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A Aurora de Yangchen: Planos Alternativos

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O resto do plano… aconteceu.

 

Línguas formavam palavras, palavras saíam de suas bocas, mas nada de importante era dito. O desafio do Avatar era um pilar de ferro no meio da estrada. Cada pedaço da conversa precisava girar em torno disso.

 

Chegando no fim, Yangchen percebeu o quão grande era o erro que havia cometido. Ela se amaldiçoou de novo e de novo. Provocação estratégica, nada. Foi uma aposta imprudente, estimulada pelo seu orgulho ferido.

 

A sessão terminou com uma segunda rodada de refrescos. Nunca havia bebido um chá tão rápido. Yangchen anunciou que estaria retornando para seu alojamento pelo resto do dia, fingindo esconder uma dor de garganta.

 

— Avatar, peço sua permissão para ficar um pouco. — disse Sidao. — O hall contém alguns artefatos históricos de interesse para mim.

 

O pedido veio fácil, e sua desculpa já estava preparada. Sidao coletou seu salário oficial muitas vezes de propinas das mulheres e homens dessa sala, e ele certamente teve de alisar um ninho inteiro de penas eriçadas. Ela deu a ele sua permissão.
Henshe solicitou para acompanhá-la do lado de fora e ela aceitou. Yangchen caminhou pelo longo corredor lado a lado com Zongdu de Bin-Er, e Boma seguia atrás como um acompanhante de um casal que ponderava um casamento político.

 

— Avatar, eu… ah… — Henshe tentava se equilibrar. — Gostaria que tivesse vindo primeiro a mim com a questão dos navios, no privado. Eu estaria em uma posição melhor para ajudá-la.

 

Ela esteve pensando a mesma coisa. Os Zongdu poderiam ter negociado melhores condições com os Shangs atrás de portas fechadas. Ela e Henshe juntos poderiam ter deixado os mercadores dizerem não no início, e então lascarem sua teimosia gradualmente até que uma nova forma do futuro pudesse ser revelada. Eles poderiam ter fingido que não foi uma chantagem.

 

— Eu lamento a entrega — disse Yangchen. — Mas não o seu conteúdo. Os seus mestres são homens e mulheres tão apaixonados por si mesmos que justificam espremer o povo comum e trair reis.

 

Henshe suspirou, como se isso fosse refutação suficiente. Você simplesmente não sabe como o mundo funciona. 

 

 — É direito de eles cuidarem de si mesmos e de suas famílias.

 

Yangchen sabia como o mundo funciona; é por isso que ela tinha agido da forma que agiu.

 

— Família não é uma desculpa para pisar nos outros, Mestre Henshe.

 

— Bem colocado. Irei fazer o que eu posso para convencê-los de sua sabedoria. — Henshe curvou-se lentamente, de forma profunda, como num gesto completo de respeito ao Avatar.

 

Seu estremecimento na descida trouxe uma onda de pena em Yangchen. Ela poderia, naquele momento, acreditar na afirmação de Sidao sobre a equivalência entre um Avatar e um zongdu.

— Sinto muito por te causar problemas.

 

Henshe deu de ombros e sorriu.

— Solução de problemas. É o nosso trabalho.

 


 

Yangchen esperou até que ele se fosse e acenou para que Boma se aproximasse.

 

 — Eu preciso que você faça algo para mim — Ela sussurrou as instruções no seu ouvido.

 

Os Shangs iriam reagir. Conferir uns com os outros. Se eles iam soprar o vento, ela precisava saber a direção.

 

Os bigodes de Boma se contorcem enquanto ela explicava seu plano.

 

 — Por favor, reconsidere.

 

 — É só escutar. Não é o meu trabalho, como o Avatar? Escutar?

 

Ele teve que oferecer uma quantidade simbólica de resistência às suas manobras para acalmar sua consciência. Ele jurou para os anciões do ocidente que a manteria segura. Felizmente, ela não estava planejando nada tão perigoso quanto lutar contra um espírito gigante armado.

 

— Me diga quando, — disse Boma.

 

— Eu vou. Continue andando.

 

Os dois caminharam pelo corredor abobadado do hall. Um brilho ofuscante entrou pelas janelas, o sol mais alto refletindo na neve. Eles alcançaram a porta que Yangchen memorizou dos planos de construção que Kavik quase roubou antes que ela tivesse a chance. Ela deu uma olhada rápida ao redor, uma vez que estavam protegidos atrás de um vestíbulo.

 

— Agora, — Ela disse.

 

Yangchen tirou seu pesado manto com capuz e o colocou sobre os ombros de Boma. Enquanto ele caminhava na neve, tentou ficar um pouco mais alto endireitando as costas e levantando-se na ponta dos pés. Qualquer um que olhasse do segundo andar veria o Avatar voltando para o seu bisão.

 

O efeito disso… não foi nada bom. A representação que ele exerceu parecia uma Avatar embriagada, e ela falhou em considerar o óbvio. Duas pessoas que saíam eram agora uma só.

 

Ela não teve tempo para lamentar as deficiências de seu plano. Usou a dominação de terra em um pedaço da parede rebocada ao lado dela, mantendo os tijolos juntos como um único painel, para revelar um recanto apertado. Ela deu um passo para dentro e fechou o pedaço de tijolo atrás dela o mais forte que conseguiu.

 

Este túnel de manutenção era o ponto de acesso às condutas subterrâneas que corriam abaixo do salão de reunião original. Em dias passados, o ar quente e a fumaça de uma fornalha antiga fluíam sob os líderes de Bin-Er para mantê-los aquecidos. Yangchen não sabia por que o sistema tinha sido abandonado quando o salão foi reconstruído através de sucessivas gerações. Talvez um problema de custo. Ela abriu a mão num estalo para acender uma chama digna de uma vela e olhou em volta.

 

Ela franziu a testa, uma vez que seus olhos se acostumaram à escuridão. O buraco empoeirado atrás dela estava entre o joelho e a cintura. Os planos eram uma visão de cima para baixo e não faziam menção a esse eixo.

 

Sem problemas… ela se abaixou, amassando suas vestes e seu corpo o máximo que conseguiu, e empurrou suas pernas na fenda. Com uma série de grunhidos, conseguiu colocar todo seu corpo por baixo do chão. Ela tinha o espaço suficiente para rolar sobre sua barriga e começar a engatinhar. A câmara de calor não havia sido limpa antes de ter sido abandonada, então ela teve que atravessar uma camada de fuligem. Sua cabeça bateu em uma das colunas de pedra que sustentavam a camada acima dela. Estas, pelo menos, estavam no mapa. Do ponto de entrada, ela queria ir cinco colunas ao norte, e vinte colunas para o leste.

 

Vinte. Ela teve que se apressar.

 

Teias de aranha fantasmagóricas roçaram no seu rosto e partículas de cinzas passearam pelo seu nariz. Forçando-a a espirrar como um cavalo-avestruz. Tanto Sidao quanto Boma murchariam de vergonha com a indignidade a qual ela estava se submetendo.

 

Por uma boa causa. E eu lembro de fazer coisas mais embaraçosas que essa, muitas vezes.

 

Teoricamente, sua estratégia funcionaria. Inteligência vital havia sido coletada através dos séculos, através da espionagem atrás de cavidades secretas no Templo do Fogo e de telas opacas no palácio da Tribo da Água do Norte. Ela já conseguia ouvir um atendente passar acima dela, murmurando para si mesmo sobre o mau humor que seu mestre estaria mais tarde nesta noite. Mas ela precisava conseguir voltar para a assembleia, e rápido, se quisesse ganhar algum produto de relevância.

 

Suas vestes volumosas e arrastadas se prenderam em uma coluna em ruínas. Yangchen xingou baixinho algumas palavras que tinha escutado nas docas. Ela rolou para o lado e puxou com força sua bainha presa. Houve um chack onde ela esperava ouvir uma lágrima.

 

A lã resistente havia soltado uma seção inteira de argamassa. Seus olhos se alargaram quando uma rachadura percorreu a coluna e atravessou a superfície superior da câmara. Ladrilhos de pedra pesados começaram a cair.

 

Sua luz apagou quando ela trocou a dominação de fogo em uma mão para a dominação de terra com as duas, pegando a alvenaria antes que o barulho a entregasse. Ela conseguiu manter os ladrilhos mais longe, como uma criada num palco de comédia tropeçando em xícaras de chá derramadas, mas o último pedaço veio pra cima dela e terminou sua queda em suas costelas.

 

Yangchen engasgou no escuro. O ladrilho que havia conseguido passar pelas defesas que ela havia sido tão vaidosa não viajou muito longe, mas era pesada e afiada. Pior, a dor era terrivelmente familiar para alguém que não era ela.

 

O tipo certo de dor entregue no momento certo poderia derruba-la, não importa quantos exercícios da Abadessa Dagmola tenha realizado naquela manhã. No vazio da câmara, não havia visão ou som do presente para que ela pudesse se agarrar. O ar cheio de calcário arranhou sua garganta crua. Seu coração bateu contra as paredes de seu peito, tentando se libertar.

 

— Você não — ela ousou sussurrar, deixando de lado a necessidade de fazer silêncio. — Você não. Você não.

 

Ela não sabia de quem era o terror que a deixou paralisada, de quem eram memórias que a deixaram encaixotada, mas isso não importava. Era pura matemática. De mil vidas, pelo menos alguns Avatares deveriam ter um medo debilitante de espaços confinados.

 

Eram as unhas deles arranhando a fuligem, procurando apoio. As vozes deles se fechando em um coro de sufoco. Ela lutou para manter o controle. Avatar Yangchen não está com medo de se queimar viva. Você não vai morrer aqui. Você não vai morrer.

 

Mas ela havia morrido tantas vezes, não havia? O lado ruim de renascer infinitamente, os fins sem fim. Seu corpo e sua mente se lembraram de como era dar o último suspiro. Yangchen prendeu seus braços ao redor do estômago e enrolou-se sobre si mesma, tentando se compactar em uma massa inexpressiva antes que as portas se fechando fizessem isso sozinhas.

 

ACORDE.

 

Uma voz de suas próprias memórias. Não a de um dos Avatares anteriores.

 

A voz de Jetsun.

 

ACORDE.

 

Suas próprias memórias. Aquele menino da Tribo da Água do Norte que tentou se rastejar através das paredes de seu quarto não ficou preso dessa mesma maneira? Ele havia sobrevivido. O nome dele era Kavik e havia sobrevivido à sua provação. Ela estava bastante certa.

 

Ela piscou devagar. Ninguém mais no ciclo conheceu o ladrão chamado Kavik. O nome do menino era Kavik, ele tinha bons dentes, e ela tinha segurado suas mãos congeladas até que elas aquecessem. Yangchen tinha feito aquilo. Seu nome era Yangchen, e ela não tinha medo de lugares apertados mais do que tinha de alturas elevadas. Ela respirou fundo e engasgou com a poeira. Certo. Ela estava no meio de embaraçar a si mesma pelo bem do dever. Quem, além da Yangchen, poderia ser?

 

O acesso ao medo de outra pessoa havia custado seu tempo. Segundos, horas, ela não podia ter certeza. Ela descobriria assim que chegasse ao lugar que estava indo. Estendendo a mão para julgar o espaço, se alinhou para a direção que julgava ser o leste. Ela já tinha feito esse truque antes, através dos pilares de um campo de bola de ar, e Jetsun ficava furiosa com ela por uma semana.
Diga-se que o Avatar que seguiu Szeto era mais imprudente do que temeroso. Yangchen agarrou as colunas em ruínas à sua esquerda e à sua direita e se lançou para a frente, girando como uma flecha com deslocamento de penas.

 

Suas vestes se enrolavam ao redor de seu corpo enquanto ela dominava um jato de ar que evitava que ela colidisse com o chão ou o teto. Ela caiu de costas e derrapou para uma parada. Espantada por não ter arrebentado seus miolos, ela estalou os dedos para criar uma chama de luz e contou as colunas. Ultrapassou por um pouco, mas foi perto o suficiente.

 

Vozes acima dela, o rangido dos bancos, disseram a ela que estava de volta sob o salão da assembleia, onde ela podia ouvir a resposta dos Shangs ao fogo que ela definiu para os seus assentos.

 

Tinha pessoas acima dela, mas pouca conversa. Em um golpe maciço de sorte, ela não tinha perdido muito. Os Shangs estavam esperando, provavelmente por Henshee, cuja voz ela não havia registrado ainda.

 

Ela teria que ser paciente também. Yangchen ficou o mais confortável que pôde e se acomodou para a vez de seu oponente.

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  1. pedra disse:

    Mestra espiã

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Capítulo 12