Meu pai deve ser impedido. Não consigo acreditar que demorei tanto tempo para entender isso. Durante anos, pensei que apenas meu pai poderia restaurar minha honra. Como fui ingênuo! Mas agora, finalmente, estou no caminho certo. Luto ao lado do Avatar e seus amigos.
Nos escondemos na Ilha Ember, local de férias da minha família há vários anos, quando ainda éramos uma família de verdade. Agora, este lugar se torna o último em que nos procurariam. O Cometa de Sozin está próximo, e Aang precisa estar preparado. É minha missão ajudá-lo a derrotar meu pai.
O treinamento de Aang não vai bem. Ele hesita. Seus ataques são indiferentes. Ele não pode se dar ao luxo de hesitar em nenhum ataque quando enfrentar meu pai.
— Mais ferocidade! — eu disse. — Imagine que está atacando o coração de um oponente. Deixe-me ouvir você rosnar como um tigredilo!
O que foi aquilo? Soou mais como um arroto do que um rugido. E suas chamas são tão fracas que não espantariam nem uma mosca.
— Isso soou patético! — Gritei. — Eu disse para rosnar!
— Grrrr!
Finalmente, chamas de verdade! Estamos chegando a algum lugar. Aang só precisa manter essa energia e continuar trabalhando. Oh, aqui vem Katara. Por que ela está trazendo uma bandeja de suco de melancia? Ele não precisa de refrescos; ele precisa se concentrar. Ótimo, lá se vai a energia.
Isso é ridículo. Estão todos curtindo como se estivessem em uma festa na praia, como se não houvesse nada importante para fazer, agindo como crianças irresponsáveis. Ele tem que enfrentar o Senhor do Fogo em três dias!
Vou mostrar a Aang como ele se sentirá ao estar cara a cara com o Senhor do Fogo. Vou dobrar uma chama tão forte e intensa que ele não saberá o que o atingiu.
WHOOSH! Isso vai fazê-lo lembrar de como se defender.
— Prepare-se para um aperto antes de eu te jogar telhado afora! — Disse a mim mesmo.
É isso aí, venha, fique zangado!
— Basta! — Aang gritou. BOOM!
Ai. Ele realmente me jogou contra a parede. Ao menos ele está ficando zangado.
— O que há de errado com você? — Katara reclamou. — Você poderia ter machucado o Aang.
Poderia ter machucado o Aang? Eles ainda não entenderam.
— O que há de errado comigo? O que há de errado com todos vocês? Como vocês podem ficar sentados aí o dia todo, fazendo festa na praia enquanto o Cometa de Sozin está a três dias de chegar?
Ninguém tem nada a dizer sobre isso, hein? Por que todos são tão complacentes?
— Sobre o Cometa de Sozin — Aang disse. — Eu iria esperar o cometa chegar, e então iria lutar com o Senhor do Fogo.
Como eles não me contaram seus planos? Pensei que confiassem em mim. Mas talvez eu também esconda algo deles.
— A vantagem de lutar com o Senhor do Fogo antes do cometa chegar é parar a Nação do Fogo antes de eles ganharem a guerra — Katara anunciou. — Mas eles já ganharam quando tomaram Ba Sing Se. As coisas não podem ficar piores.
Preciso contar a eles tudo o que sei — agora. Não posso acreditar nisso… finalmente tenho amigos, mas assim que eu contar sobre isso, eles vão voltar a me odiar.
— Você está errada. Pode ficar pior do que você jamais imaginou.
No dia antes do eclipse, assisti a um conselho de guerra. Meu pai finalmente tinha me aceitado de volta! Ele me recebeu na frente de todo mundo e me convidou para um assento ao seu lado direito. Curvei-me e olhei para o meu lugar. Então o General Shinu me deu um relatório sobre a situação da ocupação em Ba Sing Se. Ele informou que rebeliões de dobradores de terra eram frequentes e comuns.
Para minha surpresa, meu pai se virou para mim e perguntou o que eu achava que deveríamos fazer. Eu disse a ele que as pessoas do Reino da Terra são orgulhosas e fortes, e que elas podem suportar muito e ainda assim teriam esperança. Quis dizer isso como um elogio a eles. Mas ele interpretou de outra maneira. Jurou que, quando o cometa chegasse, lançaria uma nova guerra sobre as nações. Disse que queimaria tudo até o chão. Que nada sobreviveria… exceto as cinzas e um novo mundo que nasceria. Um mundo onde todas as terras seriam da Nação do Fogo, e ele seria o governador supremo.
Aí está. Eu disse. Só gostaria que alguém dissesse algo, qualquer coisa… Eles estão em choque, e eu não os culpo. Eu não os culpo por me odiarem. Eu deveria ter ficado até ele…
— O que eu vou fazer? — Aang perguntou, assustado.
Ok, aqui está minha chance. Tenho que fazer minha parte.
— Eu sei que você está com medo. E sei que você não está pronto para salvar o mundo. Mas se você não derrotar o Senhor do Fogo antes do cometa chegar, não haverá mais salvação.
— Aang — Katara disse suavemente. — Você não tem que fazer isso sozinho.
— Sim — ecoou Toph. — Se lutarmos contra o Senhor do Fogo juntos, teremos uma chance de vencê-lo.
— Encarar o Senhor do Fogo será a coisa mais difícil que já fizemos juntos — Aang disse. — Mas eu não quero fazer isso de outra maneira.
Bem, pelo menos ele está sorrindo agora. Eles estão todos reunidos ao redor dele… Surpreende-me ver como estão unidos. Quer dizer, eles estão literalmente dispostos a fazer qualquer coisa, a se ajudarem, enquanto minha própria irmã, minha própria carne e sangue… E agora eles estão se abraçando como… como uma família. Acho que isso é algo que eu nunca experimentei…
— Venha aqui, Zuko — Katara chamou. — Fazer parte do grupo também significa participar dos abraços em grupo.
Woo-hoo! Quero dizer, acho que posso me acostumar com abraços em grupo.
Com sua energia renovada, Aang retoma seu treinamento. É hora de eu ensinar a ele o movimento mais complexo e perigoso: redirecionar um raio.
— Você nunca redirecionou um raio? — Aang perguntou.
— Uma vez, contra meu pai — respondi. Lembro-me como se fosse ontem. Foi logo após eu contar a ele que partiria para ajudar o Avatar. Ele já tinha me banido uma vez. Desta vez, ele quis me matar. Mas redirecionei seu raio contra ele e fugi. — Você sente tanto poder fluindo pelo seu corpo, mas sabe que se fizer um movimento errado, tudo acaba. Aang, você terá que enfrentar a vida do Senhor do Fogo… antes que ele tire a sua.
Numa batalha tão importante, contra um inimigo tão implacável quanto meu pai, essa é a única maneira. Todos parecem entender isso, mas conheço Aang. Acho que ele ainda acredita que há outro caminho. Mas não há. Preciso fazê-lo ver isso.
Agora, estamos todos planejando ajudar Aang a enfrentar o Senhor do Fogo. Sokka criou um exercício de treinamento em equipe. Parecia ridículo no início. Ele montou um espantalho tosco como réplica do meu pai. Nós o chamamos de Senhor do Melão porque sua cabeça era um melão com um rosto cortado nele. Conforme Sokka descrevia o plano, tudo começou a fazer sentido.
O exercício que ele propôs foi simples, com uma corda, mas quando chegou a hora de Aang derrotar o Senhor do Melão, ele não conseguiu. Toda essa situação é extremamente frustrante. Quero dizer, como podemos dizer ao Avatar o que fazer? Mas, ao mesmo tempo, se ele não ouvir nosso conselho, o mundo será destruído! A única maneira de acabar com esta guerra é acabar com a vida do Senhor do Fogo.
Ficamos reunidos para jantar, mas ninguém realmente falou muito. Então, começamos a conversar sobre a guerra novamente. Aang continuou defendendo sua posição, dizendo que os monges lhe ensinaram o valor da vida humana. Como se o resto de nós não entendesse isso? Isso é exatamente o que estamos tentando fazer — preservar a vida! Tentei ser razoável com ele. Entendo que ele não quer sair por aí erradicando pessoas só porque é o Avatar e pode fazer isso. Ninguém jamais pediria que ele fizesse isso! Mas se ele não enfrentar meu pai, não haverá nenhuma vida para preservar… Simplesmente não consigo acreditar que ele seja tão ingênuo a respeito.
— Ninguém entende a posição em que estou! — Aang gritou.
— Aang, nós entendemos — Katara respondeu. — E estamos tentando ajudar.
— Se houvesse uma maneira de eu derrotar o Senhor do Fogo sem tirar sua vida, eu adoraria ouvir — ele disse.
Ótimo, agora ele saiu. — Deixe-o ir — eu disse a eles. — Ele precisa resolver isso sozinho.
Aang tem um ponto. Esta não é uma decisão que se toma levianamente — por nenhum de nós. E ninguém pode tomar essa decisão por ele. Tem que vir dele, por conta própria.
Todos nós acordamos cedo esta manhã para preparar nossa viagem para enfrentar o Senhor do Fogo, e Aang estava em lugar nenhum! Procuramos por toda parte. Seus pertences pessoais ainda estavam aqui, então ele não deve ter ido longe. Ele nunca deixaria o Appa ou qualquer um de nós para trás. Encontramos algumas pistas levando à praia e entrando no mar, então parece que ele foi dar um passeio e continuou indo até alcançar a água. Mas isso não faz sentido!
— O que vamos fazer, Zuko? — Katara perguntou.
— Por que todos estão olhando para mim? — De repente, sou o responsável aqui? Quero dizer, acho legal ser confiável e visto como um líder, mas para onde eu os levaria?
— Bem, você é bom em caçar o Aang — Katara apontou.
Ah, certo. Ei, sei quem pode nos ajudar a encontrá-lo!
Levei todos ao Reino da Terra para encontrar June, a caçadora de recompensas que havia contratado uma vez para encontrar Aang, junto com seu Shirshu, Nyla. Segundo June, Aang se foi, mas não está morto, seja lá o que isso signifique. Não faz sentido, e ninguém, incluindo June, pode explicar o que isso significa.
Precisamos de outro plano, e rápido. O cometa chega em dois dias! Se June e Nyla não podem encontrar Aang, ninguém pode. E se Aang não vai enfrentar o Senhor do Fogo, só há outra pessoa que pode: Tio Iroh. Apesar do que aconteceu da última vez que o vi, preciso ir até ele. Ele é nossa única esperança agora.
Agora, June está me levando até meu tio. Não consigo acreditar que estou indo ver meu tio novamente. Mas será que ele ainda quer me ver? Ele deve me odiar depois de tudo que fiz. Espero que ele tenha bondade suficiente para me perdoar.
— Ele está além do muro — disse June de repente, apontando para uma das paredes da arruinada Ba Sing Se.
É isso; tudo o que nos separa é aquele muro. Mas já é tarde, e todos estão cansados. Teremos que acampar aqui esta noite e esperar até a manhã para encontrar Tio Iroh.
Que barulho é esse? Que horas são? Já é de manhã? Opa… Estamos cercados!
— O que está acontecendo? — Ouvi Toph dizer. — Estamos cercados por idosos.
Idosos? Ok, talvez não tenhamos que lutar…
— Pakku! — Ouvi Katara gritar.
Ufa! Essas pessoas não são inimigas — são amigas. É um grupo de grandes mestres. Aquele homem é Pakku, mestre Pakku da Tribo da Água. Nossa, realmente tem muitos deles…
— Estamos todos do mesmo lado, de uma antiga sociedade — disse outro ancião.
— Um grupo que transcende a divisão das quatro nações…
— A Ordem da Lótus Branca! — exclamei.
É claro! Não posso acreditar que não pensei nisso antes. Tio Iroh costumava falar sobre ela o tempo todo. Havia tantas coisas que ele disse que eu não dei a devida atenção… Se não tivesse sido tão fechado, teria aprendido muito mais.
— A Lótus Branca é sobre filosofia, beleza e verdade — explicou outro mestre. — Mas cerca de um mês atrás, recebemos um chamado de que todos nós éramos necessários para algo muito importante…
— Ele veio do Grande Lótus — Pakku foi interrompido.
— Tio! — eu disse.
— Seu tio — ele confirmou. Iroh da Nação do Fogo!
Claro que ele é o Grande Lótus. Não admira que aqueles caras na taverna nos deixaram entrar e se esconder. Espero que ele seja realmente importante para eles…
Estamos a caminho do acampamento da Lótus Branca. Mal posso me concentrar. Vou finalmente ver o Tio novamente, e mal posso esperar.
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