Roku estava no meio da varredura quando ouviu passos se aproximando sobre o som do atrito da vassoura. Era o Abade Rabten, com seu rosto de querubim, o Monge do Ar responsável pelo Templo do Ar do Sul.
— Bom dia, Avatar Roku — disse ele, com uma profunda reverência.
Roku pausou a tarefa e retribuiu a saudação.
— O dia seria melhor se a Irmã Disha não tivesse me designado para limpar o crematório de novo.
O Abade Rabten olhou ao redor casualmente. Era um pavilhão pequeno, com uma torre azul, separado dos edifícios principais no topo de um pico vizinho menor. Havia espaço para as pessoas se reunirem, cercado por um pequeno e bem cuidado jardim. O chão de pedra era esculpido da montanha, chamuscado e coberto de cinzas no centro devido às incontáveis piras funerárias que haviam queimado ao longo dos séculos.
— Isso te incomoda? — perguntou.
Roku apoiou-se na vassoura.
— É um pouco perturbador.
— Por quê?
— Difícil dizer. Talvez por causa de toda a morte?
— A morte não é uma parte natural da vida?
— Claro.
— Inspiramos; expiramos — Abade Rabten explicou mesmo assim. — Pegamos emprestado da Terra; devolvemos à Terra. Somos físicos; somos espirituais. E quando deixamos este mundo, continuamos a existir de todas as formas vistas e não vistas nas quais influenciamos as vidas ao nosso redor.
— Certo — Roku disse, não alheio a essas lições. — Eu entendo.
Mas era óbvio que a tarefa era mais uma das tentativas da Irmã Disha de encorajar Roku a meditar sobre o princípio do desapego. Com o acréscimo de provavelmente esperar que ele considerasse o papel do fogo no processo de cremação.
— Se você entende, então por que isso lhe causa desconforto?
Roku ficou tenso e voltou a varrer as folhas caídas e agulhas de pinheiro que o vento trazia.
— Pelo menos não foi usado há algum tempo — ele disse, desviando da pergunta.
Abade Rabten ficou em silêncio por alguns momentos, como se decidisse se deveria pressionar Roku a discutir o que ele claramente não queria falar. Em vez disso, ele riu suavemente.
— Mas é importante mantê-lo em ordem. Nunca se sabe quando um de nós, mais velhos, pode precisar dele. — Poupando Roku de ter que responder, ele continuou. — A razão pela qual estou aqui, no entanto, é para lhe informar que você tem uma visitante.
Atordoado, Roku parou de varrer novamente e olhou para cima.
— Uma visitante?
O Abade Rabten assentiu.
— Como? — Roku perguntou. Os templos do ar foram construídos em locais notoriamente difíceis de alcançar, acessíveis apenas àqueles que montavam animais capazes de voar ou escalar os penhascos mais íngremes. E antes que o abade pudesse responder, Roku acrescentou: — Quem?
Nenhuma das mensagens que ele havia recebido até agora, que ele continuava a ler apesar do conselho da Irmã Disha, indicava alguma emergência real. As de Sozin e sua família faziam parecer que suas vidas continuavam como antes, como se ele nunca tivesse partido. As de pessoas pedindo ajuda eram assuntos menores, na maioria tentativas mal disfarçadas de obter a assistência do Avatar com situações que poderiam melhorar as perspectivas financeiras, sociais ou políticas do remetente.
— Uma jovem que encontrou um monge em uma das aldeias próximas e o convenceu a trazê-la em seu bisão voador — disse o Abade Rabten. — Ela disse que seu nome é Ta Min.
— Ta Min? — Roku repetiu. — Tem certeza?
O monge mais velho assentiu mais uma vez.
A ideia de ver Ta Min inesperadamente pessoalmente fez Roku vibrar de empolgação, mas também de confusão. Eles haviam frequentado os mesmos círculos sociais por anos, já que ambos os clãs ancestrais faziam parte da nobreza da Nação do Fogo, mas nunca haviam trocado palavras significativas. Roku tinha sido muito intimidado. Ela era inteligente demais, bonita demais, tudo demais. Mesmo quando Sozin continuava a cutucar Roku para tomar uma iniciativa depois que ele foi nomeado Avatar, Roku não conseguiu reunir a coragem. Então por que ela viria aqui agora?
— Irmã Disha, — acrescentou o Abade Rabten, — gostaria que mandássemos a jovem embora.
Roku bufou o mais respeitosamente que pôde. Ele estava farto das lições da Irmã Disha. Ele se sentiria diferente se sua mestra de dobra de ar estivesse treinando-o em dobra de ar de verdade, mas ela continuava a manter que ele não estava “mental, emocional ou espiritualmente pronto”. Além disso, na Nação do Fogo, seria considerado extremamente rude recusar um visitante que tivesse viajado tão longe, não importando quem fosse.
— Vou vê-la — disse Roku.
— Certo — disse o Abade Rabten com calma, sem trair qualquer indicação de seus sentimentos em relação à desobediência de Roku. — Pedirei que ela o encontre aqui assim que estiver pronta.
Roku olhou ao redor do crematório.
— Por favor, diga a ela que estarei no Jardim Flutuante.
Roku prendeu a respiração quando viu Ta Min. Ela atravessou o portão tori azul-celeste e cruzou uma das pequenas pontes que arqueavam sobre um lago de carpas, vestindo as roupas formais da Nação do Fogo, em camadas de carmesim, rubi e rosa pálido. Seu cabelo castanho escuro estava preso em um coque complicado, sustentado por dois espetos de cabelo dourados esculpidos, com algumas mechas soltas emoldurando seu rosto.
Ela parou a alguns passos de Roku, então se curvou à maneira da Nação do Fogo. Quando se levantou, sorriu. Seus olhos cinzentos o examinaram, e seu olhar se fixou em uma das características que ele mais amava nela: a pinta que ficava abaixo do canto do olho esquerdo.
— Avatar Roku — cumprimentou.
Como um fogo revivido das cinzas, o anseio de Roku por uma vida diferente reacendeu, queimando mais forte do que nos primeiros dias no Templo do Ar do Sul. E com isso, o desejo pelo futuro que lhe fora roubado com o anúncio dos Sábios do Fogo — um futuro que poderia ter incluído Ta Min. Era quase suficiente para ele se arrepender de não ter seguido o conselho da Irmã Disha.
Quase.
Roku devolveu a reverência como um Nômade do Ar, fazendo o melhor para seguir o conselho de Sozin e fingir não estar nervoso.
— Bem-vinda ao Templo do Ar do Sul.
Entretida, ela examinou seu novo visual.
— Estranho vê-lo nas roupas dos Nômades do Ar. Elas são tão… confortáveis quanto parecem?
Roku olhou para sua roupa.
— São extremamente… arejadas. Infelizmente, não fazem muito pelo meu corpo.
Ela não discordou.
— Pelo menos você ainda tem seu cabelo. Eles não fizeram você raspá-lo?
Roku tocou a peça de cabeça do Príncipe Herdeiro e depois passou os dedos pelo seu longo e sedoso cabelo preto.
— Avatares geralmente raspam quando treinam com os Nômades do Ar, mas não é uma exigência. Avatares do Fogo tradicionalmente não raspam.
— Faz sentido — disse ela. Os Cidadãos do Fogo consideravam o cabelo sagrado. Somente os membros mais próximos da família tocavam a cabeça uns dos outros. Cortá-lo além do comprimento costumeiro geralmente era um sinal de expiação pública. Quanto mais se cortava, mais profunda era a vergonha. Raspá-lo inteiramente significava uma completa renúncia — ou rejeição — da nacionalidade.
Ta Min suspirou.
— Sozin ficará desapontado, no entanto.
— Por quê?
— Ele estava ansioso para saber se sua cabeça era tão deformada quanto ele suspeitava.
Eles riram, e Roku percebeu o quanto sentia falta do sarcasmo cortante de sua terra natal. O senso de humor dos Dobradores de Ar era como o de crianças pequenas, rindo de coisas simples e diretas. Jogos de palavras. Soltar gases. Filhotes de bisões voadores ou lêmures alados rolando enquanto brincavam. Coisas desse tipo. Eles não faziam piadas às custas dos outros, mesmo em brincadeira — com exceção de Gyatso.
Como se estivessem com o mesmo pensamento, Roku e Ta Min começaram a passear pelo Jardim Flutuante lado a lado, sem que nenhum dos dois liderasse. Era a área favorita de Roku no templo, mesmo que fosse uma fração do tamanho dos Jardins Reais na capital. Havia as árvores habituais, arbustos floridos e pedras dispostas como ilhas em cascalho raked. Bancos, lagos de carpas, pequenos santuários, estátuas de vários animais e Nômades do Ar. Mas, como foi construído na encosta de uma montanha, o jardim era mais vertical do que qualquer outro que ele já tinha visto, com vistas surpreendentes dos picos circundantes de cada ponto ao longo de seus caminhos espiralados.
— Antes que você comece a se preocupar — disse Ta Min —, seus pais estão saudáveis e os negócios do seu clã estão prosperando. Na verdade, ouvi dizer que estão indo melhor do que nunca desde o anúncio.
— Isso é bom — disse Roku, sentindo uma leve pontada de vergonha. Estava tão animado para ver Ta Min que não tinha pensado em sua família.— Meu pai deve estar radiante. E como estão seus familiares?
— Estão bem também, obrigada.
A conversa ficou tensa, a estranheza ameaçando se infiltrar. Roku coçou a cabeça e tentou pensar em uma pergunta atenciosa. Mas tudo o que ele podia imaginar era Sozin rindo de sua falta de graça romântica.
— Como está indo o treinamento? — perguntou Ta Min primeiro. — Já dominou a dobra de ar?
— Está… progredindo.
— Fico feliz em ouvir. Talvez você possa me levar em um desses planadores depois? Sempre quis andar em um.
— Claro — disse Roku. Não tinha certeza se ela estava brincando, mas, se não estivesse, isso poderia motivá-lo a finalmente praticar a dobra de ar. Talvez ele pudesse pedir a um dos jovens Nômades do Ar para lhe dar aulas depois do jantar.
Ela sorriu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— E como está a vida após se formar na Universidade? — perguntou ele. Sempre ficara fascinado pela decisão dela de frequentar a Universidade em vez da Academia, mesmo sendo uma Dobradora de Fogo. De fato, foi depois de ouvir sobre essa decisão que ele revelou sua paixão por ela a Sozin.
Ta Min balançou a cabeça.
— Frustrante.
— Oh?
Eles pararam em um pequeno lago. Carpas subiram à superfície, escamas brancas, douradas e negras brilhando na água. Suas bocas com bigodes buscavam ar, esperando serem alimentadas.
— Como você, meu pai está preso aos velhos hábitos. Apesar da minha educação, ele se recusa a me deixar ajudar nos negócios do clã. Ele diz que, como filha mais velha ‘nos meus anos de florescimento’, eu deveria estar focada em conseguir um casamento adequado.
Roku engoliu nervosamente. Será que ele tinha perdido sua chance?
— Seu clã é um dos mais ricos da Nação do Fogo — disse ele, fingindo que seu ânimo não estava diminuindo. — Isso não deveria ser um problema.
— Geralmente, não. Mas ele está de olho em unir nosso sangue ao da família real.
Uma sensação terrível se instalou no estômago de Roku.
— Sozin.
Ta Min assentiu.
Mas Sozin sabia como Roku se sentia em relação a ela. Certamente, ele não trairia seu amigo mais próximo assim.
— E você…
— Não tenho intenção de me casar antes de estar pronta — interrompeu Ta Min. — E eu não estou pronta. Nada contra seu amigo.
— Você poderia fazer pior — disse ele, aliviado.
Ela lançou um olhar para Roku.
— Eu poderia fazer melhor.
Roku sorriu, esperança revivendo.
Eles continuaram passeando pelo jardim e logo chegaram ao portão que marcava seu fim. Com o jardim situado na base dos terrenos do templo, uma camada de nuvens estava suspensa logo abaixo de seus pés. Era como se estivessem juntos na margem de algum mar suave.
— Mas ele é realmente o motivo de eu estar aqui — disse Ta Min, ajustando sua voz para um tom mais formal. — O príncipe Sozin, quero dizer.
— Ah — disse Roku, sentindo um lampejo de decepção por ela não ter vindo até aqui para professar seu amor eterno por ele. — Estou aqui para entregar uma mensagem.
— Teria sido mais fácil enviar um falcão.
— É uma mensagem importante — disse Ta Min, virando-se para Roku e juntando as mãos sob as mangas de suas vestes. — Uma que ele não quer que ninguém intercepte.
— Nem mesmo o Senhor do Fogo Taiso, imagino?
— Especialmente não o pai dele — confirmou Ta Min.
Roku riu. Por mais que Sozin desejasse a aprovação de seu pai, ele estava sempre desobedecendo o homem.
— O que ele está aprontando agora?
Ta Min olhou ao redor.
— Estamos sozinhos aqui?
Roku se virou para uma estátua próxima de um Dobrador de Ar em meditação, olhou para seu rosto de pedra e bateu duas vezes na testa comflecha.
— A menos que esses Dobradores de Ar sejam ainda melhores em meditação do que sabemos, devemos estar bem.
Ta Min ignorou a piada.
— Sozin tem informações de que o Reino da Terra está tentando expandir suas fronteiras silenciosamente desde antes da morte de Kyoshi.
Roku acariciou o queixo enquanto considerava a notícia, esperando que Ta Min notasse sua nova barba. Não era surpreendente que o Reino da Terra tentasse expandir, dado seu apetite insaciável por recursos. E Roku tinha passado bastante tempo na biblioteca do templo lendo sobre as transições entre Avatares, então entendia que o período entre a morte do Avatar anterior e o amadurecimento da nova reencarnação era a oportunidade perfeita para bandidos, mercadores ou governos fazerem alguns movimentos. Nada muito ousado, no entanto, para não se tornarem o primeiro alvo do próximo Avatar. Como Kyoshi viveu até os duzentos e trinta anos, devia haver um grande número de pessoas ansiosas para avançar com seus esquemas.
— Agradeço a Sozin por me manter informado sobre os assuntos mundiais — disse Roku após alguns momentos —, mas imagino que haja mais na mensagem?
Ta Min assentiu.
— Algumas semanas atrás, uma patrulha da Nação do Fogo descobriu uma presença militar do Reino da Terra em território da Nação do Fogo.Eles estão tentando roubar uma de nossas ilhas externas.
— Qual ilha? — perguntou Roku, surpreso com a audácia de tal movimento.
— Uma ilha sem nome na cadeia de Sibuyan, ao sul. Pequena o suficiente para não aparecer na maioria dos mapas.
— Habitantes?
— Um punhado de nativos não contactados — disse Ta Min. Então, ela entregou o pedido oficial.— Sozin quer que você viaje até a ilha e convença o Reino da Terra a sair e renunciar à sua reivindicação. Ele acredita que, se alguém pode fazê-los ver a razão e resolver isso pacificamente antes que se torne um incidente internacional, esse alguém é o Avatar.
Roku considerou o pedido enquanto um grupo de lêmures alados passava, suas sombras correndo pelas nuvens abaixo deles. Era possível que o Reino da Terra estivesse tentando reivindicar a ilha como Sozin pensava. Mas, dado que o lugar era remoto e pouco povoado, parecia mais provável que eles esperavam se infiltrar e extrair uma quantidade considerável de madeira, carvão e minério antes que a Nação do Fogo percebesse.
De qualquer forma, Sozin estava certo. Eles não podiam deixar o Reino da Terra roubar território ou recursos. Além da questão do orgulho, a terra era escassa na Nação do Fogo. Cada ilha importava, mesmo que simbolicamente — daí a recente campanha do Senhor do Fogo para reprimir as Rebeliões das Ilhas Externas.
Roku também conhecia seu amigo bem o suficiente para adivinhar que Sozin havia trazido a questão a Roku em vez do Senhor do Fogo Taiso porque queria provar seu valor ao pai. A possibilidade de que o Senhor do Fogo pudesse punir Sozin por agir sem aprovação se ele falhasse não incomodaria Sozin. Sozin nunca considerava a possibilidade de falhar — porque nunca falhava.
Por outro lado, Roku não conseguia tirar a voz da Irmã Disha de sua cabeça. Independentemente da situação, como provaria a ela que ele havia se desvinculado de sua terra natal se a primeira missão do novo Avatar do Fogo após meses de silêncio fosse em defesa do território da Nação do Fogo? Como isso pareceria para o mundo?
— O que você acha? — perguntou Roku.
Ta Min respondeu sem hesitação.
— Se isso faz parte de um plano maior, deixar a presença militar do Reino da Terra permanecer em uma de nossas ilhas sem contestação poderia torná-los mais confiantes e agressivos no futuro. Ainda assim, esta é uma situação delicada.
— Se você estivesse no meu lugar, o que faria?
— Se eu acreditasse que poderia convencer pacificamente o Reino da Terra a sair, eu o faria.
— E se não acreditasse?
— Então eu deixaria para o Príncipe Sozin.
Roku assentiu. Acariciou sua nova barba mais um pouco. Inspirou, expirou.
Será que ele conseguiria?
Já havia provado que não conseguia usar palavras com muito efeito. E embora fosse um mestre da dobra de fogo, estava longe de possuir o poder totalmente realizado de um Avatar, o tipo de poder que os outros temiam enfrentar. E se cometesse um erro que escalasse a situação e ameaçasse a paz duradoura que Avatar Kyoshi havia estabelecido?
Talvez não fosse uma preocupação tão grande quanto Sozin acreditava. Pelo menos, não tão grande que a situação exigisse a intervenção do Avatar no momento.
Ele decidiu.
— Sinto muito — disse ele a Ta Min, embora lhe doesse negar qualquer coisa a Sozin, ou a ela. — Não posso.
Ela se afastou da visão dos lêmures alados passando e encontrou seus olhos sem traço da brincadeira que tinham compartilhado antes.
— Posso perguntar por quê?
Roku considerou o quanto de seu raciocínio compartilhar, ciente de que Ta Min relataria tudo a Sozin. Era a primeira vez que ele se preocupava em esconder algo de seu amigo, entendendo implicitamente que as coisas eram mais complicadas agora.
No final, ele simplesmente disse:
— Preciso focar no meu treinamento no momento.
Ela se afastou.
— Entendo.
— Mas vamos manter um olho atento no Reino da Terra — acrescentou. — Se suas ações em relação ao nosso povo ou à nossa terra se tornarem mais agressivas, intervirei.
— O Príncipe Sozin ficará feliz em saber que a Nação do Fogo conta com seu apoio.
Eles começaram a seguir o caminho de volta para a entrada do jardim.
— Gostaria de poder dar-lhe uma mensagem melhor para levar de volta — disse Roku. — Sei que Sozin ficará insatisfeito.
Ela deu de ombros. Reajustou um dos espetos de cabelo dourados.
— É uma boa prática.
— Para quê?
— Ser diplomata — disse Ta Min. — É o que quero fazer com minha educação. O Príncipe Sozin prometeu me deixar começar a estagiar como uma após eu entregar esta mensagem a você.
— Ah, e se o futuro Senhor do Fogo considerar essa profissão adequada para você, quem são seus pais para discordar?
Ta Min sorriu, a brincadeira retornando.
— Exatamente.
Enquanto caminhavam, seus ombros se tocaram. Nenhum dos dois se afastou.
— Fico feliz que ele tenha escolhido você para trazer essa mensagem — disse Roku.
— Eu também — disse Ta Min.
— Já que você veio até aqui, talvez possa ficar alguns dias? A comida não é nada especial, especialmente o chá, mas os Nômades do Ar são anfitriões graciosos e as vistas são espetaculares.
Ta Min observou as montanhas ao redor que se erguiam acima das nuvens como uma constelação de velhos espíritos guardiões.
— Eu gostaria disso.
— Ah, e a biblioteca — acrescentou Roku, mesmo que ela já tivesse concordado em ficar. — Eles têm tantos pergaminhos que nunca vi em nenhuma coleção da Nação do Fogo. Você vai adorar.
— Sempre suspeitei que você fosse secretamente um rato de pergaminhos — disse Ta Min, divertindo-se com sua excitação juvenil pela biblioteca. — Mesmo que passasse a maior parte do tempo livre sem camisa no Pátio Real, lutando com o Príncipe Sozin.
— Oh, então você notou. — Roku levantou os braços e flexionou os músculos.
Ta Min revirou os olhos.
— Só preciso compor uma mensagem rápida para Sozin antes de você me mostrar o lugar.
— Não está preocupada com o falcão sendo interceptado?
— Vou manter a mensagem enigmática.
Roku assentiu.
— Diga a ele que raspei a cabeça e está tão bonita quanto um ovo de dragão.
— Não vou dizer isso — disse Ta Min antes de se afastar.
Ela estava apenas fora de vista quando a Irmã Disha apareceu em um dos outros caminhos do jardim. A pequena freira do ar caminhou até Roku, mãos cruzadas nas costas e um leve sorriso brincando em seus lábios.
— Sua amiga será uma diplomata formidável algum dia.
As bochechas de Roku ficaram vermelhas.
— Quanto disso você ouviu?
— O suficiente.
— Alguma técnica secreta de escuta dos Dobradores de Ar?
— Algo assim. — Ela acenou na direção de onde viera. — Meu lugar favorito para meditar é perto dos rododendros naquela esquina. Eles estão lindos nesta época do ano.
— Tomei a decisão certa? — perguntou Roku.
— Foi sábio não se envolver em uma disputa territorial menor entre nações. Mesmo que o pedido tenha vindo de um amigo próximo.
Ele sorriu.
— Isso significa que estou pronto para aprender dobra de ar?
— Quase. Mas, em sua última garantia à jovem, você se referiu a ‘nosso povo’ e ‘nossa terra’ ao falar da Nação do Fogo.
O sorriso de Roku desapareceu. Não podia negar o que isso implicava.
Do nada, uma torta caiu do céu. Ela atingiu a cabeça de uma estátua de Dobrador de Ar a alguns metros de distância de Roku e Irmã Disha, espirrando-os com fragmentos de crosta e recheio de fruta.
Roku suspirou enquanto limpava suas vestes.
— Pode, por favor, dizer ao Gyatso para parar de tentar me acertar com tortas?
A Irmã Disha deu de ombros.
— É uma prática inofensiva de dobra de ar.
Ela se aproximou da estátua, mergulhou um dedo no recheio que escorria pelo lado do rosto da estátua e provou.
— Hmm… jaca caramelizada — informou a Roku. Então, ela colocou as mãos em concha ao redor da boca e gritou montanha acima:
— Sua mira precisa melhorar, mas sua receita está evoluindo!
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