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O Julgamento de Roku: Algo significativo

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Na noite anterior ao retorno do Avatar e dos Nômades do Ar ao Templo do Ar do Sul, Gyatso estava sentado de pernas cruzadas sozinho em uma grande rocha no meio da floresta. Seus olhos estavam fechados, e suas mãos abertas descansavam sobre os joelhos. O ar do crepúsculo era fresco e límpido. Havia uma brisa suave que carregava o cheiro de terra e pedra, folhas e madeira, musgo e flores silvestres.

Embora o Abade Rabten pudesse tê-lo encorajado a usar o momento para meditar sobre o ciclo natural de vida e morte da floresta, ele estava pensando em Malaya. Não em sua morte, mas em sua vida.

Seu pensamento afiado e conhecimento íntimo da terra. Sua coragem. Seu sarcasmo surpreendente. Sua suavidade ainda mais surpreendente. A maneira como eles se abriram um para o outro tão rapidamente. A sensação de seu joelho contra o dele na beira das fontes termais. A sensação de suas mãos na cintura dela, enquanto cavalgavam Kilat. Seu último abraço. E todos os outros momentos que compartilharam durante aqueles breves e sagrados dias.

A sensação de algo cutucando sua perna trouxe Gyatso de volta ao presente. Lentamente, ele abriu os olhos e encontrou Roku na base da rocha, estendendo a mão e cutucando-o com o que parecia ser um bastão de Dobrador de Ar, exceto que era feito de bambu vermelho.

— Foi uma meditação profunda — disse Roku, abaixando o bastão. — O Abade Rabten ficaria orgulhoso.

Gyatso gesticulou em direção ao bastão.

— Novo?

— Gostou? — Roku olhou para o bastão de cima a baixo enquanto o virava. — A Irmã Disha me ajudou a fazer esta tarde. Ainda preciso adicionar as asas, porém. — Ele tentou girá-lo, mas deixou cair. — E ainda preciso praticar um pouco.

Gyatso pegou o bastão e o devolveu.

— Você vai pegar o jeito. Mas acho que você não veio até aqui só para se gabar do seu trabalho em madeira.

A expressão de Roku ficou sombria.

— Está na hora.

Gyatso suspirou, então acenou com a cabeça. Ele respirou fundo e alisou a mão sobre a cabeça enquanto olhava ao redor da floresta mais uma vez. Então, ele pegou seu próprio bastão, desceu da rocha e eles começaram a descer o caminho juntos.

Por mais que tentasse não pensar, Gyatso não pôde deixar de lembrar da tentativa desajeitada de Roku de dizer algo significativo quando eles deixaram a aldeia de pescadores em sua última missão de socorro. Ele esperava que desta vez o Avatar procurasse mais dentro de si para encontrar as palavras certas.

— Algum conselho? — Roku perguntou eventualmente, provando que eles acabavam de compartilhar o mesmo pensamento.

Gyatso já tinha uma resposta.

— Diga o que você precisava ouvir depois de perder Yasu.

Os corpos estavam cada um em sua própria pira em uma clareira no topo da colina ocidental que dava vista para o vale em terraços. Eles estavam envoltos em mortalhas brancas e feitas à mão. Sete no total. A de Ulo estava na extrema-esquerda, a de Malaya na extrema-direita. No meio estavam os corpos dos aldeões mortos pelos guardas Dobradores de Terra. Não havia sinal de Amihan desde aquele dia no Bosque Cinzento, mas o clã decidiu que era melhor não assumir o pior.

Reunidos ao redor dos mortos estavam Gyatso, Roku, Irmã Disha, os poucos outros Nômades do Ar que vieram com a Freira do Ar, e os membros sobreviventes do Clã Lambak. O sol estava se pondo, pintando o horizonte com faixas ardentes de âmbar, laranja e violeta.

Pelo que Baku, o novo chefe do clã, disse aos forasteiros, a parte solene do ritual estava quase completa. Após a cremação, eles voltariam em silêncio para a aldeia e passariam o resto da noite festejando, dançando e contando histórias dos falecidos. Por mais que doesse, Gyatso estava ansioso por essa parte, precisando compartilhar e aprender o máximo possível sobre Malaya.

Eventualmente, Baku acenou para Roku, e o Avatar deu um passo à frente, ficando entre os vivos e os mortos. Ele olhou para Gyatso, então enfrentou o grupo e limpou a garganta.

— Não há nada que eu possa dizer agora para aliviar sua dor — começou. — Mas não acredito que eu deva tentar fazer isso. Vocês perderam pessoas que amaram profunda e intensamente, e isso dói. Dói. E sempre vai doer. — Roku fez uma pausa por um momento, olhou para Gyatso, então continuou. — Devemos nos permitir sentir essa dor, saudando nosso luto como uma bênção. Como a chegada inesperada de um velho amigo à nossa porta. Não mantenham a porta fechada – convidem-no a entrar. Tomem um chá e passem algum tempo colocando a conversa em dia. Então, quando for a hora, deixem-no seguir seu caminho.

Com isso, Roku ergueu a palma e trouxe uma pequena chama à vida. Ele a estendeu para Baku, que avançou com uma tocha.

Baku acendeu a tocha com a chama de Roku, levou-a até a pira de Ulo, e a colocou na madeira empilhada embaixo. Quando a lenha pegou fogo, Kamao, o filho de Baku, avançou com a próxima tocha e fez o mesmo com o corpo de sua mãe. E assim foi, linha após linha, até que os pais de Malaya acenderam a última pira.

Roku apagou seu próprio fogo e olhou para todos, os olhos cheios de lágrimas.

— Que suas chamas iluminem nosso caminho — concluiu com um aceno de cabeça.

Ele voltou para o lado de Gyatso, e cada um envolveu um braço sobre os ombros do outro.

— Como foi? — Roku sussurrou.

— Nada mal — disse Gyatso enquanto observava as chamas crescerem.

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Capítulo 51