Sozin não achava que voltaria à ilha tão cedo, mas lá estava ele, ao lado de Kozaru e Dal, na beira da cratera que um dia fora a Caverna Sagrada, onde apenas um ano atrás havia vindo salvar Roku, apenas para ser salvo por Roku.
Enquanto observava a colina marcada, ele estava mais uma vez grato por ninguém mais ter estado por perto para testemunhar a verdade do que havia acontecido. Kozaru não parecia duvidar da versão de Sozin, que Sozin havia matado Ulo, mas ficou gravemente ferido no processo, enquanto Dalisay era inteligente o suficiente para manter a boca fechada.
E assim, de volta à Nação do Fogo, a história que se espalhou como fogo selvagem foi a do Príncipe Herdeiro que derrotou um poderoso chefe separatista. Parecia o início de uma lenda moderna.
A razão pela qual Dalisay nunca lançaria dúvidas publicamente sobre sua história ou quebraria sua promessa de manter a presença do Avatar na ilha em segredo era porque, se o fizesse, Sozin encerraria seu pequeno projeto, a razão pela qual eles haviam voltado até lá.
Ele cumpriu sua palavra a Roku, convencendo o Senhor do Fogo Taiso a declarar a ilha, agora oficialmente conhecida como Ilha Lambak, uma região especial da Nação do Fogo em vez de uma prefeitura plena. Isso permitiu que o clã continuasse a se governar, pelo menos, ostensivamente, enquanto concedia à Nação do Fogo o direito aos recursos naturais da ilha. Não era a solução que seu pai queria, mas Sozin descobriu que, com sua reputação emergente, veio uma confiança crescente no futuro da Nação do Fogo entre o povo, dado que eles tinham um jovem herdeiro promissor. Isso fez o príncipe ganhar tanto o respeito quanto a atenção do Senhor do Fogo.
— Espero que isso não seja uma grande perda de tempo e ouro — resmungou Sozin enquanto observavam os trabalhadores movendo os equipamentos de mineração para o lugar.
— Confie em mim — disse Dalisay, que continuava extremamente satisfeita consigo mesma desde que foi a Sozin compartilhar sua descoberta. — A ciência é sólida. Mas lembre-se, a ciência também pode ser lenta.
— Ainda não entendi — disse Kozaru.
Dalisay soltou um suspiro de exasperação e tentou explicar novamente.
— Eu reverti o projeto da adaga da garota para…
Kozaru fez uma cara.
— Reverteu o quê?
— Ela derreteu o metal e separou em seus componentes básicos — tentou Sozin.
Kozaru piscou.
Dalisay continuou de qualquer maneira.
— Sim, então, eu fiz isso e descobri um mineral com várias propriedades únicas. Uma delas é que pode ser usado como um fluxo para produzir aço várias vezes mais forte e mais leve do que o que podemos forjar agora e em grande escala a uma fração do custo atual. Esse mineral, no entanto, só pode ser encontrado nesta ilha, dentro dessa parte da montanha. — Ela gesticulou em direção à cratera. — Entendeu?
— Claro — disse Kozaru. — Podemos fazer muitas novas armas e coisas por causa de alguma rocha especial.
Dalisay deu de ombros.
— Basicamente.
Não era o resultado que Sozin esperava de tudo isso, mas se funcionasse, as implicações para o futuro seriam impressionantes.
Isso o fez perceber que, assim como ele precisava se fortalecer de todas as formas possíveis, também devia explorar todas as avenidas para fortalecer a nação.
— Mas lembre-se — disse Sozin —, para meu pai, estamos aqui minerando carvão e ferro e colhendo frutas exóticas.
Dalisay zombou.
— Porque você quer todo o crédito.
— Não — disse Sozin com firmeza. — Porque ninguém mais pode saber sobre isso. Você pode imaginar se alguma das outras nações descobrisse esse mineral e colocasse as mãos nele? Além de descobrir o que descobrimos…
— O que descobri — interrompeu Dalisay.
— Além de descobrir o que descobrimos — manteve Sozin —, e se eles descobrirem outros usos que nem conhecemos ainda? Tenho que pensar que os Dobradores de Terra têm uma vantagem única quando se trata de entender rochas.
Dado o que ele havia testemunhado e experimentado na Caverna Sagrada, ele estava quase certo de que suas propriedades únicas eram resultados da energia espiritual que havia passado por aquelas pedras por centenas, senão milhares, de anos. Então ele temia o que os Dobradores de Terra poderiam aprender se colocassem as mãos nela.
Sozin guardou para si o outro motivo pelo qual não queria que seu pai soubesse sobre sua descoberta. Desde que fora permitido entrar na sala onde as decisões mais importantes eram tomadas, ele se sentia mais confiante de que seria um Senhor do Fogo melhor que seu pai. Se seu pai soubesse sobre o mineral, desperdiçaria provavelmente a vantagem em alguma troca diplomática bem-intencionada de informações. Sozin não podia deixar isso acontecer. Ele estava começando a formar sua própria visão para o futuro da Nação do Fogo, e a cada dia ficava mais claro que ele era o único que poderia realizá-la.
Kozaru e Dalisay trocaram olhares, como se cada uma estivesse incentivando a outra a dizer algo a Sozin. Mas nenhuma das duas falou.
— Desembuchem — disse Sozin.
Kozaru coçou os antebraços marcados.
— Lembra daqueles Dobradores de Terra da Companhia Comercial do Reino do Oeste?
— Obviamente.
— Então, meus contatos no Reino da Terra ouviram que eles contrabandearam um pouco daquela rocha especial quando os Nômades do Ar os enviaram de volta a Omashu. E que qualquer coisa especial que mostraram à rainha, os manteve fora da prisão.
Ótimo. Exatamente o que ele não queria que acontecesse desde o início.
Sozin tentou mascarar sua irritação enquanto observava os nativos lutando para montar uma grande broca. Ele conseguiu colocar Ta Min como uma “diplomata” na corte real da Rainha Guo Xun vários meses atrás, embora ela ainda não o tivesse informado sobre nada a respeito disso. Na verdade, ela não havia relatado nada há semanas. Ele tinha um mau pressentimento sobre isso e teria que investigar eventualmente.
A notícia decepcionante também renovou sua frustração com Roku. Vários dos nativos queriam executar os Dobradores de Terra imediatamente por destruírem sua aldeia e matarem seus parentes. No entanto, o Avatar os persuadiu a permitir que os criminosos enfrentassem a justiça no Reino da Terra. Isso, como se justiça pudesse ser encontrada naquele vasto e desorganizado mosaico de estados empobrecidos chamarem de nação. Se Roku não tivesse falado, isso nem seria um problema.
Seu amigo havia inegavelmente, e infelizmente, mudado.
Sozin culpava os Nômades do Ar. Roku sempre foi facilmente influenciado, sempre procurando alguém para lhe dizer o que fazer. Especialmente após a morte de Yasu.
Sem a orientação de Sozin, os Nômades do Ar conseguiram doutrinar Roku com sua visão de mundo ingênua e idealista. Sozin cumpriu sua promessa e permitiu que construíssem seu pequeno templo na capital, que eles chamavam de Centro de Aprendizado Fogo e Ar, mas estava sendo difícil conseguir seguidores e provavelmente não existiria mais no próximo ano.
Então, por mais que lhe doesse, Sozin teve que se perguntar se a amizade entre ele e Roku havia chegado ao fim. Ele sempre deixaria as pessoas acreditarem que eles ainda eram tão próximos quanto antes, já que tal conexão com o Avatar poderia ser útil de várias maneiras, mas ele nunca devia esquecer que seu ex-amigo não mais mantinha os interesses da Nação do Fogo no coração. Roku não era mais um verdadeiro Cidadão do Fogo.
— O que devemos fazer sobre isso? — perguntou Dalisay após alguns momentos, quando Sozin ainda não havia respondido à notícia sobre o Reino da Terra possuir o mineral.
O sol estava se aproximando de seu ponto mais alto no céu. A futura pedreira se estendia abaixo, os trabalhadores distantes se movendo como formigas. Três pássaros elegantes levantaram voo de uma árvore próxima, e Sozin os observou voar graciosamente pelo céu até serem abatidos pelos caçadores encarregados de alimentar o Príncipe Herdeiro enquanto ele estava na ilha.
— Descubram mais — disse Sozin, com a boca já salivando em antecipação à refeição que estava por vir.
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