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A Aurora de Yangchen: Memórias

Todos os capítulos estão em A Aurora de Yangchen
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Kavik, oito anos de idade,  havia amaldiçoado a caçada. Ele tinha certeza disso. Ele esqueceu um de seus amuletos, ou cometeu algum equívoco antes de sair, ou fez os gestos certos para que os espíritos, mas sem o respeito devido em seu peito. E agora ele e Kalyaan estavam separados dos demais, envoltos naquela nevasca terrível que os abordou como um predador.

 

Era culpa dele. Ele chorava, suas lágrimas congelando em seu nariz. Sua tristeza lhe conquistou um plap! Do estalo de uma luva em seu rosto.

 

— Não, — Kalyaan disse, com seu tom firme. — Nós vamos ficar bem.

 

Aquilo foi antes do estirão de crescimento de Kavik, e seu irmão mais velho já era um gigante, que poderia bloquear aquele céu pesado sozinho. Os dois caminharam com dificuldade na direção em que acreditava ser a de casa, até que a neve se tornasse bem mais pesada. Kalyaan fez para eles um pequeno abrigo, e passaram a primeira de muitas noites tremendo e com fome.

 

A tempestade só aumentava o tamanho. E través de algumas pequenas pausas, eles conseguiam caminhar, a terra era uma grande folha de papel, exibindo uma branquidão ao invés de algo que indicasse alguma direção. Kavik não saberia dizer quanto tempo passaram perdidos. Eles poderiam estar em um vazio espiritual, um espaço flutuante onde os reinos se encontravam. Kalyaan cortava pequenos pedaços de sua luva e mastigava os pedaços para que se tornassem macios o suficiente para que seu irmãozinho pudesse engolir. Uma medida desesperada para que Kavik tivesse energia para continuar caminhando no frio.

 

Até então, eles retornaram ao acampamento com Kavik caído sobre os ombros de Kalyaan, quase desacordado. Eles haviam sumido por um mês inteiro, quase dados como mortos. Seu irmão mais velho salvou sua vida e o trouxe de volta a seus pais. Simplesmente não havia mais nada que Kalyaan não pudesse fazer, para manter sua família segura.

 

Ele perdeu dois dedos congelados. Os buracos em que abriu suas luvas.

 

— Não se preocupe com isso,  — dizia ao pequeno Kavik tremendo. — Os antigos acreditam que oito é um número da sorte.

 

Kavik se preocupava e muito. Ele havia sido um fardo, as consequências de sua fraqueza estavam cravadas permanentemente em quem ele mais considerava importante. Se convenceu de ser o culpado por todo o azar que ambos vivenciaram, principalmente. A dimensão de tamanha ofensa era imensurável.

 

Desde então, Kavik se perguntava se deveria pagar um preço equivalente, deixando uma parte de seu corpo congelada, assim como aconteceu com Kalyaan. Talvez tenha trapaceado com os espíritos por sobreviver intacto.

 

Parando para refletir, logo naquele momento foi o início de tudo. Quando as dificuldades começaram na caçada pela região, lentamente de início, e então inevitavelmente, falhas atrás de falhas forçavam mais e mais pessoas a atravessar os limites em busca de algo no Reino da Terra e na recém formada cidade Shang.

 

Sua família deixando o Polo Norte, se dissipando aos poucos, Kalyaan os abandonando em seguida, a miséria de Bin-Er — as pegadas poderiam ser diferentes, mas todas viriam da mesma catástrofe que mudava de forma, caminhando por uma trilha intacta do passado ao presente.

 

Kavik só podia culpar a si mesmo.

 


 

O Avatar quem o capturou. Trazendo Kavik aos seus pés com a dominação de ar, uma segunda rajada com as mãos atravessou o lugar, atingindo seu rosto como um tapa.

 

— Você precisa parar de desmaiar em minha pousada, — disse Akuudan.

 

Kavik já não estava mais para provocações. Suas costelas doíam enquanto ele tentava comprimir uma grande quantidade de ar em uma pequena abertura. Yangchen, reconhecendo algo em sua agonia, ergueu sua mão pedindo silêncio aos outros dois.

 

— Respire, — ela dizia ao Kavik. — Respire primeiro, não tente falar até que esteja pronto. — Sua postura era a de um animal experiente, pronto para alcança-lo rapidamente caso a presa perdesse o foco, mas não querendo assustá-la ainda para se aproximar mais e mais.

 

Kavik precisou de cinco minutos até que pudesse explicar a todos o processo e iniciação de subordinados da Chaisee em Jonduri. E como o primeiro a conseguir viajar pelo mar, cortesia de seus esforços, era Qiu, o mesmo Qiu em que Yangchen e kavk haviam plantado informações em uma casa de há em Bin-Er. Eles o mataram. Juntos.

 

Yangchen ficou pálida.

 

— Como isso pode acontecer? Você não disse que seu corretor estava a caminho de Jonduri!

 

— Ele obviamente mudou de ideia depois que falei com ele! — disse Kavik. Qiu poderia ter percebido o esforço no recrutamento de Chaisee, assim como eles, e encontrado uma oportunidade a um preço alto para conseguir as informações que poderia ter em Taku. Exceto que Chaisee farejou uma oportunidade e respondeu da maneira mais extrema possível.

 

— O que faremos?

 

O olhar de Yangchen estava distante, suas bochechas coradas.

 

— O que nós faremos? — Kavik perguntou novamente.

 

— Avatar, — Tayagum falava. — Este é o seu chamado.

 

— Eu não sei. — Seus lábios abriam e fechavam, palavras incompletas que não conseguiam formular uma frase. Se ela tivesse soluções, ela as teria perdido em sua fala.

 

Esta era a versão errada de Yangchen. Kavik precisava daquele planejamento ao qual o tinha sobre uma barreira o tempo todo, como em Bin-Er. Aquela em que estava sempre um passo a frente. Esta garota paralisada, atordoada, ele não reconhecia.

 

— Você não pode não saber! — dizia Kavik a ela. — Sempre seguimos suas ordens e agora duas pessoas estão mortas! Qual é o plano aqui?!

 

Eu disse que eu não sei!  — A resposta de Yangchen fez os papéis flutuarem na sala. — Se você conseguir ficar quieto só por um instante! Tem muito de você! Tem sempre muitos de você e nenhum de vocês sequer consegue parar! Você nunca para!

 

Ela apanhou seu  chapéu e capa e saiu da pausada enfurecida.

 

— Avat… — Akuudan se interrompeu para não revelar sua identidade enquanto a porta ainda estava aberta. Com surpreendente agilidade, ele saltou o balcão com uma só mão.

 

Kavik o seguiu para fora, Tayagun próximo a eles logo atrás. A pousada compartilhava uma fachada com uma estande repleta de mercadorias, na qual muitos dos restaurantes locais se mantinham ocupados. Os clientes carregavam cestas com algumas verduras como repolho e cabaço amargo, junto a algumas frutas como carambolas e papaya. O olhos de Kavik pairavam de cabeça em cabeça. Ele e os demais estavam a apenas alguns passos atrás de Yangchen, ele sabia como seu disfarce se parecia, e ainda assim o Avatar havia sumido. Já aceitaram essa realidade.

 

— Jamais a encontraremos — Akuudan murmurava.

 

Kavik refletia sobre a última vez em que a viu chateada daquele jeito. Foi no Templo de Ar do Norte, quando havia trilhado seu caminho durante uma noite inteira sem dormir, se levantando e caindo por uma floresta de pilares. Não emitia qualquer som além da dominação de ar. E aquilo devia ser bem difícil.

 

Ele teve uma ideia.

 

— Qual é a praia mais barulhenta por aqui? — Ele perguntou.

 


 

O som das ondas abaixo do penhasco junto ao rugido dos tigredilos, era ensurdecedor. A água branca encontrava a marrom, em meio a refluxos arenosos com ondulações na costa. As pedras não eram as maiores ou as mais íngremes e irregulares, mas estavam escorregadias.

 

Kavik avistou um dedo do pé espreitando por trás de uma parte intocada da praia, e de repente pensou que seu palpite estava cada vez mais correto. Descer o penhasco seria difícil; já voltar a subir seria quase impossível para qualquer um que não fosse um dominador de ar.

 

Bem, este será um ato de fé, ele supôs. Kavik tirou suas botas e seguiu abaixo. Ele avançava, e assim que escorregou, congelou suas mãos e pés para que pudesse se manter firme. Através de algumas rachaduras nas pedras, ele traçou seu caminho mais abaixo. Raspou suas pernas e braços algumas vezes durante o caminho, grunhindo cada vez que o sal penetrava nos cortes.

 

Ele colocou o último pé na areia. A dormência em seus pés e mãos haviam passado; Jonduri já era quente demais para proporcionar o mesmo perigo que o frio em Bin-Er. O penhasco acima dele formou um pequeno abrigo, sombreando aquele trecho de praia calma, com meio túnel sobre sua cabeça.

 

Do outro lado estava Yangchen. Seu disfarce estava em uma pilha úmida ao longo, com suas vestes de Nômade do Ar externa mais pesadas. Ela andava  em um pequeno círculo em roupas mais leves, os braços ao lado do corpo e no centro do anel um pequeno redemoinho girou, tornado visível por uma coluna de poeira.

 

Kavik se manteve distante, não querendo interromper uma prática meditativa. Mas ele não precisava se preocupar em não interromper. O pequeno ciclone perdeu sua forma, e Yangchen cambaleou para fora do caminho do círculo.

 

Ela havia falhado no exercício. Encarou o Oceano, e gritou. Punhos apertados, olhos fechados, gritos em sequência de frustrações tão altos que rachariam toda a forma do Avatar.

 

As ondas a deixaram completamente ensopada. Nenhum ser humano poderia se fazer ouvir contra os elementos inflexíveis. Yangchen gritou novamente, uma contorção sem sentido de seus pulmões, e arremessava uma rajada de ar em direção ao mar, criando um canal entre as ondas que se fechava rapidamente, como uma ferida recém tratada. Ela fez de novo e de novo, e apesar do poder inimaginável que ela exercia, abrindo o mar como o centro de um livro, as águas salgadas não deixaram qualquer vestígio de seus atos para trás.

 

Totalmente exausta, desabou em seus joelhos na areia, ofegante. Então olhou para cima, seus longos cabelos chicoteando seus fios pelo rosto, selvagens e desordenados. Ela avistou Kavik.

 

Ela não parecia surpresa dele a ter encontrado, ou envergonhada de ter presenciado sua explosão. Ela se levantou, e enquanto se levantava com esforço, seus olhos vermelhos, a presença dele a trouxe de volta. Yangchen acenou para ele para o mais fundo no recesso de pedra, sob o penhasco.

 

Kavik a seguiu. Havia espaço o suficiente para que eles pudessem ficar por ali. Ela o fez se aproximar mais e mais, e quando estavam na distância de um braço, ela bateu seus pés em uma forma base e poderosa de dominação de terra.

 

O movimento por si só fez uma barreira com a areia em torno dos dois, silenciando o barulho das ondas. Kavik estava admirado. Aquela quantidade de terra se movendo, a sofisticação da ideia, a agilidade em seus atos. Foi fácil esquecer que a garota em pé bem a sua frente era a dominadora mais forte do mundo.

 

Abrindo a palma da mão, segurou uma pequena chama para iluminação.

 

— Você disse que havia outro corpo além do de seu amigo — disse Yangchen, ele conseguia ouvi-la agora.

 

— Um sábio do Reino da Terra, com uma barba curta estilo Nanyan — Disse Kavik. Ele estalou os dedos, se lembrando de algo. — Era aquele homem que se virou contra você. Sidao?

 

— Sidao. — Yangchen cobriu um lado do rosto com as mãos, depois o outro. — Isso significa que ele foi morto também. Eu tenho duas mortes em minhas mãos.

 

Se ela gritasse ali, ensurdeceria ambos.

 

— Você sabe o que nos torna um Nômade do Ar? — ela questionou.

 

Estaria ela dando a ele um Koan? Kavik assumia desde sempre que seria a liberdade para ir a qualquer lugar no mundo. Ele sacudiu a cabeça.

 

— É a habilidade de se sentar calmamente, onde quer que esteja, seja um quarto escuro ou um campo vazio, e simplesmente… sentar. — Yangchen disse. A luz da chama dançava em seus olhos. — Sentar consigo mesmo, sem causar problemas ou machucar mais ninguém. É tudo o que define. A dominação de ar padece em comparação.

 

Ele sabia que ela estava exagerando, mas não muito. Os desejos humanos eram responsáveis pela posição em que eles se colocavam.

 

— Me desculpe — disse Yangchen. Seus lábios vacilavam. — Eu sinto muito pelo seu amigo. O que aconteceu a ele foi minha culpa.

 

Alguns minutos atrás, Kavik poderia concordar de todo o coração, levando em conta de que ele era igualmente culpado, esta mancha marcava a ambos. Mas o ar salgado tinha limpado o fedor de pânico e carne podre de seu nariz, dada tamanha certeza de que nunca mais sentiria o cheiro de outra coisa. Alguém tinha tomado a decisão consciente de acabar com a vida de Qiu. Tratando seus assassinos como uma característica de uma paisagem, tirou a culpa daqueles que mereciam suportá-la por mais tempo.

 

— Iremos partir, – Disse Yangchen. — Não posso mantê-lo em perigo. Traremos você de volta aos seus pais e eu encontrarei sua passagem de saída. Você aguentou o fim do acordo o máximo que conseguiu.

 

— Não.

 

A chama vacilou. Para a surpresa de ambos, Kavik a segurou pelo pulso, como ela havia feito com ele em Bin-Er para avaliar sua honestidade. Ele não estava segurando com tanta força, mas sentia a frequência e o calor daquele pulsar esvoaçante.

 

Como ele poderia explicar? Tinha que haver um ponto entre o acordo, ele queria dizer. O mundo precisava da força de pessoas como Yangchen, quem o entregava sem se dar conta. E quanto mais aprofundava sua conexão com ela, mais ele sentia que estava encontrando os pedaços de si mesmo no qual pensava ter sido arrancados, desde que deixou o Norte.

 

— Esta é uma oportunidade — dizia ele, entretanto. — Eles acreditam ter capturado os espiões do Avatar. Abaixaram a guarda. Temos que continuar.

 

Ela sacudiu a cabeça.

 

— Você ouviu Tayagum. A Chance que você criou é muito alta.

 

— Se quisessem me incluir nisso, já teriam feito. — Nesta manhã foi a oportunidade perfeita para se livrarem de Kavik, haviam algumas suspeitas pairando sobre ele. Eles tinham as engrenagens bem ali. Jujinta com suas facas, dois deles sozinhos em um barco, sozinhos. — Acho que estou limpo.

 

— Você está falando de um golpe duplo que custou duas vidas, — Dizia ela. — nosso caminho de agora em diante será guiado sobre a passagem de duas mortes. Eu não posso buscar justiça por Sidao e Qiu enquanto você estiver em disfarce, pois o único jeito de descobrir sobre eles foi através de você.

 

Yangchen respirou fundo, e a vela improvisada na caverna subia e descia com sua exalação.

 

— Não acho que poderia aguentar se algo acontecesse com você. Eu—eu não posso perder mais nenhum amigo.

 

Kavik não sabia como responder. Ele esperou a resposta perfeita vir até ele.

 

— Vamos dormir com essa.

 


 

Derrubar as barreiras de areia e voltar a praia fez com que eles tivessem de tapar seus ouvidos para se ouvir.

 

— Temos que sair daqui antes que as ondas aumentem, — Disse Yangchen, com suas roupas pesadas nos ombros. — A menos que você queira ser jogado no mar ou no penhasco, eu preciso que você mantenha seu equilíbrio como se estivesse pisando na água. Você precisa se manter na vertical, não caia de bruços ou de costas. Agora levante os braços.

 

Kavik fez o que foi pedido. Yangchen movimentava sua mão livre e o ar começou a se movimentar entre eles. Suas roupas estufaram como massa frita. Seus sapatos deixaram o chão e em seguida, os dedos dos pés.

 

Ela criou um fluxo de ar abaixo dele. Ele conhecia a técnica, visto que era uma forma comum de retratar o Avatar em pinturas, simbolicamente elevados em poder, mas nunca ouviu falar de um dominador de ar criando um ciclone controlado de ar em outra pessoa.

 

— Isso, uh, parece perigoso.

 

— Só se você estiver com medo. — Yangchen rotacionou para formar um vórtex sobre si mesma. Ambos se moviam pelo ar, balançando no olho da miniatura de uma tempestade. A instabilidade dela parecia o movimento de um galho na brisa, a dele, o debater de um peixe fisgado.

 

Eles alcançaram a altura em que uma queda quebraria suas pernas. Ele cometeu o erro de olhar para baixo e foi pego por uma corrente de vento. Kavik girava e girava como um navio em um redemoinho.

 

— Eu estraguei tudo! — ele gritava. — Estou com medo!

 

Yangchen agarrou sua mão e fundiu suas correntes de ar. O ar pressionou junto e ela o abraçou pela cintura. Com apenas uma corrente para se preocupar, eles subiram mais rápido, disparando para cima até a borda do penhasco.

 

O pouso foi mais suave. Todo os pés tocaram o chão ao mesmo tempo. O coração de Kavik pulava de seu peito.

 

— Agora já pode se soltar de mim. — Disse Yangchen.

 

Quando Kavik percebeu que estava abraçando o Avatar com força, sentiu o calor em seu rosto que o fez corar, a empurrando para trás. Ela não teve nenhum esforço para soltá-lo e colocar suas vestes exteriores de volta, ajustando a gola alta e alisando as mangas alaranjadas, como se ela precisasse parecer apresentável.

 

A princípio, ela não seguiu com a capa simples que servira como seu disfarce.

 

— Cubra minha guarda, — disse ela, antes que Kavik pudesse apontar o perigo de alguém identificá-la. — Cuidado com quem vem.

 

O Avatar Yangchen permaneceu no penhasco, ao ar livre, e deu início aos seus deveres. Cantar em memória dos mortos.

 

Kavik ficou de vigia enquanto ela falava com o mar. A Tribo da Água teve seus próprios costumes espirituais para o falecido, mas ele viu um nômade do ar liderar uma procissão fúnebre pelas ruas de Bin-Er uma vez antes. Ele reconheceu a forma como sua única voz se dividiu em muitas, o nariz acompanhando a garganta harmonizando com a língua para dizer os ritos. Depois de algumas repetições, ela fez uma mudança marcante para notas cadenciadas e agudas, uma bela canção sem palavras que ele não conhecia.

 

A voz rica de Yangchen deu à melodia uma base poderosa, até que ela a deixou se arrastar junto ao vento.

 

— Um momento de luto Nanyan ao final, por Sidão, — explicou ela. — O melhor que pude fazer pelo Sidao.  Qual era a origem de Qiu?

 

— Eu não sei. — Kavik piscou algumas vezes, descobrindo lágrimas em seus olhos. — Algum lugar quente. Ele não queria sentir frio nunca mais; por isso deixou Bin-Er.

 

Seu choro contido estremecia agora a sua fala.

 

— Eu nem o conhecia tanto assim. Ele era só… ele era só mais uma pessoa, não é? Ninguém importante. Mas devia ter parentes. Talvez irmãos e irmãs. E eu o fiz desaparecer.

 

Ele sentiu uma mão firme em seu ombro.

 

— Eu o vi com você. — Yangchen disse gentilmente. — E isso significa que ele não desapareceu. Se ele faz parte de minhas memórias, então, por mais estranho que seja pensar, há uma pequena chance de o Avatar das gerações futuras entenderem quem foi Qiu, através de mim.

 

Kavik foi confortado pelo fato de que os humildes poderiam pelo menos ter este lugar na história, ao lado dos exaltados.

 

— Eu não sei por que estou agindo assim. — Ele enxugou o rosto com a parte de trás do pulso. — Nós nem éramos tão próximos.

 

— Você não precisa ser próximo de alguém para saber que merecem algo melhor. — Disse Yangchen. — É isso que significa ser o Avatar. É isso o que significa ser parte da vida de um Avatar. Nós lutamos por pessoas que não conhecemos e nunca iremos conhecer.

 

O peso de suas palavras foram um conforto para onde poderia ocupar um fardo.

 

— Eu faço parte da sua vida? — perguntou Kavik. Ele sabia o que tinha dito aos pais, mas era diferente. — Quer dizer, eu sou mesmo?

Yangchen sorriu.

 

— Grande parte do mundo acredita que eu escolho quem me segue e quem não, quando nada poderia estar mais longe da verdade. Você está me perguntando se faz parte da minha vida? A escolha é sua, Kavik. E sempre foi.

 

Levou um tempo, mas Kavik finalmente entendeu.

 

— Eu sei o que escolhi — Disse ao Avatar.

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Capítulo 25