando ser — quase assassinado por um único Dobrador de Terra, incapaz de ler um mapa, agora perdido na névoa.

Mas, um pouco depois, o terreno começou finalmente a descer novamente à medida que fazia uma curva para dentro. Um alívio tomou conta de Roku; eles haviam atingido o topo da colina. E quando desceram do outro lado, finalmente encontraram o que estavam procurando.

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Capítulo 12