Ele pensou que a emoção iria durar mais tempo. Mas depois de um grande acontecimento, você tem que ir para casa, ele supôs. Tinha que tomar banho e pôr comida na barriga. Hoje à noite, galinha do ártico e guisado de ameixa do mar. Obrigações e nenhuma delas particularmente excitante.
Kavik saiu do seu quarto, o seu prêmio escondido, as suas mãos e o seu rosto limpo das suas atividades. Ele não tinha visto quaisquer feridas que pudessem estar visíveis em seu rosto, e os seus pais também não. A cura do Avatar era impecável.
— Chegou alguma carta? — perguntou Kavik. Ele perguntava sempre. A resposta era sempre não.
— Não. — disse a sua mãe, que sabia quão importante era a pergunta. — Verifiquei pouco antes de você voltar.
O seu pai terminou de apurar suas tabelas, passando para a frente e para trás no ar num ábaco imaginário com a mão esquerda e riscando os resultados para um livro com a direita. Uma vez terminado, ele descansou o seu carvão afiado e levantou-se da mesa.
A mãe de Kavik trouxe a panela para o tapete e colocou-a na mesa baixa. Três pessoas estavam igualmente distantes um do outro. Enquanto ela servia o caldo nas tigelas, Kavik pensou no que o Avatar tinha dito anteriormente. Deixe as coisas correrem durante muito tempo e você será enganado ao pensar que sempre foram desse jeito.
— O que te fez demorar tanto para chegar em casa? — perguntou o seu pai.
Lá se vai o momento da contemplação silenciosa.
— Eu estava… o velho Chan me pediu para fazer um favor e ir buscar uma encomenda para ele no boticário. — Mais valia reutilizar material. Os pais de Kavik já tinham ouvido sobre uma série de bicos peculiares desde que o filho deixou Nuqingaq; atualmente ele varria o chão numa loja de chá.
— Eu passei no Chan mais cedo. —Seu pai disse. —Ele diz que não te vê há semanas.
Raios. Um erro imperdoável. Eles estavam tão bem por tanto tempo, evitando conflitos sobre as atitudes de Kavik. Mas ele supôs que mais cedo ou mais tarde viria à tona de novo. As marés sempre iriam chegar.
— Eu estava trabalhando do outro lado da cidade. — disse Kavik, verdadeiramente. — Eu não estava fazendo nada perigoso. — Pelo menos. — Não te disse que tinha deixado o Chan, porque você se preocupa com cada pequena mudança que acontece na minha vida.
— Eu queria que você não achasse que somos idiotas. — Seu pai respondeu. -—Pelo menos nos diga quem é o seu chefe.
Caso você também desapareça. É uma pena que ele não podia, mesmo que quisesse. Kavik pode ter mentido pro Avatar sobre não ter uma família, mas a parte sobre ser um mensageiro independente estava correto. Ele realmente não trabalhava exclusivamente para Teiin ou para qualquer um dos líderes do comércio. Ele tinha conseguido arranjar um nicho em Bin-Er como o mensageiro que não cobrava muito, e aceitava respostas a certas questões em vez de dinheiro.
— Kavik. — disse a sua mãe quando ele não respondeu. — Você sabe onde termina este caminho.
— Sim. — disse ele, a sua língua afrouxando antes que ele a pudesse parar. — Aqui mesmo. Com vocês dois fazendo absolutamente nada.
— Kavik — seu pai o repreendeu.
Parecia tão injusto, a forma como ele tinha de apontar para o ponto lógico sempre que discutia com os seus pais, mas tudo o que eles tinham de fazer era dizer o seu nome. Ele nunca conseguiu equilibrar a balança quando os seus sentimentos e ideias eram considerados musgos contra a pedra deles. Meses de frustração reprimida colocadas pra fora.
— Você me disse para esperar. O que é que a espera nos trouxe? Quando estou lá fora, estou à procura dele. Estou seguindo pistas. Estou trabalhando para conseguir Kalyaan de volta.
— Kavik, por favor —, implorou a sua mãe. — Por favor, pare.
Pare de nos magoar, seus rostos falaram. Pare de partir nosso coração. Não podemos te perder também.
Isto veio em um piscar de olhos. Quando que ele tinha levantado as mãos pro ar? O quão barulhento ele estava sendo? Ele corou de arrependimento e vergonha. A sua mãe e o seu pai eram amorosos, bondosos, pacientes com ele além do normal. Perder o controle foi um fracasso da sua parte ao tentar agir de forma madura.
Uma batida veio à porta. Graças aos espíritos.
A esta hora do dia, era provavelmente um dos colegas do seu pai, de Nuqingaq, que vinha buscar ou deixar mais papelada.
Kavik e os seus pais certificaram-se de que as suas expressões estavam de volta ao normal, não querendo mostrar quaisquer sinais de luta em frente a um visitante. Eles já estavam em risco com o resto da Tribo da Água, tal como estava.
A sua mãe foi para a entrada principal e a destrancou. A porta abriu-se e ela soltou um grito, o seu estoicismo despojado antes de ter a oportunidade de se acomodar.
— Pelas luzes!
Kavik pensou que ela estava gritando por causa dele. De certa forma, ela estava, porque uma jovem mulher Nômade do Ar estava agora na porta da sua casa.
— Olá. — disse o Avatar. Ela viu Kavik por cima do ombro da sua mãe, e um sorriso cintilante se espalhou pelo seu rosto como uma faca afiada cortando um pedaço de couro. — O meu nome é Yangchen. Posso entrar e falar por um momento?
Yangchem sempre desdobra o Kavik na mentira kkkkk