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Contos do Nevoeiro: Koh e a Mãe dos Rostos

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ÁUDIO SÉRIE

 

 


 

 

NOVELIZAÇÃO

 

Sons de mar, navios, gaivotas ao fundo.

 

— A gente tá chegando? — Izumi perguntou, sua curiosidade de criança misturada com impaciência.

 

— Ainda não. — Mai respondeu, a voz tranquila contrastando com a inquietação da filha.

 

— Ai, por que o titio tinha que morar tão longe? — Izumi não conseguiu esconder sua frustração.

 

— Não dá pra ter paz e tranquilidade perto da capital, filha. E o tio Iroh precisava muito disso. — Zuko explicou, tentando fazer sua filha entender a situação.

 

Izumi bufa, irritada.

 

— Ai, tá bom! — Ela finalmente cedeu, mas não totalmente satisfeita.

 

Alguns segundos de silêncio, apenas o som das ondas preenchendo o ar.

 

— A gente já tá chegando agora? — Izumi voltou à carga, a paciência claramente não sendo uma de suas virtudes.

 

— Izumi, se você não parar quieta eu vou mandar o Koh roubar seu rosto. — Mai ameaçou, meio em tom de brincadeira, meio sério.

 

Izumi dá um gritinho assustado e corre para o colo do pai.

 

— Papai, papai, a mamãe quer roubar o meu rosto! — Ela procurou refúgio nos braços de Zuko.

 

— Calma, vocês duas. Ninguém vai roubar o rosto de ninguém. E se roubar… Nós vamos conseguir um novo pra você com a Mãe dos Rostos. — Zuko tentou acalmar a situação, introduzindo um novo elemento à conversa.

 

— Mãe dos Rostos? — Izumi perguntou, curiosa.

 

— Ah, você não conhece essa história ainda? — Zuko viu a oportunidade perfeita para uma nova história.

 

— Não! Me conta, papai? — Izumi implorou, já esquecendo a ameaça anterior.

 

— O que acha, Mai? — Zuko consultou a esposa.

 

— Bom, vai deixar ela entretida. — Mai concordou, sabendo o poder das boas histórias.

 

— Vamos lá então… — Zuko começou, pronto para mergulhar em mais uma das muitas histórias que compõem a rica tapeçaria do mundo em que vivem.

 


 

Muitos conhecem a história de Koh, o espírito ladrão de rostos. Uma entidade tão antiga quanto o próprio mundo, quanto os espíritos da água e os dragões do fogo. Todos sabem que ele roubou o rosto da amada do Avatar Kuruk, levando-o a uma vingança que resultou em sua morte. Também sabem que o Avatar Aang o procurou em sua busca pelos espíritos Tui e La e quase teve o rosto roubado. Mas o que poucos sabem é sua origem.

 

Koh não nasceu de forma espontânea como a maioria dos espíritos. Ele tinha uma mãe. Não se sabe seu nome verdadeiro, mas os que a conhecem a chamam de “Mãe dos Rostos.” Enquanto Koh tem o poder de roubar rostos humanos para si, a Mãe dos Rostos é capaz de dar um rosto novo a qualquer pessoa que procurá-la. 

 

A Mãe nem sempre aceita dar novos rostos aos humanos, mas tem um coração bondoso e voltado para o bem. Mas seu filho era o oposto. Enquanto a mãe se recolhia nas profundezas do Vale do Esquecimento, ele viajava pelo mundo humano, entregando justiça àqueles que considerava malfeitores e respondendo perguntas daqueles que fossem corajosos o suficiente para encará-lo. 

 

Essas diferenças fizeram com que mãe e filho se afastassem. Ele assumiu o nome Koh para si e os dois se separaram de vez.

 

As histórias sobre Koh geralmente são assustadoras, mas a Mãe dos Rostos está cercada de amor e esperança. Diz a lenda que ela fabrica rostos para criaturas vivas desde o início dos tempos, sempre deixando uma parte de si em cada um. As próprias ideias de separação e identidade teriam surgido por conta dela. 

 

Os humanos nem sempre ficam satisfeitos com os rostos que recebem, mas mesmo assim, uma vez a cada estação, ela segue o caminho que seu espírito-lobo traça até o Vale do Esquecimento e concede um novo rosto a um humano que encontrá-la. Ela fez isso por muitos séculos, mas tem uma história em específico que se destaca.

 

Há algumas décadas, havia um jovem casal na vila de Hira’a. Eles eram completamente apaixonados um pelo outro, e a vila toda podia ver como o amor dos dois transbordava. Infelizmente, a garota foi obrigada a se casar com outro homem e o garoto, Ikem, foi deixado sozinho. 

 

Continuar na vila sem ela era muito difícil. Todos ali os conheciam como um casal. Ele não podia mais continuar assim, então decidiu viver como eremita. 

 


 

— Eremita? O que é isso? — Izumi questionou, sua curiosidade novamente despertada pela história do pai.

 

— É uma pessoa que vive sozinha, viajando pelo mundo. — Zuko explicou, simplificando o conceito para sua filha entender.

 

— Como a tia Azula? — Izumi fez a conexão, tentando entender melhor.

 

— É… mais ou menos. — Zuko concordou, hesitante, antes de decidir continuar a história. — Vamos continuar…

 


 

O que o homem menos esperava era que em uma de suas jornadas encontraria o único espírito que poderia resolver seus problemas. A Mãe dos Rostos simpatizou com a história do rapaz e lhe concedeu um novo rosto, permitindo que ele retornasse à vila com uma nova aparência e uma nova identidade.

 

Mas o destino é uma coisa engraçada e o verdadeiro amor fala mais forte que qualquer lei ou política. Anos mais tarde, a amada de Ikem retornou à vila, procurando seu antigo amor. Mesmo com a aparência transformada, o reconheceu pela personalidade e o espírito. Estavam juntos novamente, mas não por muito tempo.

 

A mulher agora tinha filhos, um garoto e uma garota. Por mais que não amasse seu marido, ela não podia deixá-los. Mas havia algo que ela podia fazer. Se tivesse um novo rosto e uma nova identidade, poderia ficar com seu amado e visitar os filhos sem que eles a reconhecessem. Ela concordou em buscar a Mãe dos Rostos e os dois partiram juntos rumo ao Vale do Esquecimento.

 

O espírito ficou surpreso a ver que uma jovem tão bela desejava trocar de rosto, mas logo entendeu suas motivações. A Mãe dos Rostos se dispôs a dar um novo rosto à mulher, que aceitou o que tinha a aparência mais comum sem pestanejar, ansiando por sua liberdade. Mas o espírito lhe garantiu que um rosto novo não tiraria sua dor e não consertaria os erros do passado. Então, fez uma oferta: não só conceder um novo rosto, mas apagar toda a dor e sofrimento do passado da mulher, às custas de suas memórias. 

 

A mulher hesitou em aceitar. Não queria esquecer seus filhos, mas as memórias de seu passado eram tão dolorosas que a possibilidade de apagá-las e viver livremente com quem amava era o mais próximo que ela conseguia imaginar do paraíso. Depois de muito ponderar, ela aceitou a proposta, e assim se transformou de Ursa em Noriko.

 


 

— Espera! A mulher era a vovó?? — Izumi interrompeu, surpresa com a revelação.

 

Zuko ri de leve.

 

— Sim, era a vovó. — confirmou Zuko, a alegria evidente em sua voz ao compartilhar a história.

 

— E como é que você encontrou ela então?? — Izumi estava agora completamente envolvida na história.

 


 

Com a ajuda de dois viajantes da Tribo da Água, eu e meus amigos conseguimos encontrar a Mãe dos Rostos. Como de costume, ela disse que concederia apenas um desejo, e nós tínhamos dois pedidos a fazer. Eu queria encontrar minha mãe e os viajantes queriam uma nova aparência, para o mais novo deles. Mesmo com a argumentação do Avatar, o espírito não cedeu. Apenas um desejo por estação.

 

Graças à sua tia Azula, conseguimos descobrir a real identidade da minha mãe, mas não podíamos ir embora sem ajudar os viajantes. Meus amigos lutaram contra os animais espirituais enquanto tentavam convencer a Mãe dos Rostos, mas ela permanecia impenetrável. Isso é, até o viajante revelar que seu rosto havia sido roubado. 

 

Ao ver o mal que seu filho havia causado, a Mãe dos Rostos concordou em realizar um segundo pedido e dar um novo rosto ao homem. Depois de conversar um pouco mais com o Avatar, ela concluiu que era sim possível que Ursa superasse sua dor mesmo com suas lembranças, e concordou em devolver suas memórias também. Foi por culpa dela que perdi minha mãe, mas também foi graças a ela que a recuperei quando mais precisava. 

 


 

— Então não se preocupe, Izumi, se Koh roubar o seu rosto, eu farei a Mãe dos Rostos devolvê-lo, tudo bem? — Zuko concluiu, garantindo à filha um final feliz, independentemente das adversidades que pudessem enfrentar.

 

Nesse momento, um marinheiro interrompeu, anunciando a aproximação da costa do Reino da Terra, trazendo a história de Zuko a um desfecho perfeito.

 

— Eba! Finalmente! — Izumi celebrou, a promessa de novas aventuras brilhando em seus olhos.

 

Mai ri de leve, compartilhando a alegria da filha e o sucesso da história em mantê-la entretida durante a viagem.

— É, a história realmente funcionou. — Mai reconheceu, satisfeita.

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