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O Julgamento de Roku: Manobras políticas delicadas

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— Veja isso! — Gyatso gritou enquanto corria para a borda e saltava. Ele girou através da névoa e, alguns segundos depois, caiu em segurança na piscina de água abaixo. Mesmo sabendo que ela estava lá, Roku sentiu alívio ao ver que o Nômade do Ar não havia saltado para a morte.

O rio que acompanhava o caminho dos Dobradores de Terra os levou a uma série de cachoeiras que desaguavam em várias piscinas pequenas e em camadas. Eles beberam à vontade da água gelada e refrescante, depois encheram seus cantis e tomaram banho.

— Vou fazer algo útil — disse Roku, enquanto se afastava, aventurando-se fora do caminho batido pelos Dobradores de Terra.

No dia anterior, ele havia encontrado o que parecia ser uma árvore de fruta-pata-de-dragão. As cascas de sementes espinhosas e redondas pendiam em cachos azuis em vez de vermelhos, mas eram suficientemente semelhantes para que ele se sentisse seguro ao provar uma. E ele ficou feliz por fazer isso, era ainda mais suculenta e doce do que a fruta de sua terra natal. Roku e Gyatso se empanturraram, coletaram o máximo que puderam carregar e terminaram com elas mais tarde naquela noite.

Como não sofreram nenhum efeito colateral além de estarem tão cheios que mal conseguiam se mexer, ele esperava encontrar mais hoje.

Afastando-se das pedras largas e planas do leito rochoso do rio, a encosta da montanha inclinava-se abruptamente, coberta por folhas e caules semidecompostos. Grandes pedras afiadas e raízes retorcidas surgiam do chão, forçando Roku a andar devagar e cuidadosamente enquanto examinava os galhos acima em busca da fruta azul e espinhosa. Logo, os sons dos respingos de Gyatso ficaram tão fracos que ele mal conseguia ouvi-los.

O jovem Dobrador de Ar estava começando a conquistar sua simpatia, e não apenas porque eles compartilhavam perdas semelhantes. Ele era muito diferente do tipo de companheiro que Sozin teria sido e ainda irritava Roku por vezes, mas com menos frequência agora. E se não fosse por Gyatso, Roku estaria com a Tribo da Água do Sul servindo sopa ou derretendo gelo sob o olhar julgador da Irmã Disha. Em vez disso, ele estava aqui. Nesta ilha. No rastro dos Dobradores de Terra. Tentando provar que estava pronto para ser o Avatar que o mundo precisava. Se conseguisse, a Irmã Disha teria que começar a ensiná-lo a dobrar o ar.

Ele ainda não se sentia como o Avatar, mas talvez isso não importasse. Quantas vezes, enquanto cresciam, ele viu Sozin se lançar de cabeça em uma nova forma ou habilidade de dobra de fogo, mesmo sem saber o que estava fazendo? Vez após vez, seus tutores ou professores — ou até mesmo o Senhor do Fogo Taiso — insistiam que ele não estava pronto. Vez após vez, Sozin provava que eles estavam errados. Esse tipo de confiança era a chave.

Se ao menos Roku tivesse esse tipo de confiança. A história poderia ser diferente se ser o Avatar fosse uma honra que ele tivesse conquistado, em vez de uma coincidência aleatória de seu nascimento. Além de sua contínua incapacidade de dobrar qualquer elemento além do fogo, ele ainda não havia conseguido se conectar com Avatar Kyoshi. Os historiadores geralmente pintavam a vida dela com pinceladas largas, destacando suas numerosas vitórias e ocasionais controvérsias, mas raramente ofereciam informações sobre o que ela pensava ou sentia.

É isso que Roku precisava saber — daí a razão pela qual ele tentava se conectar com ela toda vez que meditava. Ele precisava perguntar se ela alguma vez se sentiu tão insegura de si mesma, especialmente após ter sido identificada como o Avatar. Precisava perguntar se ela alguma vez sentiu que ser o Avatar era um fardo que ela gostaria de poder se livrar para voltar à sua antiga vida. Precisava perguntar se ela alguma vez se sentiu como um erro, e, se sim, precisava saber como ela encontrou um caminho a seguir.

Ele não tinha certeza se se comunicar com suas vidas passadas seria tão conversacional. Era mais uma incógnita que a Irmã Disha se recusava a ensinar até o dia distante em que o considerasse pronto. Mais um motivo pelo qual ele precisava ter sucesso aqui.

Um galho estalou por perto, trazendo Roku de volta ao momento. Ele congelou, esforçando-se para captar outro som ou avistar algum movimento na borda da névoa. Pássaros cantavam. Um inseto zumbia enquanto saltava em frente ao seu rosto. Ao longe, a água respingava.

Nada mais.

Roku relaxou. Deve ter sido outra das misteriosas criaturas da ilha que estavam sempre fora de vista.

Ele estava prestes a retomar a busca pela árvore de fruta-pata-de-dragão quando ouviu um estrondo distante. Ele olhou para cima. Trovão?

Mas o som não vinha de cima, vinha da colina. E estava ficando mais alto e mais próximo, um rugido crescente descendo a encosta da montanha.

Quando o chão sob os pés de Roku começou a tremer, ele apertou os olhos na direção da névoa. Então, percebeu o que estava acontecendo.

Deslizamento de rochas.

Roku girou os braços em arcos largos, dobrando uma esfera de fogo ao seu redor um momento antes da primeira onda de pedras explodir através da névoa enquanto rolavam morro abaixo. A barreira de calor incinerou as rochas que caíam em sua direção, enquanto as que passavam pelos lados despedaçavam e arrancavam tudo em seu caminho.

Roku respirou fundo, firmou os pés, concentrou sua energia e continuou movimentando seus braços doloridos pelo ar. Ele podia não ser capaz de dobrar o ar, conectar-se com suas vidas passadas ou entrar no Estado Avatar, mas sabia como dobrar o fogo à sua vontade.

A barreira resistiu.

Depois do que pareceu uma eternidade, mas que provavelmente foram apenas alguns segundos, o estrondo começou a diminuir e o rio de pedras rolando cessou. Roku abaixou os braços cansados enquanto o mundo ao seu redor se acalmava, e sua esfera de chamas se apagou.

A poeira pairava no ar, levando vários momentos para se dissipar. Quando isso aconteceu, Roku viu apenas rochas escuras ao seu redor. Desapareceram as samambaias exuberantes e os arbustos de folhas largas e as árvores cobertas de musgo com galhos baixos — ou qualquer sinal de verde.

Com os ombros tensos e os punhos cerrados, Roku olhou ao redor. Talvez esses tipos de deslizamentos de pedras ocorressem frequentemente nas montanhas desta ilha devido à névoa constante durante o dia, cuja umidade devia infiltrar-se no solo. Ou talvez eles tivessem alcançado os Dobradores de Terra.

— Você está bem aí, Roku? — Gyatso chamou através da névoa. — Soou como uma avalanche.

— Estou bem — Roku disse, enquanto escaneava a névoa. — Nada que o Avatar não pudesse lidar.

Gyatso apareceu alguns momentos depois, caminhando levemente sobre os destroços com seu bastão na mão. Sua preocupação transformou-se em alívio ao ver Roku ileso e sorrindo.

— Pena que eu não estava com você — disse Gyatso. — Ou eu poderia ter tido mais uma chance de usar minha dobra de ar.

— Finalmente te encontrei — veio uma voz profunda e irritada de cima.

Um momento depois, um homem surgiu — ou melhor, mancou — pela névoa. Porque, embora ele fosse forte como uma montanha, estava em péssimas condições. Seu capacete havia sumido, e sua armadura estava empoeirada, quebrada e ensanguentada. Um braço estava em uma tipoia improvisada, e havia vários cortes longos e paralelos em seu torso e rosto, como se um dragão o tivesse arranhado com suas garras. E ele estava sem uma orelha.

Gyatso cutucou Roku e apontou para os pés enormes do homem.

— O gigante! — ele sussurrou.

— Você causou aquele deslizamento de pedras — disse Roku.

Mas o homem ignorou Roku. Seu olhar fixou-se em Gyatso.

— Vou acabar com você.

O rosto do Dobrador de Ar se contorceu de confusão.

— Espere, você está tentando matar a mim? Não a ele?

— Você é o Dobrador de Ar, certo?

— Sim, mas—

O Dobrador de Terra entrou na posição de cavalo e então lançou seu braço saudável para cima e para frente. Gyatso desviou de uma lança de rocha que surgiu de onde ele estava um segundo antes.

— Espere — Roku começou a dizer.

O punho do Dobrador de Terra voou em direção a Roku, e uma pedra atingiu o estômago do Avatar, fazendo-o rolar morro abaixo. Quando finalmente conseguiu se segurar, levantou-se instavelmente sobre as pedras soltas. Não ajudava que sua cabeça estivesse girando e seu corpo parecesse estar machucado em cem lugares.

Roku havia caído tanto que não conseguia mais ver o Dobrador de Terra ou Gyatso. Mas vindo de dentro da névoa acima, ele ouviu o som rápido de pedras rompendo a terra, indicando que o Dobrador de Terra ainda estava tentando empalar o Nômade do Ar. Roku apenas esperava que Gyatso pudesse dançar e desviar até que ele pudesse ajudar.

— Calma aí, senhor Gigante — veio a voz de Gyatso. — O que eu fiz para você?

— Não se faça de idiota! — rosnou o Dobrador de Terra. — E pare de ficar dançando!

Roku lutava para subir a colina, mas tentar escalar as pedras soltas era como nadar contra a correnteza. E quanto mais frenéticas eram suas tentativas, menos progresso ele parecia fazer.

— Mas eu preferia não ser esmagado até a morte… argh! — Gyatso gritou quando Roku ouviu pedra acertando carne e um corpo batendo contra as rochas.

— Gyatso! — Roku chamou enquanto escorregava e deslizava mais alguns metros para baixo. Ele quase lançou uma rajada de fogo na direção deles antes de pensar melhor, não querendo acidentalmente queimar seu companheiro.

— Estou bem! — Gyatso disse. — Por enquanto!

— Use sua dobra de ar! — Roku disse.

— Ah, por que eu não pensei nisso?

— Volte aqui! — rosnou o Dobrador de Terra.

Roku teve uma ideia.

— Venha até mim!

Poucos momentos depois, ele ouviu pedras se movendo. Gyatso surgiu da névoa, dando um salto mortal para trás e aterrissando levemente atrás de Roku. O Dobrador de Terra apareceu um instante depois, e Roku chutou os pés dele. O Dobrador de Terra voou para a frente e deslizou colina abaixo, desaparecendo na névoa.

Ele reapareceu um momento depois, mais irritado, mas mancando ainda mais do que antes.

— Espere — Gyatso começou a dizer, mas o Dobrador de Terra levantou o braço bom e o baixou com força.

Gyatso e Roku caíram para a frente quando as pedras sob seus pés recuaram morro acima como se um tapete fosse puxado. Eles se levantaram, agora de pé em um pedaço de terra exposta, e Roku levantou os punhos — mas um som de estrondo o fez virar a cabeça para ver uma enorme parede de pedra se aproximando deles.

Roku girou os braços e começou a dobrar outra barreira de fogo enquanto Gyatso girava seu bastão. Fogo e ar se fundiram acima deles, formando um escudo giratório de âmbar que dispersou a pedra que se chocava contra eles.

Roku virou-se novamente para enfrentar o Dobrador de Terra — mas ele havia sumido.

— Você o viu?

— Não — respondeu Gyatso.

Eles se moveram de costas um para o outro e examinaram a borda da névoa envolvente.

— Sua dobra de ar funcionou — disse Roku, enquanto se moviam em um círculo lento.

— Sua morte iminente realmente faz funcionar — disse Gyatso.

— De nada.

À esquerda de Roku, o Dobrador de Terra apareceu montado em um colossal pedregulho. Roku e Gyatso se jogaram para os lados enquanto ele passava entre eles, desaparecendo novamente na névoa densa do outro lado.

— Estou cansado dessa névoa — disse Roku.

— Ah — disse Gyatso. — Ela deixa as coisas mais interessantes.

O Dobrador de Terra passou novamente, quase acertando Roku, que se desviou no último instante. Quando aterrissou, Roku lançou um jato de fogo no Dobrador de Terra, que desapareceu na névoa.

— Na próxima vez que ele passar — disse Roku —, derrube aquela pedra debaixo dele.

Gyatso assentiu, respirou fundo e segurou.

Um momento depois, o Dobrador de Terra descia a montanha em direção a Gyatso. Gyatso permaneceu firme e soprou uma rajada de vento que fez o pedregulho voar para trás enquanto o Dobrador de Terra pulava sobre sua cabeça. Roku varreu as pernas do homem no momento em que ele aterrissou, e sua inércia o fez voar montanha abaixo. Ele caiu no chão, deslizou na névoa e se chocou com força contra algo com um estalo. Desta vez, ele não reapareceu.

Gyatso fez uma careta.

— Você acha que ele está bem?

— Ele tentou nos matar — disse Roku.

Gyatso deu de ombros e pulou montanha abaixo. Roku o seguiu, tropeçando desajeitadamente nas pedras soltas.

O homem enorme estava deitado imóvel de bruços, amontoado contra um pedregulho rachado. Gyatso colocou a mão sob o nariz do homem para verificar sua respiração.

— Ele está vivo. Deve ter batido o ombro na pedra.

Juntos, eles rolaram o homem para as costas. Seus olhos estavam fechados, seu rosto arranhado e machucado. O sangue seco de sua orelha ausente estava incrustado ao longo do pescoço, mas não havia o sangramento profuso na cabeça que ambos esperavam ver. Juntos, eles levantaram seu corpo gigante para uma posição sentada, apoiando-o suavemente contra o pedregulho.

— Ele é do Reino da Terra, com certeza — disse Gyatso, examinando a armadura do homem.

Roku assentiu. Mas algo estava errado. A couraça era de um estilo que o exército deles não usava há décadas. Parecia mais com o equipamento militar antigo, de segunda mão, que mercenários e seguranças privados costumavam comprar de catadores para dar aos outros a impressão de que haviam visto batalhas.

Sozin estava certo sobre o Reino da Terra estar na ilha, mas talvez não fosse em uma capacidade oficial. Será que a patrulha da Nação do Fogo havia identificado erroneamente os Dobradores de Terra como soldados, ou Sozin já sabia que era algum outro grupo? Se fosse o último, por que sua mensagem não mencionava isso?

Isso poderia tornar a missão de Roku muito mais simples, já que talvez não envolvesse manobras políticas delicadas. Por outro lado, poderia torná-la muito mais difícil, dependendo de quem eram essas pessoas e por que haviam vindo à ilha.

— O que foi? — perguntou Gyatso, percebendo a confusão no rosto de Roku.

Roku hesitou.

— Nada — disse ele, esperando o Dobrador de Terra acordar.

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Capítulo 17